OvarioNo estudo de Fase 3 SOLO1/GOG 3004, a terapia de manutenção com o inibidor da PARP olaparibe proporcionou um benefício de sobrevida livre de progressão sustentado em pacientes com câncer de ovário avançado recém-diagnosticado e mutação BRCA1/2. Agora, resultados de sobrevida global após um acompanhamento de 7 anos, o mais longo para qualquer inibidor de PARP no cenário de primeira linha, apoiam o uso de olaparibe de manutenção para alcançar remissão em longo prazo neste cenário. O estudo foi apresentado por Paul A. DiSilvestro, diretor do Program in Women’s Oncology no Hospital of Rhode Island and Care New England Health System, e publicado simultaneamento no Journal of Clinical Oncology (JCO).

“O objetivo final do tratamento em mulheres recém-diagnosticadas com câncer de ovário é a cura. No entanto, a doença geralmente está avançada no momento do diagnóstico e aproximadamente 70% dos pacientes que recebem cirurgia citorredutora seguida de quimioterapia à base de platina de primeira linha recidivam em 3 anos, com uma sobrevida de 10 anos de 17% em pacientes com doença avançada. O câncer de ovário avançado recidivado é tipicamente incurável, destacando a necessidade de tratamentos eficazes de primeira linha que retardam a recidiva, prolongam a sobrevida e aumentam o potencial de cura”, contextualizam os autores.

Este estudo duplo-cego de fase III (NCT01844986) randomizou pacientes com câncer de ovário avançado recém-diagnosticado e mutações patogênicas em BRCA em resposta clínica à quimioterapia à base de platina para olaparibe de manutenção (300 mg duas vezes ao dia; n = 260) ou placebo (n = 131) por até 2 anos.

Aos 5 anos de acompanhamento, a mediana de sobrevida livre de progressão foi de 56,0 meses com olaparibe vs 13,8 meses com placebo (HR 0,33; 95% CI 0,25 e 0,43); 48% versus 21% dos pacientes, respectivamente, estavam livres de progressão (estimativas KM) (Banerjee et al. Lancet Oncol 2021). Como a maioria das mortes por câncer de ovário ocorre 5 a 10 anos após diagnóstico, os pesquisadores relataram no ESMO 2022 os resultados de sobrevida global do estudo em um follow up de 7 anos, um ponto de tempo clinicamente relevante.

Resultados

A mediana de duração do tratamento foi de 24,6 meses com olaparibe e 13,9 meses com placebo, e a mediana de acompanhamento foi de 88,9 e 87,4 meses, respectivamente. O hazard ratio para sobrevida global foi de 0,55 (95% CI, 0,40 a 0,76; P = 0,0004 [P < 0,0001 necessário para declarar significância estatística]). Aos 7 anos, 67% dos pacientes com olaparibe versus 46,5% dos pacientes com placebo estavam vivos e 45,3% versus 20,6%, respectivamente, estavam vivos e não haviam recebido um primeiro tratamento subsequente (estimativas de Kaplan-Meier). A incidência de síndrome mielodisplásica e leucemia mieloide aguda permaneceu baixa, e novas neoplasias primárias permaneceram equilibradas entre os grupos de tratamento.

Em conclusão, os resultados indicam uma melhora clinicamente significativa, embora não estatisticamente significativa de acordo com critérios pré-especificados, na sobrevida global com olaparibe de manutenção em pacientes com câncer de ovário avançado recém-diagnosticado e mutação em BRCA, e apoiam o uso de olaparibe de manutenção para alcançar remissão a longo prazo neste cenário; o potencial de cura também pode ser aumentado. Não foram observados novos sinais de segurança durante o acompanhamento a longo prazo.

“No estudo SOLO-1, pacientes com câncer de ovário avançado e mutações patogênicas em BRCA1/2 foram randomizadas para a terapia de manutenção com olaparibe ou placebo, com ganho em sobrevida livre de progressão apresentado previamente. Não foi demonstrado ganho estatisticamente significante em termos de sobrevida global (SG), apesar da diferença ser expressiva (mediana não alcançada vs 75,2%; HR 0,55; IC 95% 0,40 – 0,76). Apesar de não alcançar a significância estatística, o benefício é importante e sustentado, sendo que em 80 meses 67% das pacientes que receberam olaparibe estão vivas vs 46,5% das pacientes no braço placebo”, avalia a oncologista Maria Del Pilar Estevez Diz (foto), Coordenadora da Oncologia Clínica do ICESP.

A oncologista observa que o tempo para o primeiro tratamento subsequente foi superior no grupo que recebeu olaparibe (64,0 m vs 15,1 m). “A taxa de crossover foi elevada neste estudo, com 44,3% das pacientes no grupo placebo recebendo a PARPi na progressão, contra 14,6% do braço olaparibe. A sobrevida mediana ainda não foi alcançada, e este fato pode ter contribuído para que o benefício numericamente expressivo não tenha sido traduzido em significância estatística”, conclui.

Table: 517O

OS

Olaparib

 

Pbo

 

N=260

N=131

Median f/u, m

88.9

87.4

Events, n (%)

84 (32.3)

65 (49.6)

Median OS, m

NR

75.2

HR (95% CI)

0.55 (0.40e0.76)

 

P value

0.0004*

 

7-y OS rate,** %

67.0

46.5

AEs of special interest, n (%)

N=260

N=130***

MDS/AML

4 (1.5)

1 (0.8)

New primary malignancies

14 (5.4)

8 (6.2)

Pneumonitis

5 (1.9)

0

*P<0.0001 required for statistical significance; **KM estimates; ***1 pt randomized to pbo did not receive treatment. AE, adverse event; AML, acute myeloid leukaemia; CI, confidence interval; HR, hazard ratio; KM, KaplaneMeier; MDS, myelodysplastic syndrome; NR, not reached.

O estudo foi finaciado pela AstraZeneca e faz parte de uma aliança entre AstraZeneca e Merck Sharp & Dohme LLC, uma subsidiária da Merck & Co., Inc.

Referência: P. DiSilvestro, S. Banerjee, N. Colombo, G. Scambia, B. Kim, A. Oaknin, M.L. Friedlander, A.S. Lisyanskaya, A. Floquet, A. Leary, G.S. Sonke, C. Gourley, A.M. Oza, A.J. Gonzalez Martin, C. Aghajanian, W.H. Bradley, C. Mathews, J. McNamara, E. Lowe, K.N. Moore. Overall survival (OS) at 7-year (y) follow-up (f/u) in patients (pts) with newly diagnosed advanced ovarian cancer (OC) and a BRCA mutation (BRCAm) who received maintenance olaparib in the SOLO1/GOG-3004 trial. ESMO Congress 2022, Abstract 517O