Onconews - NIAGARA: durvalumabe perioperatório mostra benefício de sobrevida global no câncer de bexiga ressecável

Apresentado em sessão plenária no ESMO 2024, o estudo de Fase 3 NIAGARA mostrou que durvalumabe perioperatório combinado com quimioterapia neoadjuvante resultou em melhorias significativas na sobrevida livre de eventos e na sobrevida global em comparação com a quimioterapia neoadjuvante isoladamente em pacientes com com câncer de bexiga músculo-invasivo resecável. “Este novo esquema de tratamento é uma potencial nova opção padrão para o tratamento dessa poúlação de pacientes”, afirmou Ariel Kann (foto), oncologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e coautor do trabalho, que teve publicação simultânea na New England Journal of Medicine (NEJM).

Há cerca de 40 anos o tratamento padrão do carcinoma urotelial de bexiga músculo-invasivo com doença localizada (T2-T4a N0-1 M0) em pacientes cisplatina-elegivel consiste de quimioterapia neoadjuvante baseada em cisplatina seguido de cistectomia radical. Recentemente, a imunoterapia tem demonstrado importantes ganhos na doença metastática e localmente avançada.

O estudo de Fase 3 NIAGARA, aberto e randomizado, incluiu pacientes com câncer de bexiga músculo-invasivo elegíveis para cisplatina (T2-T4a N0-1 M0) que foram randomizados (1:1) para receber durvalumabe neoadjuvante mais gencitabina-cisplatina a cada 3 semanas por quatro ciclos, seguido por cistectomia radical e durvalumabe adjuvante a cada 4 semanas por oito ciclos (grupo durvalumabe), ou gemcitabina-cisplatina neoadjuvante seguida de cistectomia radical isoladamente (grupo de comparação). A sobrevida livre de eventos foi um dos dois desfechos primários. A sobrevida global foi o principal desfecho secundário. 

Resultados

No total foram incluídos 1063 pacientes, sendo 533 pacientes randomizados para o grupo durvalumabe e 530 para o braço de tratamento padão (braço de comparação). A sobrevida livre de eventos estimada em 24 meses foi de 67,8% (intervalo de confiança [IC] de 95%, 63,6 a 71,7) no grupo durvalumabe e 59,8% (IC 95%, 55,4 a 64,0) no grupo de comparação (razão de risco para progressão, recorrência, não sofrer cistectomia radical ou morte por qualquer causa, 0,68; IC 95%, 0,56 a 0,82; P<0.001 por teste log-rank estratificado).

A sobrevida global estimada em 24 meses foi de 82,2% (IC 95%, 78,7 a 85,2) no grupo durvalumabe e 75,2% (IC 95%, 71,3 a 78,8) no grupo de comparação (razão de risco para morte, 0,75; IC 95% , 0,59 a 0,93; P = 0,01 pelo teste log-rank estratificado).

“O tratamento adjuvante com nivolumabe, baseado no estudo CheckMate-274, não era aprovado na época de inclusãao deste estudo e foi aplicado apenas em 4 participantes. As terapias mais recentes com enfortumabe vedotin + pembrolizumabe no contexto metastático também eram pouco difundidas na ocasião do estudo”, observou Kann. 

Eventos adversos relacionados ao tratamento de grau 3 ou 4 ocorreram em 40,6% dos pacientes no grupo durvalumabe e em 40,9% daqueles no grupo de comparação; eventos adversos relacionados ao tratamento que levaram à morte ocorreram em 0,6% em cada grupo. A cistectomia radical foi realizada em 88,0% dos pacientes do grupo durvalumabe e em 83,2% dos pacientes do grupo de comparação.

Em conclusão, durvalumabe perioperatório mais quimioterapia neoadjuvante levou a melhorias significativas na sobrevida livre de eventos e na sobrevida global em comparação com a quimioterapia neoadjuvante isoladamente.

O estudo NIAGARA é financiado pela AstraZeneca e está registrado em ClinicalTrials.gov, NCT03732677.

Referência:

Perioperative Durvalumab with Neoadjuvant Chemotherapy in Operable Bladder Cancer - Thomas Powles, M.D., James W.F. Catto, Ph.D., F.R.C.S.(Urol.), Matthew D. Galsky, M.D., Hikmat Al-Ahmadie, M.D., Joshua J. Meeks, M.D., Ph.D., Hiroyuki Nishiyama, M.D., Ph.D., Toan Quang Vu, M.D., Lorenzo Antonuzzo, M.D., Pawel Wiechno, M.D., Vagif Atduev, M.D., Ariel G. Kann, M.D., Tae-Hwan Kim, M.D., Cristina Suárez, M.D., Ph.D., Chao-Hsiang Chang, M.D., Florian Roghmann, M.D., Mustafa Özgüroğlu, M.D., Bernhard J. Eigl, M.D., Niara Oliveira, M.D., Tomas Buchler, M.D., Ph.D., Moran Gadot, M.D., Yousef Zakharia, M.D., Jon Armstrong, M.Sc., Ashok Gupta, M.D., Ph.D., Stephan Hois, M.D., and Michiel S. van der Heijden, M.D., Ph.D., for the NIAGARA Investigators*