Daniella Audi Blotta (foto), oncologista assistente da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo - foi selecionada para receber o 2024 LIFe, prêmio oferecido pela Conquer Cancer a jovens oncologistas de países em desenvolvimento. O objetivo é proporcionar a realização de um research fellowship com duração de um ano em uma instituição anfitriã nos Estados Unidos, Canadá ou Europa. A cerimônia de premiação acontece no dia 31 de maio durante o 2024 ASCO Annual Meeting (ASCO 2024).

O Long-term International Fellowship (LIFe) é um grant da Conquer Cancer que fornece aos jovens oncologistas em início da carreira de países em desenvolvimento o apoio e os recursos necessários para avançar em sua formação, aprofundando sua relação com um mentor numa instituição anfitriã nos Estados Unidos, Canadá ou Europa. Após um rigoroso e competitivo processo seletivo entre centenas de candidatos ao redor do mundo, apenas um jovem oncologista é selecionado para receber o LIFe grant e realizar o research fellowship. Desde o início da premiação, em 2010, Daniella é a 4ª jovem oncologista do Brasil (6ª da América Latina e 22ª do mundo) a receber o prêmio.

Antes de atuar como oncologista assistente, Daniella realizou o clinical fellowship da BP em 2020, quando iniciou um estudo retrospectivo sob a mentoria do oncologista Antonio Carlos Buzaid, diretor geral do Centro de Oncologia da BP, para avaliar a eficácia da supressão ovariana com agonistas de GnRH (GnRHa) em regime de aplicação trimestral versus mensal em pacientes com câncer de mama na pré-menopausa.

No estudo, foram avaliadas retrospectivamente 88 pacientes na pré-menopausa com diagnóstico de câncer de mama receptor hormonal positivo e tratadas com goserelina trimestral (n=61) ou goserelina mensal (n=27), ambos associados a um inibidor de aromatase. Os níveis de estradiol foram aferidos por espectrometria de massa com cromatografia gasosa, método com alta sensibilidade e especificidade para detectar valores de estradiol com maior precisão em amostras de sangue.

O estudo demonstrou que 14,8% e 40,7% das pacientes nos grupos trimestral e mensal, respectivamente, tiveram pelo menos uma medida de estradiol acima do limite definido de 2,72 pg/mL (p=0,007), revelando uma supressão ovariana subótima. Esses resultados preliminares sugeriram que o GnRHa trimestral pode resultar em melhor eficácia na supressão ovariana em comparação com o GnRHa mensal, além de ser mais conveniente para as pacientes pré-menopausadas com câncer de mama.

Os resultados foram selecionados para apresentação em pôster no ASCO 2023 (Journal of Clinical Oncology 41, no. 16_suppl). Devido à repercussão dos dados, a oncologista desenhou um estudo prospectivo, randomizado de fase II para confirmar os resultados preliminares.

O estudo “Efficacy of ovarian function suppression of 3-monthly versus monthly GnRH agonist as endocrine therapy for premenopausal breast cancer patients: a randomized phase II trial” será conduzido durante o seu research fellowship no serviço de câncer de mama do Memorial Sloan Kettering Cancer Center (MSK), em Nova York, sob mentoria de Mark Robson, chefe do serviço e referência em câncer de mama.

O objetivo primário é determinar que a supressão ovariana com esquema trimestral de GnRHa pode apresentar eficácia pelo menos semelhante ao esquema mensal. As pacientes com câncer de mama receptor hormonal positivo em tratamento no MSK e com indicação de terapia endócrina associada a supressão ovariana serão recrutadas e randomizadas para receber GnRHa em esquema mensal ou trimestral. Os níveis de estradiol serão mensurados por espectrometria de massa periodicamente durante um seguimento de 12 meses.

Se o estudo for confirmatório, haverá um grande potencial de mudança na prática clínica, proporcionando maior conveniência às pacientes com câncer de mama na pré-menopausa, não apenas do Brasil como também de vários países ao redor do mundo.

“Estou muito feliz com essa conquista, que sem dúvida é um marco na minha carreira. É uma grande oportunidade de continuar minha linha de pesquisa em um centro de referência, um dos melhores centros de oncologia do mundo, e quem sabe ajudar muitas pacientes que fazem o tratamento com supressão ovariana, conclui Daniella.