Onconews - Estudo mostra eficácia de doses mais baixas de everolimus em tumores neuroendócrinos avançados

A oncologista Rachel Riechelmann (foto), Diretora de Oncologia e Líder do Centro de Referência de Tumores Neuroendócrinos do A.C.Camargo Cancer Center, é primeira autora de estudo selecionado para apresentação em pôster no ESMO 2024 que avaliou a eficácia do everolimus em doses mais baixas em pacientes com tumores neuroendócrinos avançados. “Nossos resultados mostraram resultados semelhante entre as doses, com menos toxicidade e custo reduzido”, destacam os autores.

Everolimus 10 mg por dia é aprovado para pacientes com tumores neuroendócrinos (TNE) avançados G1/G2, mas leva a toxicidade significativa. Nos ensaios de fase I, 5 mg diários de everolimus foi eficiente na inibição da proteína mTOR, com melhor tolerância.

Este estudo multicêntrico retrospectivo comparou o tempo até a falha do tratamento (do inglês, TTF - time to treatment failure) em pacientes com TNE que receberam uma dose diária média de 6,1 – 10 mg (dose mais alta [higher dose, HD]) ou 6 mg ou menos (dose mais baixa [lower dose, LD]) de everolimus. O endpoint primário foi o TTF - desde C1D1 até progressão tumoral, tratamento alterado por toxicidade/intolerância ou morte.

O TTF e a sobrevida global (SG) foram comparados entre os grupos de dose. A redução da dose foi decidida pelo médico assistente e pode ser inicial (para fragilidade, idade avançada) ou durante o tratamento devido a toxicidades. Análises multivariadas de regressão de Cox para tempo até a falha do tratamento e sobrevida global foram realizadas para ajustar variáveis ​​prognósticas (idade em C1D1 de everolimus), grau TNE [3 v 1 e 2], linha de everolimus (3 ou mais v 1 ou 2) e dose de everolimus [LD v HD]).

Resultados 

Entre agosto de 2011 e setembro de 2023 foram incluídos 92 pacientes: 74 (80%) no grupo de alta dose e 18 (20%) no grupo de baixa dose. As doses diárias médias nos grupos de alta dose e baixa dose foram: 9,6 mg (variação: 6,8 – 10) e 5,3 mg (4,7 – 6), respectivamente. No grupo de alta dose, 24% dos pacientes necessitaram de redução de dose e 23% tiveram interrupção permanente.

Num seguimento médio de 4,2 anos, o TTF mediano foi de 9,2 meses (IQR: 3,7 – 32) para os doentes em HD e 7,2 meses (IQR: 3,9 – 27) para os doentes em LD (log rank p = 0,85). O TTF também não foi significativamente diferente de acordo com a baixa dose versus alta dose (HR: 1,24, IC 95%: 0,68 - 2,25; p = 0,47), após ajuste para idade em C1D1 do everolimus (HR: 1,02; IC 95%: 1,01 - 1,04; p = 0,002), grau de TNE (HR: 1,27, IC 95%: 0,95 - 1,71; p = 0,11) ou linha de tratamento (HR: 1,55, IC 95%: 0,92 - 2,62; p = 0,09).

Nos grupos de baixa e alta dose, a mediana de sobrevida global foi de 3,6 anos (IQR: 1,4 – 6) e 6,5 anos (IQR: 1,37 – 9,98; log rank p = 0,57), respectivamente. No modelo de Cox, idade (HR: 1,03, IC 95%: 1,01 – 1,05; p = 0,007), grau TNE (HR: 1,68, IC 95%: 1,15 – 2,47; p = 0,008) e linha de everolimus (HR: 2,1; IC 95%: 1,05 - 4,13; p = 0,036), mas não a dose diária média de everolimus (HR: 1,32, IC 95%: 0,56 - 3,13; p = 0,53), foram independentemente associados à sobrevida global.

Em conclusão, everolimus 5 a 6 mg/dia leva a eficácia semelhante a doses mais altas, com menos toxicidade e menor custo. “Com base nesses dados, estamos conduzindo um estudo randomizado para avaliar 5mg/dia versus 10mg/dia em pacientes com TNE (NCT06472388)”, destaca Rachel.

O estudo tem participação dos pesquisadores Ângelo Carvalho De Brito, Rui Weschenfelder, Ana Luiza Da Silva e Rodrigo Gomes Taboada.

Referência: 

1156P - The efficacy of lower doses of everolimus in patients with advanced neuroendocrine tumors 

Speaker: Rachel Riechelmann (Sao Paulo, Brazil)