Tislelizumab (TIS), um anticorpo monoclonal anti-PD-1, demonstrou respostas duráveis e foi bem tolerado como monoterapia no tratamento de segunda linha de pacientes com carcinoma hepatocelular irressecável. Na ESMO 2022, dados finais de estudo randomizado de Fase III demonstram que TIS como agente único apresenta benefício de sobrevida global clinicamente significativo como opção de primeira linha, com resultado não-inferior a sorafenibe nessa população de pacientes. O oncologista Duilio Rocha Filho (foto), chefe do Serviço de Oncologia Clínica do Hospital Universitário Walter Cantídio (UFC-CE), discute os resultados.
Neste estudo global, randomizado, de Fase III (RATIONALE-301) foram inscritos pacientes adultos com carcinoma hepatocelular (CHC) irressecável, virgens de terapia sistêmica, que não foram receptivos ou progrediram após terapia loco-regional, Child-Pugh A, com 1 lesão mensurável (RECIST v1.1), e bom status de desempenho (ECOG PS 1). Os pacientes elegíveis foram randomizados 1:1 para receber TIS (200 mg IV Q3W) ou SOR (400 mg PO BID) até progressão da doença, toxicidade intolerável ou retirada do consentimento. O endpoint primário foi sobrevida global (SG); endpoints secundários incluíram taxa de resposta (ORR), sobrevida livre de progressão (SLP) e duração de resposta (DOR) avaliados por comitê de revisão independente e cego, além de dados de segurança.
A não-inferioridade de SG entre TIS e SOR foi testada contra a margem de não inferioridade de 1,08.
Resultados
Um total de 674 pacientes foram randomizados (n=342, TIS; n=332, SOR). No corte de dados (11 de julho de 2022) o acompanhamento mínimo do estudo foi de 33 meses. Na última análise, o ensaio atingiu seu endpoint primário de não-inferioridade de SG (mOS: 15,9 meses [TIS] vs 14,1 meses [SOR]; HR estratificada: 0,85 [IC 95,003%: 0,712, 1,019]).
O tratamento com o anti PD-1 tislelizumab (TIS) demonstrou respostas duráveis e foi associado a maior ORR (14,3% vs 5,4%) e respostas mais duráveis (mDoR: 36,1 meses vs 11,0 meses) na comparação com SOR. A mediana de SLP foi de 2,2 meses com com TIS e de 3,6 meses com SOR (HR: 1,1 [IC 95%: 0,92, 1,33]). A duração mediana do tratamento foi maior com TIS vs SOR (4,1 meses vs 2,7 meses).
Em relação à segurança, os perfis de segurança para ambos os tratamentos foram consistentes com dados já relatados. As taxas de incidência de eventos adversos (EAs) de grau 3 (48,2% vs 65,4%) e EAs levando à descontinuação (10,9% vs 18,5%) foram menores com TIS em comparação com SOR; EAs que levaram à morte foram baixos em ambos os tratamentos (4,4%, TIS; 5,2%, SOR). EAs imunomediados ocorreram em 5% dos pacientes tratados com TIS, principalmente hepatite (5,3%) e hipotireoidismo (5,3%).
Em conclusão, os autores sustentam que TIS como agente único demonstrou benefício de sobrevida global clinicamente significativo e foi não inferior a sorafenibe, com perfil de segurança favorável como opção de tratamento de 1L para pacientes com CHC irressecável.
Duilio observa que tislelizumabe é um anticorpo anti-PD-1 com atividade demonstrada em diversas neoplasias, como câncer de esôfago e câncer de pulmão não-pequenas células. "O estudo randomizado de fase 3 RATIONALE-302 mostrou que TIS em monoterapia é não-inferior a sorafenibe no tratamento de primeira linha do carcinoma hepatocelular (CHC) avançado. É um resultado semelhante ao observado com durvalumabe isolado, que também se mostrou não-inferior a sorafenibe no estudo HIMALAYA", esclarece.
"Analisados em conjunto, os estudos que avaliam o papel da imunoterapia no tratamento de primeira linha do CHC indicam que a associação de agentes (atezolizumabe + bevacizumabe ou durvalumabe + tremelimumabe) é superior a sorafenibe e está associado a taxas de resposta que se aproximam de 30%. Além disso, mostram que um agente imunoterápico isolado (durvalumabe ou TIS) é não-inferior a sorafenibe, tem taxa de resposta em torno de 15% e melhor perfil de toxicidade que o inibidor de tirosina-quinase, mas é aparentemente menos ativo que uma combinação com imunoterapia", avalia.
"Depreende-se que monoterapia com durva ou TIS pode ser considerada em pacientes selecionados, como os doentes com contraindicação a regimes em combinação, menos aptos ou com função hepática alterada (por exemplo: Child-Pugh B7)", conclui.
Este ensaio (RATIONALE-301) está registrado na Clinical trial.gov: NCT0341277
Referência: S. Qin, M. Kudo, T. Meyer, R.S. Finn, A. Vogel, Y. Bai, Y. Guo, Z. Meng, T. Zhang, T. Satoh, A. Hiraoka, D. Marino, E. Assenat, L.S. Wyrwicz, M. Calvo Campos, K. Hsing-Tao, F. Boisserie, S. Li, Y. Chen, A.X. Zhu. Final analysis of RATIONALE-301: Randomized, phase III study of tislelizumab versus sorafenib as first-line treatment for unresectable hepatocellular carcinoma. ESMO Congress 2022, LBA36