Um retrato das variantes patogênicas da linha germinativa de uma coorte de mais de 2 mil mulheres brasileiras com câncer de mama mostra que a prevalência de variantes deletérias no Brasil é comparável às coortes publicadas nos EUA e União Europeia, mas os testes genéticos ainda são limitados. O estudo foi aceito para publicação em poster no ASCO 2024 e tem participação de Leandro Oliveira, primeiro autor, e Rodrigo Dienstmann (na foto à direita), autor sênior, ambos pesquisadores da Oncoclínicas.
Até 50% de todos os casos hereditários de câncer de mama devem-se a variantes germinativas BRCA1/2, mas outros genes de penetrância alta e moderada (HMP) têm aumentado. A prevalência e o espectro das variantes patogênicas de linha germinativa são afetados pela idade no momento do diagnóstico, raça/etnia, região geográfica e subtipo molecular do câncer de mama.
Neste estudo de coorte retrospectivo, o objetivo dos pesquisadores foi avaliar o perfil germinativo de variante patogênicas e possivelmente patogênicas (P/PP) em genes de penetrância alta e moderada (BRCA1, BRCA2, PALB2, TP53, CDH1, NF1, PTEN, STK11, CHEK2, ATM, BARD1, RAD51C e RAD51D) em uma coorte de mulheres brasileiras com diagnóstico de câncer de mama. Todas as pacientes foram testadas em um único laboratório de referência usando painéis de sequenciamento de próxima geração (NGS), cobrindo de 35 a 105 genes. O endpoint primário foi a prevalência de variantes P/PP e variantes de significado indeterminado (VUS) em BRCA1/2, bem como em outros genes de penetrância alta e moderada no câncer de mama, de acordo com a idade e o subtipo de CM. Os dados clínicos e patológicos foram recuperados do Banco de Dados do Mundo Real do Grupo Oncoclínicas (OC) e usados como referência para comparações demográficas.
Os resultados apresentados no ASCO 2024 mostram que esta coorte envolveu 2.207 mulheres com CM de 2019 a 2023. A maioria das pacientes (79,7%) eram do Sudeste do Brasil, seguidos pelo Centro-Oeste (5,6%), Sul (5,0%) e Nordeste (4,8%). A idade mediana no momento do teste genético foi de 47 anos e a maioria das pacientes (59,4%) tinha ≤ 50 anos. Como referência, a idade média foi de 57 anos na população geral de CM tratada no Grupo Oncoclínicas (> 20.000 durante o período do estudo).
O subtipo de CM estava disponível em 641 casos, 264 pacientes (41,2%) eram HR+/HER2-, 116 (18,1%) eram HER2+ e 261 (40,7%) eram triplo negativos (TNBC). Na base de dados do Grupo OC, o TNBC representou apenas 15% de todos os novos casos de CM. No geral, 217 (9,8%) tinham P/LP nos genes HMP, incluindo 131 (5,9%) pacientes que tinham variante BRCA1/2 e 86 (3,9%) que tinham uma variante P/LP em outros genes HMP. As variantes LP/PV mais frequentes foram encontradas em BRCA2 (31%) / BRCA1 (29%) / TP53 (13%) / PALB2 (9%) / CHEK2 (9%). Uma variante patogênica de TP53 (R337H) foi responsável por 75% de todas as variantes em TP53. As variantes deletérias foram mais comuns em pacientes ≤50 anos (12%) do que em pacientes > 50 (7%), bem como em pacientes com TNBC (14%) seguido por HER2+ (9%) e HR+/HER2- (7% ). As variantes P/PP BRCA1/2 foram maiores em pacientes TNBC (8%) do que em HR+/HER2- (4%) e HER2+ (3%). A taxa global de VUS nos genes HMP foi de 20%. As VUS mais frequentes foram encontradas nos genes ATM, BRCA2, NF1 e CHEK2.
Os pesquisadores concluem que a prevalência de variantes deletérias no HMP é comparável às coortes publicadas nos EUA e na UE. “No entanto, na prática do mundo real, os testes ainda estão limitados a populações com maior risco basal de CM hereditário, como pacientes jovens com TNBC”, destacam.
Referência:
A portrait of germline pathogenic variants from a large real-world cohort of Brazilian patients with breast cancer
J Clin Oncol 42, 2024 (suppl 16; abstr 10593)
Abstract #10593 /Poster Bd #120
https://meetings.asco.org/abstracts-presentations/233120