Estudo observacional brasileiro coletou dados por meio de questionários da Expedição Alma Pantaneira para avaliar os principais fatores de risco para câncer e a adoção de medidas de prevenção secundária em uma população rural na região do Pantanal, nos estados do Mato Grosso (MT) e Mato Grosso do Sul (MS). O trabalho foi selecionado para publicação eletrônica no ASCO 2023. O oncologista Jose Marcio Barros Figueiredo (na foto, à direita) é o primeiro autor do trabalho; Luis Eduardo Zucca é o autor sênior.
Apesar das diretrizes universais do Sistema Único de Saúde (SUS), as medidas de prevenção e rastreamento são desiguais em todo o país. A expedição não governamental e multidisciplinar “Alma Pantaneira”, um dos poucos programas de saúde na região do Pantanal, com uma população rural de 45 mil habitantes, ocorre regularmente há mais de dez anos em uma rota pré-estabelecida.
Nesse estudo, os pesquisadores distribuíram um questionário a seis médicos inscritos voluntariamente. Foram incluídos pacientes de ambos os sexos e maiores de 18 anos. A amostra do estudo foi definida por conveniência, incluindo todos os pacientes atendidos pelo programa entre 18 de novembro de 2021 e 30 de novembro de 2021.
A coleta envolveu 156 pacientes, com idade média de 41,25 ± 13,95 anos, sendo 63,5% homens e 36,5% mulheres. Entre a população estudada, 70,5% se declararam pardos, 10,9% negros e 15,4% brancos. Mais da metade da população, 25,6% e 32,1%, foram classificados com sobrepeso e obesidade grau 1, respectivamente. A comorbidade mais prevalente foi hipertensão arterial sistêmica (HAS) com 23,7%, seguida de diabetes mellitus (DM) com 3,2%. Quando analisados outros fatores de risco, 38,5% da população é fumantes ativo, 3,2% é ex-fumantes e 51,3% é consumidor frequente de álcool.
Em relação ao rastreamento populacional para câncer, 65,9% das mulheres com mais de 25 anos realizaram o Papanicolaou nos últimos dois anos; 42,9% dos homens com mais de 45 anos realizaram exame de PSA, e apenas 5,8% da população com mais de 45 anos realizou colonoscopia. Com relação ao histórico familiar de câncer, identificou-se que 12,3% da população tinham parentes de primeiro e segundo grau com histórico positivo de câncer; 7,7% da população tinha um parente de primeiro ou segundo grau com história de câncer de mama antes dos 50 anos e 5,1% com história de câncer de intestino antes dos 50 anos. Além disso, 4,5% da população tinha 3 ou mais parentes de primeiro ou segundo grau com histórico de câncer antes dos 50 anos.
“O estudo gerou dados epidemiológicos até então não disponíveis na região do Pantanal sobre a prevalência dos principais fatores de risco para o desenvolvimento de neoplasias malignas, bem como medidas de prevenção secundária. O rastreamento populacional para o câncer está abaixo da meta estabelecida pela OMS para os tipos de câncer mais prevalentes. Fatores de risco como tabagismo, etilismo e excesso de peso estão acima da média da população brasileira”, observaram os autores. “É urgente a necessidade de adoção de políticas públicas na população estudada e ampliação do acesso à prevenção, rastreamento, diagnóstico e tratamento precoce do câncer”, concluem.
O estudo foi financiado pelo Instituto Alma Pantaneira.
Referência: Cancer risk factors and screening tests in the Pantanal population, a rural area in Brazil.
First Author: Jose Marcio Barros Figueiredo, MD
Meeting: 2023 ASCO Annual Meeting
Session Type: Publication Only
Session Title: Publication Only: Health Services Research and Quality Improvement
Track: Health Services Research and Quality Improvement
Subtrack: Healthcare Equity/Access to Care
Abstract #: e18526
https://meetinglibrary.asco.org/embargo/record/223877/abstract