Onconews - inMIND: adição de tafasitamab à lenalidomida e rituximabe melhora resultados no linfoma folicular recidivante ou refratário

A adição de tafasitamab à lenalidomida + rituximabe resultou em melhora clinicamente significativa na sobrevida livre de progressão em pacientes com linfoma folicular recidivante/refratário, representando uma redução de 57% no risco de progressão, recidiva ou morte. “Este estudo é o primeiro a validar a combinação de dois anticorpos monoclonais (anti-CD19 com anti-CD20) no tratamento do linfoma”, destacaram os autores do estudo de fase inMIND, selecionado como Late Breaking Abstract 1 (LBA1) no ASH 2024. Os resultados serão apresentados por Laurie Sehn (foto), professora na Universidade de British Columbia, em Vancouver, Canadá.

O linfoma folicular é caracterizado por episódios de remissão e recidiva, com pacientes exigindo múltiplas linhas de tratamento. Embora a quimioimunoterapia seja frequentemente usada na linha de frente, ela produz uma duração de resposta mais curta com linhas sucessivas de tratamento. No cenário recidivado/refratário (R/R), as abordagens de imunoterapia são preferidas, mas ainda há uma necessidade de melhorar a durabilidade.

Lenalidomida (len) + rituximabe (R) é aprovada após ≥1 linha anterior de tratamento e frequentemente usada. Tafasitamabe (tafa), um anticorpo monoclonal humanizado direcionado ao CD19 (mAb), induz citotoxicidade direta e melhora os mecanismos imunomediados de células NK e macrófagos. Tafasitamabe foi previamente aprovado em combinação com lenalidomida para Linfoma difuso de grandes células B (LDGCB) recidivante/refratário com base no estudo L-MIND.

inMIND (NCT04680052) é um estudo internacional de fase 3, duplo-cego, randomizado, controlado por placebo, multicêntrico, que avalia a eficácia e a segurança da adição de tafasitamabe à combinação de lanalidomida + rituximabe em pacientes com linfoma folicular recidivante/refratário ou linfoma de zona marginal. O estudo foi desenvolvido para avaliar a sobrevida livre de progressão apenas em pacientes com linfoma folicular; a análise primária planejada foi apresentada no ASH 2024.

Pacientes ≥18 anos com linfoma folicular recidivante / refratário CD19+ e CD20+ (grau 1-3A) e ECOG PS ≤2, necessitando de tratamento após ≥1 terapia sistêmica anterior incluindo um mAb anti-CD20, foram randomizados 1:1 para receber tafasitamabe 12 mg/kg IV ou placebo nos dias (D) 1, 8, 15 e 22 dos ciclos (C) 1-3 e D1 e D15 de C4-12 com dosagem padrão de lenalidomida + rituximabe por até doze ciclos de 28 dias.

O endpoint primário foi a SLP avaliada pelo investigador, planejada para análise após 174 eventos observados. Os endpoints adicionais incluíram taxa de PET-CR (população ávida por FDG), SG, SLP (por comitê de revisão independente [IRC]), ORR, duração de resposta (DOR), segurança e tempo para o próximo tratamento (TTNT).

Resultados

Foram randomizados 548 pacientes com linfoma folicular: tafasitamabe, n=273; placebo, n=275. Os dados demográficos na linha de base foram semelhantes entre os braços: idade média de 64 anos (variação, 31-88); 55% homens; 79% Follicular Lymphoma Interntional Prognostic Index (FLIPI) de risco intermediário ou alto; 83% alta carga tumoral por critérios GELF. O número médio de linhas anteriores de tratamento foi 1 (variação, 1-10), 45% tinham ≥2 linhas anteriores, 32% tiveram progressão da doença em 24 meses (POD24) e 43% eram refratários ao mAb anti-CD20 anterior.

No corte de dados, os pacientes nos braços tafasitamabe e placebo receberam uma mediana de 12 e 11 ciclos de tratamento, 19% e 15% ainda estavam em tratamento, 81% e 84% interromperam o tratamento, principalmente devido à conclusão (54% e 43%) ou progressão da doença (11% e 31%), respectivamente.

