Trastuzumabe deruxtecana (T-DXd), aprovado para câncer de mama metastático HER2-positivo e HER2-low em pacientes pré-tratados, foi avaliado no ensaio DESTINY-Breast06 como primeira terapia para pacientes com câncer de mama HR+, HER2-low e HER2-ultralow após terapia endócrina. O estudo tem participação do oncologista Carlos Barrios (foto) e mostra que, em comparação com a quimioterapia padrão, T-DXd melhorou significativamente a sobrevida livre de progressão, com resultados semelhantes na doença HER2-low e HER2-ultralow.
Neste estudo (NCT04494425), foram incluídos 866 participantes com câncer de mama metastático HER2-low (713 participantes) ou HER2-ultralow (153 participantes). Os tumores HER2-low têm uma pontuação de imuno-histoquímica que indica a quantidade de proteína HER2 expressa em células cancerosas de 1+ ou 2+, enquanto os tumores HER2-ultralow têm uma pontuação maior que 0, mas menor que 1+. Todos os participantes do estudo receberam pelo menos um tratamento com terapia endócrina e quase todos os participantes (90,4%) também receberam um inibidor de CDK4/6.
Os participantes foram randomizados para receber T-DXd (N= 436) ou quimioterapia de escolha do médico (N=430), considerando capecitabina, nab-paclitaxel ou paclitaxel. O endpoint primário foi a sobrevida livre de progressão (SLP) por revisão central independente cega (BICR) em HER2-low. Endpoints secundários foram SLP por intenção de tratar (ITT = HER2-low e ultralow) e sobrevida global (SG). Outros desfechos incluíram taxa de resposta objetiva (ORR) e segurança.
Os resultados apresentados no ASCO 2024 mostram que em pacientes com câncer HER2-low, a sobrevida livre de progressão mediana foi de 13,2 meses para aqueles que receberam T-DXd vs. 8,1 meses no braço de quimioterapia (HR, 0,62 [IC 95% 0,51, 0,74], P<0,0001). Resultados semelhantes foram observados no pequeno grupo de pacientes com câncer HER2-ultralow. No geral, os pacientes com câncer HER2-low que receberam T-DXd tiveram risco 38% menor de progressão da doença em comparação com aqueles que receberam quimioterapia (veja tabela abaixo).
No subgrupo com câncer HER2-low, a taxa de resposta objetiva (ORR) foi de 56,5% para aqueles que receberam T-DXd vs. 32,3% entre os que receberam quimioterapia. Em pacientes com câncer HER2-ultralow, a ORR mais que dobrou no grupo tratado com T-DXd em comparação com aqueles que receberam quimioterapia (61,8% vs. 26,3%, respectivamente).
Os participantes tratados com T-DXd puderam receber tratamento por mais tempo sem apresentar efeitos colaterais graves, com duração média de tratamento de 11 meses vs. 5,6 meses entre os tratados com quimioterapia.
Em relação à segurança, eventos adversos relacionados ao medicamento de grau (Gr) ≥3 ocorreram em 40,6% (T-DXd) vs 31,4% no grupo de tratamento de escolha do médico. Doença pulmonar intersticial (DPI), um efeito colateral conhecido de T-DXd que causa inflamação dos pulmões, ocorreu em cerca de 11% dos participantes que receberam o medicamento, o que é consistente com pesquisas anteriores. A DPI não foi grave para a maioria dos participantes, mas cerca de 5% interromperam o tratamento devido à DPI e três morreram em consequência dessa toxicidade. O efeito colateral grave mais comum que levou à redução da dose de T-DXd foi náusea (4,4% dos participantes).
Em conclusão, T-DXd mostrou benefício clínico e estatisticamente significativo de SLP em pacientes com câncer de mama metastático HER2-low, resultados consistentes com os alcançados também no grupo HER2-ultralow. A segurança foi compatível com perfis já conhecidos. Para os pesquisadores, esses resultados do estudo Destiny-Breast 06 estabelecem T-DXd como um padrão de tratamento após ≥1 terapia endócrina para pacientes com câncer de mama HR+ HER2-low e ultralow.
“Esses dados sugerem que trastuzumabe deruxtecana pode se tornar uma opção de tratamento de primeira linha para a maioria dos pacientes com câncer de mama metastático HR+ após progressão à terapia endócrina”, destacou Erica L. Mayer, do Dana-Farber Cancer Institute. “No entanto, T-DXd resultou em toxicidades mais sérias comparado à quimioterapia tradicional e pode não ser a escolha certa para todos os pacientes”, disse.
Para Giuseppe Curigliano, da Universidade de Milão e do Instituto Europeu de Oncologia, esses resultados também representam uma mudança potencial em como classificamos e tratamos o câncer de mama metastático. “Podemos ter a oportunidade de usar trastuzumabe deruxtecana mais cedo no tratamento do câncer de mama metastático HR+ e expandir a utilização de T-DXd para novos pacientes com câncer de mama metastático que anteriormente não poderiam se beneficiar de um tratamento direcionado pós-terapia endócrina”, disse ele, principal investigador do estudo DESTINY-Breast06.
T-DXd, | TPC, | T-DXd, | TPC, | T-DXd, | TPC, | |
mPFS | 13.2 | 8.1 | 13.2 | 8.1 | 13.2 | 8.3 |
PFS HR | 0.62 | – | 0.63 | – | 0.78 | – |
12-mo | 87.6 | 81.7 | 87.0 | 81.1 | 84.0 | 78.7 |
OS HR | 0.83 | – | 0.81 | – | 0.75 | – |
Confirmed | 56.5 | 32.2 | 57.3 | 31.2 | 61.8 | 26.3 |
*HER2-low status investigator assigned;
†Subgroup analysis; HER2-ultralow status centrally confirmed;
¤by BICR;
§data immature.
Referência:
Trastuzumab deruxtecan (T-DXd) vs physician’s choice of chemotherapy (TPC) in patients (pts) with hormone receptor-positive (HR+), human epidermal growth factor receptor 2 (HER2)-low or HER2-ultralow metastatic breast cancer (mBC) with prior endocrine therapy (ET): Primary results from DESTINY-Breast06 (DB-06).
Abstract #: LBA1000
Citation: DOI:10.1200/JCO.2024.42.17_suppl.LBA1000