A combinação de cemiplimabe com a vacina ISA101b está sendo estudada em cânceres positivos para HPV16 em vários ensaios clínicos. Estudo de fase 2 com participação do oncologista Carlos Paiva (foto), do Hospital de Câncer de Barretos, e de mais dois centros brasileiros, apresentou no ASCO 2024 os resultados de eficácia e segurança de cemiplimabe + ISA101b em pacientes com câncer cervical HPV16 recorrente que progrediram da doença após quimioterapia de primeira linha.

Os pacientes elegíveis receberam 350 mg de cemiplimabe administrado por via intravenosa a cada 3 semanas + 3 doses de vacina ISA101b 100 µg/peptídeo administrada por injeção subcutânea nos dias 1, 29 e 50. O endpoint primário foi a taxa de resposta objetiva (ORR), medida por RECIST. v1.1. Os endpoints secundários incluíram duração da resposta (DOR), sobrevida global (SG), sobrevida livre de progressão (SLP) e segurança. Os endpoints de eficácia e segurança foram avaliados no conjunto de análise completo (pacientes que receberam ≥1 dose). A expressão basal de PD-L1 foi avaliada por imuno-histoquímica utilizando o clone anti-PD-L1 SP263.

Neste estudo de braço único (NCT04646005) foram incluídos 113 pacientes. A duração mediana do acompanhamento foi de 4,9 meses (intervalo interquartil [IQR]: 3,0–7,5); a duração mediana da exposição ao tratamento foi de 10,0 semanas (IQR: 9,7–10,3) para ISA101b e de 18,2 semanas (IQR: 9,0–27,6) para cemiplimabe. No ponto de corte dos dados (22 de maio de 2023), 90 pacientes interromperam o tratamento por motivos que incluíram progressão da doença (66,4%), morte (7,1%) e um evento adverso (EA; 3,5%) e 20,4% dos pacientes ainda estavam em tratamento.

Os resultados apresentados no ASCO 2024 mostram que a ORR (IC 95%) foi de 16,8% (9,9–23,7). A ORR pela expressão de PD-L1 em células tumorais foi de 12,5% para pacientes com PD-L1 <1% e 22,4% para pacientes com PD-L1 ≥1%, de acordo com a avaliação do investigador. A DOR mediana (IC 95%) foi de 5,6 (3,5 – não estimável) meses. A mediana (IC 95%) de SG e SLP foi de 13,3 (10,8–16,3) meses e 3,0 (1,7–4,0) meses, respectivamente. Aos 6 e 12 meses, as probabilidades de sobrevida estimadas (IC 95%) foram de 80,5% (71,7–86,9) e 54,5% (42,1–65,3), respectivamente, para SG, e de 20,5% (13,4–28,6) e 7,8% (3,3 –15,0) para SLP.

Em relação à segurança, eventos adversos (EAs) emergentes do tratamento ocorreram em 92,9% dos pacientes, sendo os mais comuns reação no local da injeção (38,9%), anemia (25,7%) e náusea (22,1%). Seis (5,3%) pacientes morreram devido a um EA emergente do tratamento.

“Os resultados deste estudo de fase 2 de cemiplimabe + ISA101b em pacientes com câncer cervical HPV16 recorrente mostram benefício clínico, especialmente em pacientes com alta expressão de PD-L1, sem sinais de segurança inesperados, apoiando futuras pesquisas”, concluem os autores.

Além de Carlos Paiva, do Hospital de Câncer de Barretos, o estudo tem entre os brasileiros a participação de Giuliano Santos Borges, da Clínica de Neoplasias Litoral, em Itajaí, e Fernanda Damian, do Centro de Pesquisa em Oncologia, em Porto Alegre.

Referência: 

Combination of cemiplimab and ISA101b vaccine for the treatment of recurrent/metastatic HPV16 cervical cancer
Abstract #5522 /Poster Bd #393