O tratamento com terapia de privação androgênica (ADT) pode levar a alterações na composição corporal, incluindo aumento da gordura corporal e diminuição da massa muscular. Para minimizar esses riscos nutricionais, pesquisadores brasileiros avaliaram o benefício de um programa nutricional direcionado a pacientes com câncer de próstata tratados com ADT. O oncologista Paulo Lages (foto) é o primeiro autor do estudo, selecionado para apresentação em pôster no ASCO 2023.
Os pacientes foram recrutados em um centro oncológico localizado em Brasília (DF). Eram elegíveis pacientes diagnosticados com câncer de próstata e prestes a iniciar o tratamento com ADT, avaliados antes de iniciar o tratamento e no acompanhamento após 3 meses. Com base no risco, os pacientes foram instruídos a seguir uma dieta normocalórica (20-25 kcal/kg) ou hipocalórica (18-20 kcal/kg), e ambos os grupos foram obrigados a consumir uma dieta hiperproteica (1-1,2 g/kg). kg), incluindo o uso de suplementação de proteína de soro de leite (whey protein), conforme necessário.
As medidas de resultados incluíram risco nutricional (avaliação global subjetiva gerada pelo paciente; PG-SGA), composição corporal (software médico Lookin'Body120) e força muscular (Jamar Hydraulic Hand Dynamometer). Estatísticas descritivas foram geradas e o teste T pareado, classificação sinalizada de Wilcoxon em amostras pareadas e ANOVA-RM foram utilizados para avaliar mudanças nas variáveis ao longo do tempo.
Resultados
O estudo incluiu 62 pacientes com mediana de 75 anos de idade (variação de 41 a 97), em sua maioria casados (87%). Uma grande proporção de pacientes (65%) foi diagnosticada com doença em estágio IV. 23% dos pacientes foram diagnosticados com risco nutricional moderado a grave no início do estudo; 47% estavam com sobrepeso, 13% eram obesos e 14% apresentavam sarcopenia.
O programa nutricional resultou na manutenção do peso corporal total (mediana 74,1 vs 75,6 kg, P=0,12), peso corporal magro (mediana 29,1 vs 29,4 kg, P=0,11) e força muscular (mediana 30 vs 30 kg, P=0,62), enquanto uma perda estatisticamente significativa de peso de gordura corporal (mediana 22,0 vs 20 kg, P = 0,003) foi encontrada durante o período de 12 semanas. Apesar de nenhuma mudança nas pontuações PG-SGA ter sido observada ao longo do tempo, a taxa de sarcopenia diminuiu (15% vs 13%, P=0,03) e a proporção de pacientes eutróficos aumentou (18% vs 27%, P=0,001), conforme tabela de contingência abaixo.
Os achados sugerem que o programa pode melhorar a composição corporal e manter a força muscular em homens recebendo tratamento com ADT após apenas três meses de intervenção. Estudos futuros devem validar o benefício deste programa em ensaio randomizado com avaliação de acompanhamento mais longo (6 e 12 meses após o início do tratamento.
"O estudo mostra a importância de um planejamento nutricional prévio ao tratamento de deprivação androgênica, uma vez que mesmo em uma população idosa e já com um perfil de composição corporal não ideal é possível reduzir a gordura corporal e aumentar a massa magra, mantendo assim a funcionalidade e qualidade de vida desses pacientes", conclui Lages.
Myopenia | Sarcopenia | Eutrophic | Overweight | Obesity | Total baseline | |
Myopenia | 5 | 0 | 0 | 0 | 0 | 5 (8%) |
Sarcopenia | 1 | 8 | 0 | 0 | 0 | 9 (15%) |
Eutrophic | 0 | 0 | 11 | 0 | 0 | 11 (18%) |
Overweight | 0 | 0 | 6 | 23 | 0 | 29 (47%) |
Obesity | 0 | 0 | 0 | 1 | 7 | 8 (13%) |
Total at week 12 | 6 (10%) | 8 (13%) | 17 (27%) | 24 (39%) | 7 (11%) |
Referência: Nutritional program among patients with prostate cancer receiving androgen deprivation therapy (ADT).
First Author: Paulo Sergio Lages, MD
Meeting: 2023 ASCO Annual Meeting
Session Type: Poster Session
Session Title: Symptoms and Survivorship
Track: Symptoms and Survivorship
Subtrack: Health Promotion
Abstract #: 12072
