Estudo que envolveu pacientes com câncer de cabeça e pescoço tratados com radioterapia em oito centros de câncer da Rede Oncoclínicas no Sudeste do Brasil demonstrou redução estatisticamente significativa na incidência cumulativa de mucosite de qualquer grau com terapia profilática a laser. O trabalho tem como primeira autora a estomatologista Renata Ferrari (foto) e foi selecionado para apresentação em poster no programa científico do ASCO 2024.
Aproximadamente 70-90% dos pacientes com câncer de cabeça e pescoço (CCP) submetidos à (quimio) radioterapia apresentam mucosite de qualquer grau. A idade avançada e o estado nutricional são fatores de risco conhecidos. Neste estudo observacional, de braço único, que envolveu oito centros de câncer da Rede Oncoclínicas na região Sudeste, o objetivo dos pesquisadores foi testar a hipótese primária de que a terapia profilática com laser reduziria a incidência de mucosite entre pacientes com CCP.
Pacientes com CCP agendados para radioterapia +/- quimioterapia foram submetidos a avaliações de saúde bucal e avaliações de risco nutricional usando a Avaliação Subjetiva Global Gerada pelo Paciente (Patient-Generated Subjective Global Assessment - PG-SGA) antes de iniciar o tratamento. A laserterapia profilática foi administrada diariamente durante todas as sessões de radioterapia. Avaliações diárias de acompanhamento foram realizadas por um estomatologista para monitorar a progressão da mucosite, usando a pergunta sobre mucosite do Common Terminology Criteria for Adverse Events (CTCAE) versão 5.0. O desfecho primário do estudo foi mucosite de qualquer grau. Os desfechos secundários incluíram incidência de mucosite de acordo com idade, sexo, estágio, local do tumor primário, status de HPV, uso concomitante de quimioterapia, cenário de tratamento (adjuvante vs. definitivo) e risco nutricional.
Um total de 118 pacientes participaram do estudo, com idade mediana de 62 anos (variação de 23 a 87), majoritariamente (67%) homens com tumor primário na cavidade oral (33%), orofaringe (30%, 53% dos quais estavam relacionados com o HPV), ou em outros locais (37%), com doença estádio I/II (30%), III (27%) ou IVA/B (43%). O risco nutricional esteve presente em 54% dos pacientes.
Os autores descrevem que o tratamento foi administrado em regime adjuvante (52%) ou definitivo (48%), com (55%) ou sem (45%) quimioterapia concomitante. As doses de radiação foram de 60-70 Gy ou ≥ 70 Gy em 91% e 9% dos casos, respectivamente. No geral, 90% dos pacientes aderiram a todas as sessões prescritas de terapia a laser. A incidência cumulativa de mucosite de qualquer grau foi de 65% (intervalo de confiança [IC] de 95% 14,6-34,8%), significativamente menor do que os controles históricos (P = 0,001). A incidência de mucosite grau 3/4 foi de 28% (IC 95% 29,8-52,3%). O tempo médio desde o início da mucosite até a resolução foi de 23 dias (DP=15,4).
“O estudo atingiu seu objetivo primário, demonstrando redução estatisticamente significativa na incidência cumulativa de mucosite de qualquer grau com terapia profilática a laser, em comparação com controles históricos”, concluem os autores, destacando que os dados apoiam uma avaliação mais aprofundada desta estratégia em ensaios clínicos randomizados.
Além de Renata Ferrari, o estudo tem a participação dos pesquisadores Ana Carolina Felizardo, Lourenço Siqueira, Luana Abreu, Daniele Araujo, Letícia Araujo, Tauana Fernandes, Clara Lopes, Rafaela Peixoto, Bianca Melo, Ana Maria Costa, Ruan Silva, Claudia Andrade, Mariana Laloni, Bruno Lemos Ferrari, Carlos G. M. Ferreira, Pedro De Marchi, William Nassib William Jr. e Cristiane Decat Bergerot, todos da Oncoclínicas.
Referência:
Impact of prophylactic laser therapy on mucositis in patients with head and neck cancer (HNC) undergoing radiotherapy in Brazil.
J Clin Oncol 42, 2024 (suppl 16; abstr 12120)