Onconews - Tabagismo e status do HPV no microambiente imune do câncer de orofaringe

Renata Ferrarotto (foto), do MD Anderson Cancer Center, é autora sênior de estudo selecionado para apresentação em poster no ASCO 2024, que tem como primeira autora a pesquisadora Luana Guimarães de Sousa (na foto, à direita). O trabalho analisa o microambiente imune e o prognóstico do carcinoma de células escamosas de orofaringe de acordo com o HPV e o status de tabagismo.

O carcinoma de células escamosas de orofaringe (CCEO) apresenta características epidemiológicas, genéticas e clínicas distintas, influenciadas pela presença do HPV. Apesar da terapia multidisciplinar, aproximadamente 40% dos pacientes com CCEO apresentam recorrência, e aqueles que alcançam a cura muitas vezes sofrem sequelas tardias e mórbidas do tratamento.

Neste estudo, os pesquisadores analisam a composição e o status funcional do microambiente imune tumoral (MIT) em uma coorte de pacientes com CCEO tratados com intenção curativa e investigam as diferenças no MIT com base na infecção por HPV, tabagismo e resultados clínicos.

Dois microarrays de tecidos com amostras de CCEO foram realizados com um painel previamente validado, contendo 33 marcadores. A citometria de massa de imagem foi realizada com o instrumento Fluidigm Helios CyTOF e a análise utilizou o software Visiopharm. O status do HPV foi determinado por IHC e/ou teste de DNA. A comparação dos tipos de células e densidades de marcadores entre os subgrupos (HPV positivo vs negativo) foi analisada com o teste de Wilcoxon e sua associação com desfechos clínicos (recorrência vs sem recorrência) com log-rank e riscos proporcionais de Cox.

Os resultados mostram que 99 amostras de 61 pacientes de uma única instituição foram incluídas neste estudo. A maioria dos pacientes eram do sexo masculino (N=47, 77%) e fumantes  (N=55, 90%); 72% eram HPV-negativos. A idade média foi de 61 anos (variação de 39 a 87 anos) e 52% dos casos foram diagnosticados com estágios III-IVB (AJCC 8ª edição). A maioria dos pacientes (57%) foi tratada com cirurgia (±RT). Trinta e três pacientes (54%) apresentaram doença recorrente. Tabagismo, estágio III-IVB e tumores HPV negativos foram associados a maiores taxas de recorrência (p <0,01).

Em relação ao microambiente imune do CCEO, as populações celulares mais prevalentes no estroma foram os fibroblastos (22%), seguidos pelas células T (17%) e células endoteliais (10%). O estroma de tumores HPV+ exibiu densidades mais altas de células T de memória (FDR <0,01), células B (FDR = 0,02) e células T (FDR = 0,02) em comparação com contrapartes negativas para HPV, que exibiram densidade aumentada de neutrófilos (FDR = 0,04). A densidade de células-tronco cancerígenas foi diretamente associada ao histórico de tabagismo (FDR<0,001), e um aumento na densidade de células B intratumorais foi encontrado em não fumantes (FDR=0,01). Maior densidade de neutrófilos intratumorais foi associada à doença recorrente (FDR < 0,001). Por outro lado, maior densidade de células T CD8+ de memória e macrófagos não-M2 no microambiente imune foram associadas a menor chance de recorrência (FDR <0,1).

A análise do microambiente imune do  carcinoma de células escamosas de orofaringe revelou diferenças significativas de acordo com o HPV e o tabagismo, assim como destacou o papel prognóstico dos neutrófilos, células T CD8 + de memória e macrófagos não-M2. Esses achados podem orientar o desenvolvimento de estratégias terapêuticas personalizadas para o CCEO.

Referência:

The immunological milieu of oropharyngeal squamous cell carcinoma (OPC) according to HPV and smoking status and its influence on prognosis
J Clin Oncol 42, 2024 (suppl 16; abstr 3147)
Abstract #3147/ Poster Bd #292