Pacientes com carcinoma ductal in situ de baixo risco receptor hormonal positivo (HR+), HER2-negativo, submetidos a monitoramento ativo apresentaram taxas de recorrência de câncer de mama ipsilateral invasivo em dois anos semelhantes àqueles submetidos ao tratamento recomendado pelas diretrizes. O estudo foi apresentado em General Session no SABCS 2024 por E. Shelley Hwang (foto), vice-presidente de pesquisa no Departamento de Cirurgia e professor de radiologia na Faculdade de Medicina da Duke University. Os resultados foram publicados simultaneamente no JAMA.
O monitoramento ativo é uma estratégia na qual os pacientes são monitorados de perto, com cirurgia reservada para aqueles pacientes que desenvolvem câncer. Um aumento constante na mamografia e outros métodos de rastreamento do câncer de mama levou à identificação de mais casos de CDIS, uma forma não invasiva de câncer de mama que representa pouco risco para o paciente, a menos que progrida para uma doença invasiva.
“Todos os tratamentos atuais para CDIS visam reduzir o risco de câncer invasivo futuro, apesar de um crescente corpo de evidências mostrando que nem todo CDIS deve progredir”, disse Hwang. “Assim, a prática atual pode resultar no overtreatment de mulheres cujos tumores têm baixo risco de progressão, levando a dor crônica, imagem corporal alterada, qualidade de vida reduzida e outros efeitos colaterais que podem ser evitáveis”, afirmou.
No COMET (NCT029269), os pesquisadores avaliaram se o monitoramento ativo é tão eficaz quanto o tratamento inicial entre pacientes cujo CDIS tem baixo risco de progredir para câncer invasivo. O ensaio clínico multicêntrico, randomizado, de não-inferioridade incluiu 995 pacientes com CDIS grau 1 ou 2, HR-positivo, HER2-negativo, sem evidência de câncer invasivo. 484 pacientes foram randomizados (1:1) para o grupo de monitoramento ativo e 473 pacientes para receber tratamento recomendado pelas diretrizes, consistindo em cirurgia com ou sem radiação adjuvante.
Os pacientes no braço de monitoramento ativo podiam optar por fazer a cirurgia a qualquer momento, e a cirurgia era necessária se o tumor mostrasse sinais de progressão invasiva.
O estudo foi conduzido em 100 locais de ensaio clínico do Alliance Cancer Cooperative Group. Os participantes eram mulheres com idade ≥ 40 anos com novo diagnóstico de CDIS RH-positivo assintomático, grau 1-2, sem câncer invasivo. Pacientes no grupo monitoramento ativo foram monitoradas a cada 6 meses com exames de imagem e exame físico da mama; a terapia endócrina foi opcional em ambos os grupos.
Resultados
O acompanhamento mediano foi de 36,9 meses. Em dois anos, 346 pacientes foram submetidos à cirurgia para CDIS, 264 no grupo de tratamento e 82 no grupo de monitoramento ativo. Após 24 meses de acompanhamento, 27 pacientes no braço de tratamento concordante com as diretrizes e 19 no braço de monitoramento ativo foram diagnosticados com câncer de mama ipsilateral invasivo (mesma mama).
Na análise por intenção de tratar, a taxa cumulativa de dois anos de câncer de mama ipsilateral invasivo foi de 5,9% no braço de tratamento (IC de 95%: 3,71-8,04) e 4,2% no braço de monitoramento ativo (IC de 95%: 2,31-6,00); uma diferença de -1,7% (limite superior do intervalo de confiança de 0,95%: 0,95), apoiando a conclusão de que o monitoramento ativo é não inferior ao tratamento recomendado pelas diretrizes.
Como 29% dos pacientes em geral não aderiram ao seu braço de tratamento randomizado, os pesquisadores realizaram uma análise separada de 673 pacientes que receberam o tratamento designado. A taxa de dois anos de câncer de mama ipsilateral invasivo foi de 8,7% no braço de tratamento (IC de 95%: 5,06-12,21) e 3,1% no braço de monitoramento ativo.
Um pouco mais de pacientes receberam terapia endócrina no braço de monitoramento ativo em comparação ao braço de tratamento concordante com as diretrizes — 71,3% versus 65,5%, respectivamente. Entre os pacientes que receberam terapia endócrina, a taxa de câncer ipsilateral invasivo foi de 7,15% no braço de tratamento concordante com as diretrizes e 3,21% no braço de monitoramento ativo.
Hwang observou que esses resultados podem ajudar pacientes e seus médicos a tomarem decisões informadas sobre o tratamento do CDIS. “A omissão da cirurgia tem sido altamente controversa, com pacientes e provedores temendo que isso possa resultar em uma taxa inaceitavelmente alta de pacientes que desenvolvem câncer invasivo”, disse Hwang. “Nossas descobertas são tranquilizadoras, e o acompanhamento de longo prazo terá implicações importantes para a futura
inclusão do monitoramento ativo como uma opção de tratamento para CDIS de baixo risco”, concluiu.
O estudo foi financiado pelo Patient-Centered Outcomes Research Institute, Breast Cancer Research Foundation e Alliance Foundation Trials.
Referência:
GS2-05: Early Oncologic Outcomes Following Active Monitoring or Surgery (+/- Radiation) for Low Risk DCIS: the Comparing an Operation to Monitoring, with or without Endocrine Therapy (COMET) Study (AFT-25)