Onconews - Estudo brasileiro analisa sobrevida e marcadores prognósticos no câncer de pênis

Mapeamento apresentado em poster no ASCO 2024 descreve a sobrevida associada à quimioterapia e os marcadores prognósticos no câncer de pênis em um hospital de referência do nordeste brasileiro, no período de 2000 a 2021. O trabalho tem como primeiro autor o oncologista João Paulo Holanda Soares (foto), do Instituto do Câncer do Ceará (ICC), e representa o maior estudo retrospectivo sobre quimioterapia e resultados de sobrevida nessa população de pacientes.

O câncer de pênis é uma neoplasia rara em todo o mundo. Apesar da maior incidência na região Nordeste brasileira, os dados sobre o tratamento quimioterápico (QT) do câncer de pênis no Brasil são escassos. A relação entre marcadores de imunossupressão no microambiente tumoral do câncer de pênis e MDSCs (células supressoras derivadas de mieloides) ainda é pouco compreendida.

Neste estudo, Soares e colegas avaliaram retrospectivamente 294 pacientes com câncer escamoso de pênis atendidos no Hospital Haroldo Juaçaba (Ceará-Brasil) entre 2000 e 2021 (82 submetidos à quimioterapia: 27 QT adjuvante, 31 QT neoadjuvante e 24 QT paliativas) devido às suas características clínicas e histopatológicas e às seguintes características imuno-histoquímicas: marcadores: PD-L1, CD8t (intratumoral), CD163t (intratumoral), CD84 e HLA-DR II. Os pesquisadores buscaram correlacionar esses biomarcadores ao estadiamento clínico, tipo de quimioterapia (neoadjuvante, adjuvante ou paliativa) e resposta à QT, assim como determinar a sobrevida livre de progressão pós-quimioterapia (SLP-QT), sobrevida global por estágio (SG) e SG pós-quimioterapia (SG-QT).

A idade mediana de todos os pacientes foi de 62,9 anos (18-103). A amputação parcial do pênis foi a cirurgia mais realizada (74%), seguida pela linfadenectomia inguinal (56%). A quimioterapia com doublet de platina foi administrada em 95% dos casos. A SG aos 5 anos para os estádios I, II, III e IV foi de 95,3%, 93,6%, 87,4% e 14,8%, respetivamente. A taxa de resposta (RECIST) (resposta parcial (PR); doença estável (SD) e progressão da doença (PD) naqueles que realizaram QT neoadjuvante foi de 29%, 22% e 48%, enquanto no grupo Paliativo foi de 5%, 11% e 82% respectivamente. A mediana de SG-QT foi de 49 meses no grupo adjuvante, 21 meses no neoadjuvante e 12 meses no grupo paliativo (p<0,001 adjuvante vs neoadjuvante/paliativo); SLP-QT foi de 11 meses, 4 meses e 1 mês no grupo adjuvante, neoadjuvante e paliativo, respectivamente (p<0,001). No grupo neoadjuvante, os que foram operados (70%) tiveram SLP-QT de 6 meses versus 2 meses nos que não foram operados (p<0,001). Na análise univariada, a SLP-QT foi significativamente maior naqueles que tiveram menor expressão de CD8t (9 vs 5 meses; p=0,02), ou CD163t (7 vs 5 meses; p=0,043) ou CD84 (7 vs 5 meses; p =0,043).

“Este é o maior estudo retrospectivo sobre quimioterapia e resultados de sobrevida no Brasil. Os pacientes submetidos à cirurgia e QT adjuvante tiveram melhor prognóstico em termos de sobrevida, seguidos daqueles operados após QT neoadjuvante. Menor expressão CD163t, ou CD84 (marcador de MDSCs) ou CD8t correlacionou-se com maior SLP-Qt. Esses dados podem ajudar a compreender o microambiente tumoral no câncer de pênis e a resposta à quimioterapia”, concluem os autores,

Ao lado de João Paulo Holanda Soares, o estudo tem participação de Maria Cunha, Carlos Hirth e Paulo Silva, todos do ICC.

Referência:

Survival associated with chemotherapy and prognostic biomarkers in penile cancer at a reference hospital in the Northeast Brazil from 2000 to 2021.
J Clin Oncol 42, 2024 (suppl 16; abstr 5043)
Abstract # 5043/Poster Bd #449