Estudo selecionado para publicação eletrônica no ASCO 2024 analisou o sistema imunológico de uma coorte de pacientes brasileiros com carcinoma espinocelular de cabeça e pescoço, não fumantes e abstêmios de bebidas alcoólicas. O trabalho tem como primeiro autor o Oncologista Gilberto Castro (foto), do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP), e os resultados preliminares sugerem que a frequência de células NK e mieloides no sangue periférico pode variar de acordo com o grau da lesão, como consequência da resposta imune.
O tabagismo e o abuso de álcool são os principais fatores de risco para o carcinoma espinocelular de cabeça e pescoço. No entanto, alguns pacientes não apresentam fatores de risco claros. Neste estudo, Castro e colegas inscreveram até o momento 16 pacientes: 10 mulheres e 6 homens, não fumantes e abstêmios de álcool. Todos os pacientes responderam a um questionário e forneceram amostras de sangue, saliva e amostras do tumor antes do tratamento. A cor da pele autodeclarada foi predominantemente parda (n=8), seguida de branca (n=6), preta (n=1) e amarela (n=1). A mediana de idade foi 56,5 anos. Os pacientes foram diagnosticados com carcinoma oral (n=10), glótico (n=1), orofaríngeo (N=1), lábio e gengiva (n=4); estádios clínicos I (n=3), II (n=6); III (n=1) e IVA (n=5). Quatorze pacientes já foram operados.
A análise do sangue periférico revelou que, dentro da população de células mononucleares, as células CD16+CD66b-HLA-DR-, possivelmente NK, foram significativamente mais frequentes em pacientes com câncer em estágio III e IVA, do que em pacientes com câncer em estágio I e II. Houve também correlação negativa significativa entre a frequência de células CD16+ na população mononuclear e a idade dos pacientes.
A análise mostrou, ainda, que pacientes com lesões graus I e II apresentam 20 vezes mais células CD16+CD66b+PD-L1+ na população de granulócitos, do que pacientes com lesões graus III e IV. “É possível que uma resposta dirigida por IFN gama possa, em parte, ser responsável pela indução da expressão de PD-L1 em granulócitos. Esta hipótese é corroborada pela correlação positiva entre o nível de expressão de PD-L1 na população de granulócitos e a frequência da população CD16+CD66b- (p=0,01, correlação de Pearson 0,62). Nenhum outro parâmetro, que incluiu linfócitos T e B e monócitos, apresentou correlação com dados clínicos”, esclarecem os pesquisadores.
Em conclusão, esses resultados sugerem que, na coorte analisada, a frequência de células NK e mieloides pode variar de acordo com o grau da lesão, como consequência da resposta imune. “Porém, estes são resultados preliminares, e a aquisição de outros parâmetros, bem como uma amostra maior, será necessária para conclusões definitivas”, destacam.
Além de Gilberto Castro, o estudo tem a participação de Paula Lepique, Lorraynne Cruz, Fátima Pasini, Simone Maistro, Rosimeire Roela, Maria Lúcia Katayama, Ana Carolina Ribeiro, Alexandre dos Santos, Maria Koike Folgueira e Luiz Paulo Kowalski.
Referência
Immune system evaluation in a cohort of Brazilian patients with head and neck squamous cell carcinoma who are non-smokers and alcoholic beverages abstainers. J Clin Oncol 42, 2024 (suppl 16; abstr e18030)