O inibidor de RET selpercatinib demonstrou eficácia no carcinoma medular de tireoide com fusão de RET comparado a inibidores multiquinase. “É uma mudança de paradigma. Podemos considerar, sem dúvida, que selpercatinib é o atual tratamento de escolha para esses pacientes com carcinoma medular de tireoide metastático, com progressão de doença e mutações no gene RET”, diz o oncologista Gilberto Castro, que analisa os resultados do estudo (LIBRETTO-531) apresentado no ESMO 2023 e publicado na New England Journal of Medicine.
Neste estudo randomizado de fase 3, selpercatinib foi comparado com cabozantinibe ou vandetanibe à escolha do médico (grupo controle) como terapia de primeira linha (1L). Os pacientes elegíveis apresentavam doença progressiva documentada 14 meses antes da inscrição. O endpoint primário na análise de eficácia provisória especificada pelo protocolo foi a sobrevida livre de progressão, avaliada por revisão central independente e cega. A transição para selpercatinib foi permitida entre os pacientes do grupo controle após progressão da doença. A sobrevida livre de falha do tratamento, avaliada por revisão central independente e cega, foi um endoint secundário, controlado por alfa, que deveria ser testado apenas se a sobrevida livre de progressão fosse significativa. Entre os outros desfechos secundários estavam a resposta geral e a segurança.
Um total de 291 pacientes foram submetidos à randomização. Em um seguimento mediano de 12 meses, os autores descrevem que a sobrevida livre de progressão mediana, avaliada por revisão central independente e cega, não foi alcançada no grupo de selpercatinib e foi de 16,8 meses (intervalo de confiança [IC] de 95%, 12,2 a 25,1) no grupo controle (razão de risco para progressão da doença ou morte, 0,28; IC 95%, 0,16 a 0,48; P<0,001). A sobrevida livre de progressão aos 12 meses foi de 86,8% (IC 95%, 79,8 a 91,6) no grupo de selpercatinib e de 65,7% (IC 95%, 51,9 a 76,4) no grupo controle.
A mediana de sobrevida livre de falha do tratamento, avaliada por revisão central independente e cega, não foi alcançada no grupo de selpercatinib e foi de 13,9 meses no grupo controle (razão de risco para progressão da doença, descontinuação devido a eventos adversos relacionados ao tratamento ou morte, 0,25; 95 % IC, 0,15 a 0,42; P<0,001). A sobrevida livre de falha do tratamento aos 12 meses foi de 86,2% (IC 95%, 79,1 a 91,0) no grupo de selpercatinib e de 62,1% (IC 95%, 48,9 a 72,8) no grupo controlo. A resposta global foi de 69,4% (IC 95%, 62,4 a 75,8) no grupo de selpercatinib e de 38,8% (IC 95%, 29,1 a 49,2) no grupo controle.
Em relação à segurança, os eventos adversos levaram à redução da dose em 38,9% dos pacientes do grupo selpercatinibe, em comparação com 77,3% no grupo controle, e à descontinuação do tratamento em 4,7% e 26,8%, respectivamente. “O perfil de toxicidade foi bem aceitável, constituindo-se basicamente de diarreia, elevação de transaminases e náuseas. Efeitos mais raros, como edema ou prolongamento de intervalo de QT, precisam ser monitorados, mas a droga é sem dúvida muito bem tolerada”, assegura Castro.
O oncologista Gilberto Castro, chefe da área de Oncologia Torácica e de Cabeça e Pescoço do ICESP, também aponta a superioridade do inibidor de RET em relação aos dados de eficácia. “Com um seguimento mediano de 12 meses, a sobrevida livre de progressão mediana não foi alcançada nos pacientes tratados com selpercatinib, em comparação a 17 meses no braço controle, o que gera um HR de 0,28 ou diminuição de 72% do risco de progressão nesses pacientes, com significância estatística. A sobrevida livre de progressão em 12 meses foi de 87% no braço selpercatinib versus 57% no braço controle, e a taxa de resposta foi de 69 e 39%, respectivamente”, analisa.
Em conclusão, o tratamento com selpercatinib resultou em sobrevida livre de progressão superior e maior sobrevida livre de falha do tratamento em comparação com cabozantinibe ou vandetanibe em pacientes com câncer medular de tireoide com mutação RET.
Este estudo (LIBRETTO-531) está registrado na plataforma ClinicalTrials: NCT04211337.
Referência LBA 3 - Randomized phase III study of selpercatinib versus cabozantinib or vandetanib in advanced, kinase inhibitor naïve, RET-mutant medullary thyroid cancer. October 21, 2023 DOI: 10.1056/NEJMoa2309719