Onconews - Pesquisa brasileira mostra que mulheres negras têm risco 60% maior de mortalidade por câncer de mama

Estudo destacado no ESMO 2024 explorou a associação entre fatores sociodemográficos e a sobrevida de mulheres diagnosticadas com câncer de mama em todos os hospitais que compõem a Rede de Atenção Oncológica do estado do Espírito Santo, entre 2000 e 2016. Os resultados foram apresentados por  Luís Carlos Lopes-Júnior  (foto), do Grupo de Pesquisa em Oncologia, e mostram que determinantes como raça/cor, idade ao diagnóstico, estado civil e nível de escolaridade afetam os resultados de sobrevida, indicando que mulheres negras têm risco 60% maior de mortalidade específica por câncer de mama.

No Brasil, segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), a estimativa para o triênio 2023-2025 é de 73.610 novos casos de câncer de mama, representando o tumor com maior incidência em regiões com maior Índice de Desenvolvimento Humano. Além disso, o maior risco estimado é observado na Região Sudeste do Brasil, com 84,46 por 100 mil mulheres.

Neste estudo de coorte retrospectivo observacional de base hospitalar, foram considerados dados extraídos dos Registros Hospitalares de Câncer e do Sistema de Informação sobre Mortalidade do estado do Espírito Santo, compreendendo 12.096 pacientes com câncer de mama. Os casos foram divididos em óbito por câncer de mama, óbito por outras causas e sobreviventes em até 5 anos. Para a sobrevida de 5 anos, os métodos Kaplan-Meier e LogRank foram usados; o modelo de riscos proporcionais de Cox para causa específica de morte foi usado na análise multivariada.

Resultados

A coorte hospitalar revelou que 8.184 (67,66%) das mulheres sobreviveram até o fim do tratamento, 2.947 (24,28%) morreram de câncer de mama e 9.075 (8,06%) morreram de outras causas. A sobrevida específica geral foi de 82% em 5 anos. A análise multivariada revelou que a raça é um fator de risco para morte específica por câncer de mama, demonstrando que mulheres negras têm um risco 60% maior de mortalidade específica por câncer de mama do que mulheres brancas (HR = 1,601; IC de 95%: 1,303-1,967; p < 0,001). O estado civil é outro importante fator de risco para morte específica por câncer de mama, com  risco 31% maior de mortalidade em mulheres solteiras na comparação com mulheres casadas (HR=1,314; IC95%:1,188-1,454; p<0,001).

“Há disparidades sociais na sobrevida de 5 anos ao câncer de mama, mediada principalmente pela idade no diagnóstico, raça/cor, estado civil e nível de escolaridade”, destacam os autores, sublinhando a necessidade de ampliar a qualidade do programa de rastreamento do câncer de mama e facilitar o acesso ao diagnóstico e tratamento precoces para reduzir as disparidades e iniquidades em saúde.

Referência:

Abstract 5922 - Social disparities in the survival of women with breast cancer in Brazil - R.M. Pessanha 1 , L.S. DellʼAntonio 1 , C.S. DellAntônio 2 , W.R. Grippa 1 , L.C. Lopes-Júnior 1 ; 1Health Sciences Center, Graduate Program in Public Health, Universidade Federal do Espírito Santo, Campus de Maruípe, Vitoria, Brazil, 2Health Sciences Center, Hospital Sirio Libanes, Sao Paulo, Brazil