Subanálise do estudo LATINA Breast selecionada no programa do San Antonio Breast Cancer Symposium, em apresentação de Gustavo Werutsky (foto), mostra dados de pacientes de 31 centros de tratamento do câncer em 10 países da América Latina e revela que o Brasil tem o maior tempo entre o diagnóstico do câncer de mama inicial e o primeiro tratamento, com mediana de 87 dias, enquanto Cuba aparece com o menor tempo, com mediana de 14,5 dias entre a data da biópsia e o início do tratamento. No geral, 46,1% das pacientes avaliadas aguardaram mais de 60 dias para o primeiro tratamento. Evidências mostram que atrasos no início do tratamento para câncer de mama inicial estão associados a maiores taxas de recidiva e mortalidade.
Werutsky e colegas descrevem que vários fatores têm sido associados a atrasos no tratamento, como status socioeconômico, tipo de seguro saúde, idade, grupos raciais/étnicos, nível educacional e residência rural, entre outros. Neste estudo, o objetivo foi avaliar a mediana de dias entre o diagnóstico e o primeiro tratamento para pacientes com câncer de mama (CM) inicial na América Latina e analisar fatores associados a atrasos no início do tratamento.
Esta subanálise incluiu pacientes com CM estágio I-III do LATINA Breast (NCT04158258), um estudo prospectivo observacional que incluiu pacientes diagnosticadas com CM entre fevereiro de 2020 e agosto de 2022 em 31 centros de 10 países da América Latina. O intervalo de tempo foi calculado a partir da data da biópsia do CM até a data do primeiro tratamento administrado, ou seja, cirurgia ou quimioterapia neoadjuvante ou terapia endócrina. Um modelo de regressão logística multivariável foi aplicado para avaliar fatores associados a atrasos no tratamento mais de 60 dias após o diagnóstico.
Os resultados mostram que de um total de 3275 pacientes incluídas no registro LATINA Breast, 2768 (84,5%) foram diagnosticadas com CM estágio I-III e foram incluídas nesta subanálise. Um total de 2516 pacientes (90,8%) tinham informações disponíveis sobre a data da biópsia diagnóstica e o tratamento inicial. A análise mostra que a mediana do número de dias do diagnóstico ao primeiro tratamento oncológico foi no geral de 55 dias (IQR 28-97) e revela que 1159 (46,1%) pacientes tiveram > 60 dias do diagnóstico ao primeiro tratamento. O intervalo de tempo entre a biópsia e o tratamento de acordo com o estágio clínico foi de 46 dias (IQR 20-99) para o estágio I, 57 dias (IQR 28-99) para o estágio II e 56 dias (IQR 32-91) para o estágio III, (p=0,1578). O intervalo de tempo entre o diagnóstico e o tratamento de acordo com o primeiro tratamento recebido foi de 58 dias (IQR 34-92) para o tratamento neoadjuvante e de 46 dias (IQR 19-99) para a cirurgia, (p=0,2300).
Por país, o intervalo de tempo do diagnóstico ao tratamento foi: Argentina 48 dias (IQR 8-88), Brasil 87 dias (IQR 50-130), Chile 34 dias (IQR 19-63), Colômbia 67 dias (IQR 33-101), Cuba 14,5 dias (IQR 6-18), República Dominicana 77 dias (IQR 58,5-105,5), Guatemala 20,5 dias (IQR 12-56), México 34 dias (IQR 22-47), Peru 46 dias (IQR 19-84) e Uruguai 27 dias (IQR 0-37). O intervalo de tempo do diagnóstico ao tratamento foi maior em mulheres tratadas no sistema público de saúde, 60 dias (IQR 30-104) versus o sistema privado, 45 dias (IQR 24-77), (p <0,0001). Fatores significativamente associados a atrasos de mais de 60 dias do diagnóstico ao tratamento foram idade >50 anos (OR 1,41, IC 95% 1,15-1,74, p=0,0011), negro ou afro-americano/pardo (OR 3,3, IC 95% 1,15-1,74, p=0,0011), nível educacional analfabeto/escola incompleta (OR 1,42, IC 95% 1,06-1,89, p=0,0011) e seguro saúde público (OR 2,18, IC 95% 1,66-2,86, p<.0001).
Em conclusão, esta análise do estudo LATINA Breast demonstra que o tempo mediano do diagnóstico ao primeiro tratamento do câncer de mama inicial na América Latina é de 55 dias. Os intervalos de tempo são variáveis entre os diferentes países, provavelmente refletindo diferenças no acesso a sistemas de saúde fragmentados. Embora em muitos países os pacientes pareçam ser tratados dentro de um prazo aceitável (<60 dias), ainda há uma grande população com longos atrasos. “Pacientes mais velhos, negros/afro-americanos/pardos, aqueles com menor nível educacional e aqueles tratados dentro do sistema de saúde pública, sem surpresa, tiveram os prazos mais longos, potencialmente impactando os resultados da doença nessas populações”, destaca a análise.
O câncer de mama é o tipo mais comum de câncer entre mulheres na América Latina.
Além de Gustavo Werutsky, o trabalho contou com a participação de Paula Cabrera-Galeana, Heloisa Resende, Henry L. Gomez, Rosa Vasallo Veras, Miriam Raimondo, Ricardo Elías Brugés Maya, Maria del Rosario Vidal, Cynthia Villarreal-Garza, Yeni Nerón, Ana María Donoso, Fernanda B. Damian, José d'Oliveira Couto Filho, Felipe Cruz, Isabel Alonso, José Bines, Victoria Costanzo, Tomás Reinert, Juan Manuel Donaire, Adriana Elizabeth Borello, Eduardo Cronemberger, Luis Enrique Fein, Marcela Urrego, Enrique Alanya, Jorge Luis Soriano García, Saul Campos-Gomez, Eduardo A. Richardet, Hugo Castro-Salguero, Diego Gómez, Angel Hernández, Carlos Farfan, Ronald Rodríguez, Rafaela Gomes de Jesus e Carlos Barrios. A pesquisa foi realizada pelo Latin American Cooperative Oncology Group (LACOG).
Referência:
P1-08-07: Time Interval Between Diagnosis and Treatment of Early Breast Cancer and the Impact of Health Insurance Coverage in Latin America: A Sub Analysis of the LATINA Breast Study (LACOG 0615 / MO39485)
Presenting Author(s) and Co-Author(s): Gustavo Werutsky, Paula Cabrera-Galeana, Heloisa Resende, Henry L. Gomez, Rosa Vasallo Veras, Miriam Raimondo, Ricardo Elías Brugés Maya, Maria del Rosario Vidal, Cynthia Villarreal-Garza, Yeni Nerón, Ana María Donoso, Fernanda B. Damian, José d'Oliveira Couto Filho, Felipe Cruz, Isabel Alonso, José Bines, Victoria Costanzo, Tomás Reinert, Juan Manuel Donaire, Adriana Elizabeth Borello, Eduardo Cronemberger, Luis Enrique Fein, Marcela Urrego, Enrique Alanya, Jorge Luis Soriano García, Saul Campos-Gomez, Eduardo A. Richardet, Hugo Castro-Salguero, Diego Gómez, Angel Hernández, Carlos Farfan, Ronald Rodríguez, Rafaela Gomes de Jesus, Carlos Barrios
Abstract Number: SESS-1789