Onconews - Estudo do ICESP alerta para malignidades induzidas por RT na síndrome de Li-Fraumeni

Vanessa PetryO câncer de mama é a neoplasia maligna mais comum em pacientes do sexo feminino com Síndrome de Li-Fraumeni (LFS). Essas pacientes apresentam risco aumentado de outros tipos de câncer, incluindo malignidades induzidas por radioterapia (RIM), que ocorrem em um campo previamente irradiado. Estudo do ICESP que tem como primeira autora a oncologista Vanessa Petry (foto) buscou avaliar a frequência de neoplasias induzidas por radioterapia (RT) e a influência da técnica e dose de RT nesta população.

Nesta análise, os pesquisadores avaliaram pacientes com câncer de mama inicial e variante patogênica de TP53, acompanhadas pela Equipe de Câncer Hereditário de um único centro oncológico, entre dezembro de 1999 e abril de 2023. O endpoint primário foi a frequência de RIM entre pacientes tratadas com RT adjuvante.

Foram avaliadas 49 pacientes, com mediana de 39 anos de idade (variação de 21 a 62); 79% eram ER-positivos; 35% HER2 positivo; 35% estágio I e 27% estágio II; e 71% tinham variante TP53 R337H. A maioria das pacientes (87%) desconhecia a LFS no momento do tratamento do câncer de mama.

Quanto ao tratamento, 62% realizaram mastectomia, 66% quimioterapia (neo)adjuvante, e 62% RT. O uso da RT foi mais comum após cirurgia conservadora (87% vs 46% com mastectomia, P = 0,010). Os resultados oncológicos são resumidos na tabela abaixo. Entre 30 pacientes tratadas com RT, 4 (13,8%) desenvolveram RIM no campo irradiado (3 malignidades de tecidos moles e 1 câncer de mama).

A ocorrência de RIM não foi influenciada pela dose de RT (40,8 ou > 40,8), mas foi influenciado pelo tipo de RT (veja tabela), com 100% com RT 2D (n=2/2), 100% (n=1/1) com Arcoterapia Volumétrica Modulada (VMAT), 6% (n = 1/16) com RT 3D e 0% com RT de intensidade modulada (n=0/1) (P=0,007).

“Nosso estudo confirma uma taxa alarmante de RIM após RT adjuvante, destacando a necessidade de uma avaliação criteriosa do risco-benefício para a indicação de RT, que deve ser preferencialmente evitada em pacientes com LFS, sempre que possível”, concluem os autores.

Apesar dos pequeno número em cada subgrupo, o risco de RIM pareceu ser influenciado pela técnica de RT, com maiores taxas com RT 2D e VMAT. Petry e colegas destacam que o teste precoce de TP53 é crucial para orientar o planejamento do tratamento do câncer de mama.

 Ao lado da oncologista Vanessa Petry, participaram do estudo Renata Colombo Bonadio, Karina Moutinho, Luiz Senna Leite, Laura Testa e Maria Cândida Fragoso, além da autora sênior, Maria Del Pilar Esteves Diz.

 

Radiotherapy (n=30)

No radiotherapy (n=18)

P

Local recurrence

2 (6.7%)

1 (5.6%)

1.000

Distant recurrence

5 (16.7%)

1 (5.6%)

0.388

Contralateral BC

5 (16.7%)

2 (11.1%)

0.696

Second neoplasia

15 (50%)

5 (27.8%)

0.226

RIM

4 (13.8%)

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Referência:
328P - 328P Frequency of radiotherapy-induced malignancies in Li-Fraumeni syndrome patients with early breast cancer and influence of the radiotherapy technique