Estudo multicêntrico brasileiro que tem como primeiro autor o oncologista Marcelo Aruquipa (foto), do grupo Oncoclínicas, analisou a associação do status KRAS G12C com a idade de início do câncer colorretal metastático (mCRC) na população brasileira. Os resultados refletem a maior coorte envolvendo diferentes perfis moleculares - RAS, BRAF e instabilidade de microssatélites (MSI) - e revelam que a presença da mutação KRAS G12C foi associada ao mCRC de início precoce.
Neste estudo observacional, retrospectivo e multicêntrico, aceito para apresentação em poster no ASCO GI 2024, foram revisados prontuários médicos anonimizados de pacientes adultos (≥18 anos de idade) com CCRm, no período de janeiro de 2019 a julho de 2023. Todas as amostras foram revisadas centralmente, com análises baseadas em tecidos. Os pesquisadores revisaram dados demográficos, incluindo idade, sexo, região de origem e lateralidade. Os dados moleculares incluíram o status de RAS, BRAF e de reparo de incompatibilidade (MMR).
Os resultados revelam que um total de 858 casos foram incluídos. A idade média foi de 63,7 anos (variação de 22 a 95) e 11,9% tinham < 45 anos. Os pacientes do sexo masculino representavam 50,3% da população e 76,1% eram da região Sudeste. Os tumores do lado esquerdo representaram 59,2% dos casos, 36,8% eram do lado direito e 4% não foram especificados. O KRAS selvagem correspondeu a 46,7% do total de casos, enquanto 49,4% eram KRAS mutados e 3,9% NRAS mutados. As mutações KRAS mais comuns foram G12V (27,6%) e G12D (23,5%).
A mutação KRAS G12C foi encontrada em 6,4% de todos os tumores KRAS mutados. A mutação NRAS mais comum foi a Q61K (24,2%). Apenas 7,3% dos casos tiveram mutação BRAF, a maioria deles V600E, enquanto apenas 5 mutações não V600E foram detectadas. MSI-alto esteve presente em apenas 14 casos (1,6%). Na análise estratificada por idade, o lado esquerdo (p = 0,001) e a mutação KRAS G12C (p = 0,016) foram associados à idade mais jovem (<45 anos). Na análise estratificada por lateralidade, idade mais jovem (p = 0,001), mutação BRAF (p = 0,001) e status MSI alto (p = 0,009) foram mais comuns em tumores do lado direito.
“Em nossa coorte brasileira de pacientes com CCRm, as frequências de mutações RAS e BRAF foram semelhantes aos dados mundiais. No entanto, encontramos frequência inferior ao esperado de tumores com alto índice de MSI. A mutação KRAS G12C foi associada ao mCRC de início precoce, uma população emergente na qual os inibidores KRAS G12C podem ser particularmente úteis. Até onde sabemos, esta é a maior coorte da população brasileira com CCRm relatando status RAS, BRAF e MSI”, concluem os autores, acrescentando que estudos maiores são necessários para confirmar esses achados.
Além do oncologista Marcelo Aruquipa, o estudo tem participação de Renata D'Alpino Peixoto, Rodrigo Dienstmann, Fernanda Oliveira e Vinicius Lorandi.
Referência: Association of KRAS G12C status with age at onset of metastatic colorectal cancer in the Brazilian population: A multicenter analysis of a molecular profile database (RAS, BRAF and MSI status). J Clin Oncol 42, 2024 (suppl 3; abstr 173). DOI 10.1200/JCO.2024.42.3_suppl.173