Onconews - NEO: olaparibe neoadjuvante no câncer de ovário seroso de alto grau recidivado sensível à platina

Olaparibe neoadjuvante seguido de cirurgia citorredutora foi viável e seguro no câncer de ovário seroso de alto grau sensível à platina recorrente. “Em pacientes com doença ressecável na citorredução secundária, olaparibe isolado no pós-operatório foi tão eficaz quanto a quimioterapia seguida de olaparibe e menos tóxico, sugerindo potencial para uma abordagem livre de quimioterapia nesta população selecionada”, afirmou a oncologista Stephanie Lheureux (foto), do Princess Margaret Cancer Centre, que apresentou os resultados do estudo NEO no ASCO 2024.

O câncer de ovário seroso de alto grau (HGSOC) sensível à platina (PS) recorrente pode ser tratado em pacientes selecionados com cirurgia citorredutora secundária e terapia sistêmica. O estudo de Fase 2 NEO (NCT02489006), aberto, randomizado, avalia o potencial para de-escalonamento com o inibidor de PARP (PARPi) olaparibe administrado antes da cirurgia citorredutora secundária em pacientes com câncer de ovário seroso de alto grau sensível à platina.

O estudo incluiu pacientes virgens de tratamento com PARPi com câncer de ovário seroso de alto grau recorrente ≥6 meses após terapia anterior com platina. Os pacientes eram adequados para cirurgia citorredutora secundária e foram submetidos a biopsia tumoral antes da terapia neoadjuvante com olaparibe 300 mg via oral duas vezes ao dia por 6 ± 2 semanas.

No pós-operatório, os pacientes foram randomizados 1:1 para 6 ciclos de quimioterapia com platina seguido de olaparibe de manutenção (braço A) ou olaparibe isolado em ciclos de 28 dias (braço B). O endpoint primário de eficácia clínica foi a sobrevida livre de progressão (SLP), com sobrevida global como objetivo secundário, estimado utilizando o método Kaplan Meier e comparado entre os dois grupos de tratamento utilizando o teste log-rank. A resposta foi avaliada por RECIST 1.1.

Os eventos adversos foram avaliados com CTCAE v4.03. Os estudos translacionais incluem análises de tecidos tumorais pareados por WGTS e DNA tumoral circulante longitudinal.

Resultados

Entre fevereiro de 2017 e setembro de 2021, foram incluídas 44 pacientes, e 36 foram randomizadas (braço A: n=19 - braço B: n=17). Duas pacientes desistiram e 6 pacientes (todas wtBRCA1/2) foram designadas para o braço A pela progressão da doença durante olaparibe neoadjuvante.

A mediana (IQR) de follow up do estudo foi de 3,96 (2,23-5,29) anos. A idade média foi de 59 (53-66) anos e 31% tinham mutação germinativa BRCA1/2 deletéria conhecida. A duração mediana da neoadjuvância foi de 40 (34-48) dias, variando de 20 a 120 dias. De 36 pacientes submetidas à cirurgia, 31 (86%) foram citorreduzidas cirurgicamente sem doença residual visível.

A mediana dos ciclos de todas as terapias adjuvantes foi semelhante nos dois braços (21,5 ciclos no braço A e 18 ciclos no braço B, p=0,60). O tempo mediano de tratamento com olaparibe adjuvante foi de 13,8 e 14,7 meses para o braço A e B, respectivamente. As taxas de SLP e SG aos 3 anos são as mesmas e foram de 84,2% (69,3% - 100%) e 75,1% (56,6% -99,7%) para os braços A e B, respetivamente (HR: 0,90 (0,28; 2,83)).

Nenhuma diferença na SLP ou SG foi observada entre os dois braços (p=0,85). Os indivíduos sem doença residual visível tiveram melhor SG (HR = 0,23, p = 0,0097). Nenhum caso de síndrome mielodisplásica/leucemia mieloide aguda foi relatado. Não houve eventos adversos de grau >3 durante a terapia neoadjuvante; eventos adversos foram relatados em 16% e 4% dos pacientes nos braços A e B, respectivamente, durante os primeiros 6 meses de terapia adjuvante.

Em síntese, olaparibe neoadjuvante seguido de cirurgia citorredutora foi viável e seguro no câncer de ovário seroso de alto grau sensível à platina recorrente. “Em pacientes com doença ressecável na citorredução secundária, olaparibe isolado no pós-operatório foi tão eficaz quanto a quimioterapia seguida de olaparibe e menos tóxico, sugerindo potencial para uma abordagem livre de quimioterapia nesta população selecionada”, concluíram os autores.

Pesquisas translacionais para avaliar biomarcadores de resposta e resistência estão em andamento.

O estudo (NCT02489006) foi financiado pelo Ontario Institute for Cancer Research (OICR) e pela AstraZeneca.

Referência:

Abstract #5506 - Phase II randomized multi-centre study of neoadjuvant olaparib in patients with platinum sensitive relapsed high grade serous ovarian cancer: The NEO trial.

First Author: Stephanie Lheureux

Citation: J Clin Oncol 42, 2024 (suppl 16; abstr 5506)

DOI: 10.1200/JCO.2024.42.16_suppl.5506