Onconews - QT NEO e omissão de irradiação nodal regional em pacientes com câncer de mama selecionados

Terry Mamounas scaledPara pacientes com câncer de mama que se tornaram linfonodo negativo após quimioterapia neoadjuvante, a omissão da irradiação nodal regional adjuvante não aumentou o risco de recorrência da doença ou morte cinco anos após a cirurgia. Os resultados são do estudo NRG Oncology/NSABP B-51/RTOG 1304, apresentado em General Session no SABCS 2023 por Eleftherios Mamounas (foto), presidente do NRG Oncology Breast Committee.

“Pacientes com diagnóstico de câncer de mama que já se espalhou para os linfonodos regionais podem receber quimioterapia neoadjuvante; em alguns casos, a terapia neoadjuvante erradica completamente o câncer dos gânglios linfáticos. Atualmente, não existe um padrão de atendimento estabelecido sobre como essas pacientes devem ser tratadas após a cirurgia”, afirmou Mamounas. “Há um debate ativo sobre se esses pacientes devem ser tratados como pacientes com doença linfonodal positiva (como foram diagnosticados) ou como pacientes com doença linfonodal negativa (como se apresentam no momento da cirurgia)”, acrescentou.

Para avaliar o impacto da irradiação nodal regional (do inglês, RNI - regional nodal irradiation) nos resultados dos pacientes, Mamounas e colegas conduziram o ensaio clínico de Fase 3 NRG Oncology/NSABP B-51/RTOG 1304. O estudo envolveu 1.641 pacientes com diagnóstico de câncer de mama não metastático linfonodo positivo, cujos linfonodos estavam livres de câncer após quimioterapia neoadjuvante e que foram submetidos a mastectomia ou cirurgia conservadora da mama.

O objetivo foi avaliar se a irradiação da parede torácica + irradiação nodal regional (CWI + RNI) após mastectomia ou adição de irradiação nodal regional à irradiação de toda a mama (RNI + WBI) após a cirurgia conservadora da mama melhora significativamente o intervalo livre de recorrência de câncer de mama invasivo (IBC-RFI) em pacientes que apresentam comprometimento do linfonodo axilar (cN+) que se apresentam patologicamente negativos para o linfonodo na cirurgia (ypN0) após a quimioterapia neoadjuvante (NC).

As pacientes elegíveis tinham câncer de mama invasivo cT1-3, N1, M0 clínico (N+ comprovado por biópsia), completaram ≥8 semanas de quimioterapia neoadjuvante (e terapia anti-HER2 se HER2+) e eram ypN0 após mastectomia ou cirurgia conservadora da mama e biópsia de linfonodo sentinela (SLNB, ≥2 linfonodos), dissecção de linfonodo axilar (ALND), ou ambos.

Os pacientes foram randomizados (1:1) para o braço “sem RNI” (observação após mastectomia ou irradiação de toda a mama após cirurgia conservadora da mama) ou para o braço “RNI” (irradiação da parede torácica mais RNI após mastectomia ou irradiação de toda a mama mais RNI após cirurgia conservadora da mama).

O endpoint primário foi o intervalo livre de recorrência de câncer de mama invasivo (IBC-RFI). Endpoints secundários incluíram intervalo livre de recorrência locorregional (LRRFI), intervalo livre de recorrência à distância (DRFI), sobrevida livre de doença (DFS) e sobrevida global (SG).

Resultados

Entre 13 de setembro e 20 de dezembro, foram inscritos 1.641 pacientes; 1.556 pts estavam disponíveis para análise de eventos primários. A mediana de acompanhamento foi de 59,5 meses (IQR 40,7-74,1). As características dos pacientes e tumores foram bem equilibradas entre os grupos: mediana de 52 anos de idade (variação 21-84); 31% não brancos; 21% cT1, 60% cT2, 19% cT3; 23% triplo negativo, 21% HR+/HER2-, 56% HER2+; 58% de ECC; 55% SLNB, 45% ALND+/-SLNB; e 78% tiveram resposta patológica completa da mama.

Os pacientes avaliáveis (1.556 pacientes) tiveram resultados semelhantes, independentemente de terem recebido RNI adjuvante ou não: 91,8% dos pacientes no braço “sem RNI” e 92,7% daqueles no braço “RNI” estavam livres de recorrências de câncer de mama invasivo cinco anos após a cirurgia. As taxas de recorrência à distância e de sobrevida global também foram semelhantes entre os braços, com 93,4% dos pacientes em cada braço livres de recorrência à distância cinco anos após a cirurgia, e 94% daqueles no braço “sem RNI” e 93,6% daqueles no braço “RNI” vivos após cinco anos.

Não houve mortes relacionadas ao estudo e nenhuma toxicidade inesperada. A toxicidade de grau 4 foi rara (0,1% com “Sem RNI”, 0,5% com “RNI”); 6,5% dos pacientes desenvolveram toxicidade grau 3 no grupo “Sem RNI” e 10% no grupo “RNI”. A toxicidade de grau 3 mais comum foi a dermatite por radiação (3,3% em “Sem RNI”, 5,7% em “RNI”).

“Nossas descobertas sugerem que a redução do estadiamento dos linfonodos regionais positivos para câncer com quimioterapia neoadjuvante pode permitir que alguns pacientes abram mão da irradiação nodal regional adjuvante sem afetar os resultados oncológicos. O acompanhamento dos pacientes para resultados a longo prazo continua”, concluiu Mamounas.

O estudo foi financiado pelo National Cancer Institute of the National Institutes of Health.

Referência: Abstract GS02-07 Loco-Regional Irradiation in Patients with Biopsy-proven Axillary Node Involvement at Presentation Who Become Pathologically Node-negative After Neoadjuvant Chemotherapy: Primary Outcomes of NRG Oncology/NSABP B-51/RTOG 1304