Recomendações da Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos EUA (USPSTF) de 2021 são mais eficazes do que os critérios da USPSTF de 2013 na redução das disparidades sociodemográficas no risco de morte por câncer de pulmão no Brasil. É o que demonstra estudo aceito para publicação eletrônica no ASCO 2024, com participação dos pesquisadores Isabel Emmerick (foto), da Universidade de Massachusetts, e Mario Jorge Sobreira da Silva, do Instituto Nacional do Câncer (INCA), respectivamente primeira autora e autor sênior (na foto, à direita).
O câncer de pulmão (CP) é um importante problema de saúde pública e foi o segundo câncer mais frequente em 2020, quando foi também a causa mais frequente de mortalidade relacionada ao câncer em todo o mundo, inclusive no Brasil. Estima-se que até 2025, o câncer de pulmão (CP) será o segundo câncer mais frequente no Brasil, mas o país não possui uma política de rastreamento de CP.
Nesta análise, Emmerick e colegas compararam o número de indivíduos elegíveis para triagem do câncer de pulmão, as mortes evitáveis por CP em 5 anos, assim como os anos de vida ganhos se a morte por CP fosse evitada por estratégias de rastreamento, considerando 3 critérios de elegibilidade por características sociodemográficas.
A eficácia de cada estratégia de rastreamento foi comparada por ferramentas validadas de avaliação de risco (Lung Cancer- Death Risk Assessment Tool e Lung Cancer-Risk Assessment Tool). Os dados populacionais foram baseados na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios de 2019. Os participantes incluíram fumantes com idade entre 50 e 80 anos. A análise dos dados foi realizada no período de fevereiro a maio de 2023.
A análise comparou as recomendações da USPSTF de 2013 (fumantes com idade entre 55 e 80 anos com ≥30 anos-maço e <15 anos desde a cessação) e diretrizes da USPSTF 2021 (fumantes com idade entre 50 e 80 anos, com 20 maços-ano e <15 anos desde a cessação).
Os resultados da análise mostram que a população elegível para o rastreamento por câncer de pulmão no Brasil foi de 2.728.0920 fumantes com idade entre 50 e 80 anos (1.338.7552 mulheres [49,1%]; 1.324.9531 [48,6%] com idade entre 50 e 60 anos; 394.994 asiáticos ou indígenas [1,4%]; 3111676 negros [11,4%]; 10942640 pardos [40,1%]; 12830904 brancos [47,0%]; 47,1%] residentes na região Sudeste).
Os autores descrevem que 5.144.322 indivíduos atenderam aos critérios da USPSTF 2013 para RCP (2.090.636 mulheres [40,6%]; 2.290.219 [44,5%] com idade entre 61 e 70 anos; 66.430 asiáticos ou indígenas [1,3%]; 491.527 negros [9,6%]; 2.073.836 pardos [40,3%] e 2.512.529 [48,8%] brancos; 2.436.221 [47,4%] com ensino médio incompleto e 2.577.300 [50,1%] residentes na região Sudeste).
8.380.279 indivíduos atenderam aos critérios da USPSTF 2021 (3.507.760 mulheres [41,9%]; 4.352.740 [51,9%] com idade entre 50 e 60 anos; 119.925 asiáticos ou indígenas [1,4%]; 839.171 negros [10,0%]; 3330497 pardos [39,7%] e 4090687 [48,8%] brancos; 4022784 [48,0%] com ensino médio incompleto e 4162070 [49,7%] residentes na região Sudeste).
A análise mostra que o número necessário para RCP para evitar 1 morte foi de 177 indivíduos de acordo com os critérios da USPSTF 2013 e 242 indivíduos de acordo com os critérios da USPSTF 2021. O cálculo de anos de vida ganhos foi 23 para todos os que já fumaram, 19 para os critérios USPSTF 2013 e 21 para os critérios USPSTF 2021. Ser negro, ter escolaridade inferior ao ensino médio e residir nas regiões Norte e Nordeste foram associados ao aumento do risco de morte por câncer de pulmão em 5 anos.
“Neste estudo de eficácia comparativa, os critérios da USPSTF 2021 foram melhores do que os da USPSTF 2013 na redução das disparidades nas taxas de mortalidade por CP. No entanto, o risco de morte por CP permaneceu desigual e estes resultados sublinham a importância de identificar uma abordagem apropriada para populações de alto risco para rastreamento do câncer de pulmão, considerando o contexto epidemiológico local”, concluem os autores.
Referência:
Factors associated with early-stage lung cancer diagnosis (ESLCD) in Brazil, 2013-2019: A multivariable analysis. J Clin Oncol 42, 2024 (suppl 16; abstr e20091).