No adenocarcinoma de esôfago localmente avançado ressecável, o tratamento com quimioterapia perioperatória melhorou a sobrevida em comparação com a quimiorradioterapia neoadjuvante. “Nosso estudo mostra a superioridade da quimioterapia perioperatória FLOT (5-FU/leucovorina/oxaliplatina/docetaxel) como estratégia multimodal nessa poulação de pacientes”, afirmou Jens Hoeppner (foto), cirurgião na Universidade de Bielefeld, Alemanha, e principal autor do estudo de Fase 3 ESOPEC (LBA1), apresentado em Sessão Plenária no ASCO 2024.

ESOPEC (NCT02509286) é um estudo prospectivo, randomizado, multicêntrico que compara CROSS neoadjuvante (41,4Gy mais carboplatina/paclitaxel) seguido de cirurgia versus FLOT perioperatório (5-FU/leucovorina/oxaliplatina/docetaxel) e cirurgia para o tratamento curativo do adenocarcinoma esofágico localmente avançado (EAC).

Eram elegíveis pacientes com adenocarcinoma esofágico localmente avançado ressecável cT1 cN+ cM0 ou cT2-4a cNany cM0. O endpoint primário foi a sobrevida global (SG; poder de 90%; hazard ratio [HR] 0,645, 218 eventos necessários; nível de significância unilateral de 2,5%). A análise foi por intenção de tratar em todos os pacientes randomizados.

O efeito do tratamento na sobrevida global foi é estimado usando regressão de Cox estratificada por local de estudo e incluindo estágio N (N0, N+) e idade como covariáveis.

Resultados

Entre fevereiro de 2016 e abril de 2020, 438 pacientes de 25 locais na Alemanha foram randomizados em dois grupos de tratamento (221 FLOT; 217 CROSS). As características iniciais foram bem equilibradas entre ambos os braços. A idade média dos participantes do estudo foi de 63 anos e 89% dos participantes eram homens (cT3/4 80,5%; cN+ 79,7%). O tratamento neoadjuvante foi iniciado em 403 pacientes (207 FLOT; 196 CROSS).

A cirurgia foi realizada em 371 pacientes (191 FLOT; 180 CROSS), e a ressecção R0 foi alcançada em 351 pacientes (180 FLOT; 171 CROSS). A mortalidade pós-cirúrgica em 90 dias foi de 4,3% (3,2% FLOT; 5,6% CROSS). Após um acompanhamento médio de 55 meses, 218 pacientes morreram (97 FLOT; 121 CROSS).

A mediana de sobrevida global foi de 66 (95% CI 36 – não estimável) meses no braço FLOT e 37 (95% CI 28 – 43) meses no braço CROSS. As taxas de SG em 3 anos foram de 57,4% (95% CI 50,1 – 64,0%) para FLOT e 50,7% (95% CI 43,5 – 57,5%) para CROSS (HR 0,70, 95% CI 0,53-0,92, p=0,012).

Em 359 pacientes com status de regressão tumoral disponível, a resposta patológica completa foi alcançada em 35 (19,3%, 95% CI 13,9 – 25,9%) no FLOT e em 24 (13,5%, 95% CI 8,8 – 19,4%) no CROSS.

Em síntese, FLOT perioperatório melhorou a sobrevida no adenocarcinoma esofágico localmente avançado ressecável em comparação com CROSS neoadjuvante. “Aos 3 anos, os participantes que receberam FLOT tiveram um risco 30% menor de morrer do que aqueles que receberam CROSS. As taxas de sobrevida global em 3 anos foram de 57% para o braço FLOT e 51% no braço CROSS”, concluíram os autores.

Agora, os pesquisadores pretendem investigar se a cirurgia pode ser evitada em pacientes que apresentam uma resposta patológica completa ao tratamento com os protocolos FLOT ou CROSS e não apresentam crescimento durante a vigilância ativa.

O estudo foi financiado pela Deutsche Forschungsgemeinschaft (DFG, Fundação Alemã de Pesquisa) e está registrado em ClinicalTrials.Gov, NCT02509286.

Referência:

Prospective randomized multicenter phase III trial comparing perioperative chemotherapy (FLOT protocol) to neoadjuvant chemoradiation (CROSS protocol) in patients with adenocarcinoma of the esophagus (ESOPEC trial).

Abstract #: LBA1

DOI: 10.1200/JCO.2024.42.17_suppl.LBA1