Gabriel Aleixo (foto), oncologista na Universidade da Pensilvânia, é autor da primeira revisão sistemática e meta-análise a avaliar a eficácia da abordagem ‘start low, go slow’ (SLGS) entre idosos (65 anos ou mais) com câncer avançado. Os resultados apresentados em sessão de pôster no ASCO 2024 mostraram que a estratégia conferiu maior conclusão dos ciclos planejados, toxicidade reduzida e resultados semelhantes de sobrevida.
“Idosos com 65 anos ou mais com câncer avançado estão sub-representados em ensaios de tratamento, o que dificulta a tomada de decisão informada em relação à dose e tolerabilidade das terapias propostas. A quimioterapia padrão está associada a uma taxa de eventos adversos graves superior a 50% entre adultos mais velhos, com redução frequente da dose e descontinuação precoce do tratamento”, contextualizaram os autores.
Uma abordagem SLGS inicia a terapia sistêmica em doses inferiores ao padrão, com aumento de dose se for bem tolerada. Esta estratégia de dosagem alternativa demonstrou valor na minimização de eventos adversos e declínio funcional sem comprometer a eficácia global dos tratamentos.
Esta revisão foi registrada no PROSPERO e seguiu os critérios PRISMA, abrangendo PubMed, Journal of Geriatric Oncology e EMBASE entre janeiro de 2000 e 15 de dezembro de 2024. Os desenhos de estudo elegíveis foram ensaios clínicos randomizados, ensaios retrospectivos e ensaios clínicos não randomizados com pacientes com câncer avançado submetidos a terapia sistêmica.
Foram relatados todos os estudos que avaliaram a abordagem SLGS. Os desfechos estudados foram sobrevida global (SG), sobrevida livre de progressão (SLP), descontinuação do tratamento e toxicidade. A extração de dados incluiu autor, paciente, tipo de câncer, tratamento e resultados de sobrevida. Uma meta-análise utilizando efeitos fixos e taxas de risco (RR) foi realizada quando havia dados suficientes disponíveis; resultados significativos tiveram α<0,05.
Resultados
A análise identificou 13 estudos que testaram estratégias de SLGS em oncologia, incluindo 3.508 pacientes, com idade mediana de 63 a 78 anos. Os tumores representados incluíram câncer colorretal (6 estudos, 3.059 pacientes no total), câncer de pulmão (2 estudos, 113 pacientes), leucemia mieloide crônica (2 estudos, 127 pacientes), linfoma não-Hodgkin (1 estudo, 45 pacientes) e câncer de próstata (2 estudos, 164 pacientes).
Dez (77%) estudos avaliaram sobrevida global e sobrevida livre de progressão. Cinco estudos (39%) compararam SLGS com doses padrão, não encontrando diferenças significativas na SLP e SG em todos os ensaios. As taxas de escalonamento de dose para SLGS variaram de 5% a 60%. A capacidade de completar os ciclos planejados foi maior com SLGS em comparação com a dose padrão (1 estudo, 43% vs 26%, p=0,04).
A descontinuação do tratamento não foi diferente para SLGL versus dose padrão (5 estudos, meta-análise RR 1,07, IC 95% 0,90-1,27, p=0,42). A toxicidade variou de 5% a 89% entre os estudos; SLGS apresentou eventos adversos de grau inferior ≥3 em comparação com a dose padrão (4 estudos, metanálise RR 0,88, 95% CI 0,80 - 0,94, p < 0,001).
“Em comparação com a terapia sistêmica de dose padrão, os idosos que seguiram uma estratégia SLGS tiveram maior conclusão dos ciclos planejados, toxicidade reduzida e sobrevida semelhante”, concluíram os autores.
Referência:
Abstract #: 1625 - Start low, go slow: A systematic review and meta-analysis of upfront tailored treatment dosing in older adults with advanced cancer.
DOI: 10.1200/JCO.2024.42.16_suppl.1625