A utilização da telemedicina pode promover importante redução nas emissões de gases geradas durante a assistência ambulatorial para o tratamento do câncer, o que corresponde a uma pequena redução na mortalidade humana. Os dados são de estudo apresentado no ASCO 2024 por pesquisadores do Dana Farber Cancer Institute, com publicação simultânea de Hantel et. al. no JAMA Oncology. A análise mostrou que a transição para a telemedicina durante a pandemia da COVID-19 levou a uma redução relativa de 81% nas emissões de equivalentes de CO2.

As emissões de gases geradas por consultas ambulatoriais para o tratamento oncológico não são bem descritas, nem a consequente redução de danos humanos que poderia ser obtida por meio da descentralização das consultas (telemedicina e atendimento local quando possível).

Neste estudo baseado em avaliação do ciclo de vida (ACV), o objetivo foi avaliar mudanças nas emissões e danos à saúde associados a (1) consultas de telemedicina usando análise observacional retrospectiva e (2) consultas totalmente descentralizadas usando modelagem contrafactual. A coorte observacional retrospectiva incluiu pessoas recebendo tratamento oncológico no Dana-Farber Cancer Institute (DFCI) e 20 instalações afiliadas entre maio de 2015 e dezembro de 2020. O principal resultado foi a diferença ajustada por dia de visita nas emissões (em quilogramas de equivalentes de dióxido de carbono: kgCO2) entre dois períodos: um período de atendimento presencial (5/2015-2/2020; “Pré”) e um período de telemedicina (3/2020-12/2020; “Pós”).

O modelo log-linear de efeitos mistos avaliou as mudanças nas emissões ajustadas para idade, sexo, raça, etnia e tipo de câncer, com efeitos aleatórios na pessoa. O modelo contrafactual avaliou as mudanças nas emissões entre visitas presenciais reais durante o período Pré e um contrafactual com descentralização da assistência. A elegibilidade do dia da visita para descentralização foi obtida categorizando as consultas (por exemplo, visita ao clínico, infusão) como DFCI necessário, atendimento local possível ou telemedicina possível. Esta coorte foi pareada a uma população nacional diagnosticada com câncer no mesmo período (conjunto de dados Câncer na América do Norte [CiNA]) usando modelagem linear de efeitos mistos, por meio da qual mudanças anuais em anos de vida ajustados por incapacidade (DALY) da descentralização de visitas clínicas foram estimadas usando o custo de mortalidade de conversão de carbono de Eckelman.

Os resultados revelam 123.890 pacientes únicos na coorte DFCI atendidos em mais de 1,6 milhão de dias de visita (Pré N = 110.180; Pós N = 61.691) em uma mediana de 6 dias de visita por paciente (IQR 2, 15). Estima-se que 72.554.006 kgCO2 estavam dentro do escopo do ACV emitido durante o período do estudo. Na regressão log-linear de efeitos mistos, os pesquisadores descrevem que a redução absoluta média ajustada nas emissões por dia de visita entre os períodos Pré e Pós foi de 36,4 kgCO2 (IC 95% 36,2,36,6), ou uma redução de 81,3% (IC 95% 80,8,81,7) em comparação ao modelo de base.

No modelo de assistência descentralizada contrafactual do período Pré, houve redução relativa de emissões de 33,1% (IC 95% 32,9,33,3). Quando demograficamente correspondido a 10,3 milhões de pessoas no conjunto de dados CiNA, a assistência descentralizada teria reduzido as emissões nacionais em 75,3 milhões de kgCO2 anualmente, correspondendo a uma redução anual estimada de 15,0-47,7 DALYs.

Em síntese, nesta análise baseada em ACV da redução de emissões em um sistema de saúde oncológico dos EUA, a transição para a telemedicina durante a pandemia da COVID-19 levou a uma redução relativa de 81% nas emissões de equivalentes de CO2. Comparado a um modelo de atendimento centralizado e presencial, o atendimento oncológico descentralizado tem o potencial de reduzir nacionalmente as emissões relacionadas a visitas em cerca de um terço, o que se traduziu em uma redução pequena, mas direta, na mortalidade humana.

“Embora muitos cuidados oncológicos presenciais e terciários sejam essenciais, esses dados mostram que descentralizar os cuidados quando possível pode reduzir significativamente as emissões relacionadas a visitas, o que, por sua vez, pode ter impactos posteriores na saúde humana”, destacam os autores.

A íntegra do estudo está disponível em acesso aberto no JAMA Oncology

Referência:

ABSTRACT 1522 -Assessing the environmental and downstream human health impacts of decentralizing cancer care.
Andrew Hantel, MD, Dana-Farber Cancer Institute
JAMA Oncol. 2024; 10.1001/jamaoncol.2024.2744