Angelo Borsarelli Carvalho Brito (na foto, à esquerda) é primeiro autor de estudo do AC Camargo Cancer Center selecionado para apresentação em poster no ASCOGI 2024. O trabalho tem como autor senior o médico Tiago Cordeiro Felismino (foto) e descreve tendências de sobrevida no câncer gástrico em uma grande coorte de pacientes atendidos na instituição, de 2000 a 2017.
O câncer gástrico (CG) é a quarta principal causa de mortes por câncer em todo o mundo e faltam dados reais sobre CG no Brasil. Nesta análise, Felismino e colegas usaram o Banco de Dados de Registro Hospitalar de Câncer da instituição e todos os indivíduos diagnosticados com câncer gástrico entre 2000 e 2017, tratados no A.C. Camargo Cancer Center, foram incluídos retrospectivamente. Os objetivos principais foram descrever a demografia do paciente, características clinicopatológicas, modalidades de tratamento e tendências de sobrevida durante quatro períodos distintos de diagnóstico (2000-2004; 2005-2009; 2010-2014; e 2015-2017). O teste do χ2 foi realizado entre dois períodos especificados (2000-2004 e 2015-2017) para comparação de variáveis. As curvas de sobrevida global (SG) foram estratificadas por quatro períodos separados e comparadas com testes log-rank.
A análise compreendeu uma coorte retrospectiva de 1.406 pacientes (552 mulheres e 854 homens). Em todos os períodos, a maioria dos pacientes eram homens com idade entre 50 e 69 anos e apresentavam o subtipo intestinal de Lauren. Os autores descrevem diferenças significativas entre os grupos de estadiamento durante o estudo. Especificamente, entre 2000-2004, o estágio IV variou de 43,6% para 32,8% em 2015-2017 (P<0,001). A variação mais substancial nos casos não metastáticos ocorreu no estágio II, compreendendo 9,4% dos casos de 2000-2004 e aumentando para 24,8% em 2015-2017 (P<0,001).
Em relação às modalidades de tratamento, os pesquisadores observaram maior utilização de abordagem combinada envolvendo quimioterapia e cirurgia. De 2000 a 2004, apenas 12% dos pacientes receberam um regime de tratamento multimodal composto por quimioterapia e cirurgia, enquanto, entre 2015 e 2017 essa proporção aumentou para 36,3% (P<0,001). Além disso, os pacientes que receberam cirurgia + radioterapia + quimioterapia variaram de 12,4% em 2000-2004 para 4,5% em 2015-2017 (P<0,001).
A análise de toda a coorte mostrou que a SG prevista em 5 anos para pacientes com CG entre 2000-2004 foi de 27,8% e aumentou para 53,9% no período de 2015-2017 (P<0,001). Entre as mulheres, a SG em 5 anos aumentou de 31,3% entre 2000-2004 para 58,5% entre 2015-2017 (P = 0,001). Entre os homens, a SG em 5 anos aumentou de 25,2% para 51,0% na mesma comparação (P<0,001).
“Nossos dados hospitalares mostram uma tendência ascendente nas taxas de sobrevida em pacientes com câncer gástrico. Observamos que a SG em 5 anos quase dobrou entre homens e mulheres durante o período analisado. Melhorias recentes nos métodos de estadiamento e tratamento aumentaram as taxas de cura. No entanto, investigações adicionais são essenciais para determinar diferenças significativas na SG entre homens e mulheres”, concluem os autores.
Além de Angelo Borsarelli Carvalho Brito e Tiago Cordeiro Felismino, o estudo tem a participação de Diego Rodrigues Mendonca e Silva, Maria Paula Curado, Lais Corsino Durant, Rodrigo Gomes Taboada, Adriane Graicer Pelosof, Alessandro Landskron Diniz e Felipe José Fernández Coimbra, todos do AC Camargo Cancer Center. Os dados apresentados em câncer gástrico fazem parte de um projeto mais amplo da instituição, chamado "Observatório do Câncer", que tem como coordenadora técnico-científica a epidemiologista Maria Paula Curado.
Referência: Survival trends in gastric cancer in Brazil: Real-life data from a large cancer center. J Clin Oncol 42, 2024 (suppl 3; abstr 413)