Com acompanhamento mediano de 14,1 meses, a adição de tafasitamabe à lenalidomida + rituximabe resultou em risco significativamente menor de progressão, recidiva ou morte em comparação com placebo (SLP mediana avaliada pelo investigador, 22,4 meses versus 13,9 meses; razão de risco [HR] [IC 95%], 0,43 [0,32, 0,58]; P<0,0001). O benefício foi confirmado pela avaliação do IRC (SLP mediana não atingida [NR] com tafasitamabe versus 16,0 meses com placebo; HR [IC de 95%], 0,41 [0,29, 0,56]; P < 0,0001).

O benefício de sobrevida live de progressão com tafasitamabe foi consistente em todos os subgrupos pré-especificados analisados, incluindo pacientes com POD24, pacientes refratários ao mAb anti-CD20 anterior, e pacientes recebendo múltiplas linhas anteriores de tratamento. A taxa de PET-CR (49,4% vs 39,8%; P = 0,029) e a ORR (83,5% vs 72,4%; P = 0,0014) foram maiores com tafasitamabe versus placebo. A mediana de duração de resposta foi melhorada com tafasitamabe versus placebo (mediana 21,2 m vs 13,6 m; HR [IC 95%], 0,47 [0,33, 0,68]; P<0,0001), assim como TTNT (mediana NR vs 28,8 m; HR [IC 95%], 0,45 [0,31, 0,64]; P<0,0001).

Apesar dos dados de sobrevida global estarem imaturos, houve uma tendência a favor de tafasitamabe (HR [IC 95%], 0,59 [0,31, 1,13]). Uma taxa semelhante de eventos adversos relacionados ao tratamento (TEAEs) (99% versus 99%), EAs de grau (gr) 3 ou 4 (71% vs 69,5%) e EAs graves (36% vs 32%) foram observados com tafasitamabe e placebo, respectivamente.

Os EAs mais comuns de graus 3 ou 4 com tafasitamabe versus placebo foram neutropenia (40% vs 38%), pneumonia (8% vs 5%), trombocitopenia (6% vs 7%), diminuição de neutrófilos (6% vs 7%), COVID-19 (6% vs 2%) e pneumonia por COVID-19 (5% vs 1%). Eventos adversos relacionados ao tratamento que levaram à descontinuação foram relatados por 11% e 7% dos pacientes nos braços tafasitamabe e placebo. No total, 15 pacientes (5,5%) no braço tafasitamabe e 23 (8,5%) no braço placebo morreram durante o estudo, incluindo 5 (2%) versus 17 (6%) devido à progressão da doença e 6 (2%) em cada braço devido a eventos adversos fatais.

Em síntese, a adição de tafasitamabe à lenalidomida + rituximabe resultou em melhora significativa e clinicamente significativa na sobrevida livre de progressão, representando uma redução de 57% no risco de progressão, recidiva ou morte em pacientes com linfoma folicular recidivante/refratário. Embora os dados de sobrevida global sejam imaturos, foi observada uma tendência a favor de tafasitamabe.

“O perfil de segurança foi manejável e consistente com as toxicidades esperadas. Este estudo é o primeiro a validar a combinação de dois mAbs (anti-CD19 com anti-CD20) no tratamento do linfoma. Tafasitamabe + lenalidomia + rituximabe pode ser administrado em ambientes comunitários e acadêmicos e representa uma nova opção potencial de padrão de tratamento para pacientes com linfoma folicular recidivante/refratário”, concluíram os autores.

Referência: 

LBA-1 Tafasitamab Plus Lenalidomide and Rituximab for Relapsed or Refractory Follicular Lymphoma: Results from a Phase 3 Study (inMIND)

Program: Marquee Sessions
Session: Late-Breaking Abstracts Session
Tuesday, December 10, 2024, 7:30 AM-9:00 AM