Erick Saldanha (foto), do AC Camargo Cancer Center, é primeiro autor de estudo que integra o programa científico do WCLC 2023, que descreve incidência, características clínicas e genômicas de mutações ERBB2 no câncer de pulmão de células não pequenas (CPCNP) na população latino-americana.
Mutações ERBB2 ocorrem em até 5% dos casos de CPCNP e geralmente envolvem inserções dentro do éxon 20. Para descrever as características clínicas e genômicas de pacientes com CPCNP com mutações ERBB2, os pesquisadores utilizaram sequenciamento de próxima geração (NGS) em uma coorte do mundo real da América Latina.
Nesta análise, foram identificados pacientes com CPCNP portadores de mutações ERBB2 detectadas por sequenciamento de próxima geração em tumores ou sangue, entre janeiro de 2015 e setembro de 2022, a partir de bancos de dados de três países latino-americanos (Brasil, Colômbia e México). Dados demográficos, clínicos e patológicos foram recuperados de prontuários médicos eletrônicos. Estatísticas descritivas foram usadas para resumir as características dos pacientes, padrões de tratamento e resultados. A sobrevida global (tempo desde o diagnóstico até o óbito por qualquer causa) foi analisada pelo método de Kaplan-Meier.
Os resultados revelam que amostras de tumor ou sangue de 1.245 pacientes com CPCNP foram avaliadas por NGS (Oncomine™ Focus Assay, FoundationOne®CDx, FoundationOne®CDx Liquid, Guardant360®). Desse total, 35 (2,8%) pacientes tinham mutação ERBB2. A mediana de idade foi de 60 anos (IQR: 49 - 69), 54,2% dos pacientes eram do sexo feminino, 59,4% nunca foram fumantes, 51,3% tinham performance status basal ECOG 0 e 91,5% foram diagnosticados com doença em estágio IV, dos quais 29,7% tiveram metástases cerebrais.
As mutações ERBB2 mais comuns foram A775_G776insYVMA (40%), seguida por G780_P781dupGSP (20%). A co-mutação mais frequentemente observada foi a TP53 (17,1%). A mediana da carga de mutação tumoral foi de 2 mutações/Mb (IQR: 1 - 4). PD-L1 TPS foi ≥50%, 1-49% e <1% em 11,4%, 54,2% e 31,4%, respectivamente.
Em relação aos padrões de tratamento, 74,2% dos pacientes receberam quimioterapia mais imunoterapia e 8,5% dos pacientes receberam apenas quimioterapia como primeira linha de tratamento. 42,8% dos pacientes receberam conjugados anticorpo-fármaco direcionados ao ERBB2 em outras linhas de terapia, como trastuzumabe emtansina (37,1%) e trastuzumabe deruxtecana (5,7%). A sobrevida global mediana para toda a coorte foi de 25 meses.
Em conclusão, mutações ERBB2 no CPCNP são raras. Nesta coorte multicêntrica retrospectiva abrangente do mundo real de pacientes com CPCNP da América Latina, os autores descrevem que a frequência de mutações ERBB2 foi identificada em 2,8% dos pacientes. A mutação ERBB2 mais comum identificada foi A775_G776insYVMA, semelhante ao relatado na literatura. “Nossos dados acrescentam evidências às características clínicas e genômicas do CPCNP com mutações ERBB2 em uma coorte latino-americana”, destacam os autores.
A participação brasileira no estudo inclui os médicos Vladimir Cordeiro de Lima, Marcelo Corassa, Leonardo Gil Santana e Heleno de Freitas, todos do AC Camargo Cancer Center.
Referência: EP12.01-50Real-World Characteristics and Outcomes of ERBB2-Mutant Non-small Cell Lung Cancer in Latin America Patients - E. Saldanha1, V.C.C. De Lima1, M. Corassa1, O. Arrieta2, A. Fares3, L. Gil Santana1, J.A. Soler3, D. Chamorro4, J. Rodríguez4, H. Freitas1, A.F. Cardona5 - 1AC Camargo Cancer Center, Sao Paulo/BR ,2Instituto Nacional de Cancerologia, Mexico City/MX ,3Hospital de Base de São José do Rio Preto, São José do Rio Preto/BR ,4Foundation for Clinical and Applied Cancer Research-FICMAC, Bogotá/CO ,5Luís Carlos Sarmiento Angulo Cancer Treatment and Research Center - CTIC, Bogotá/C