A disparidade racial pode ser um fator crítico que influencia o acesso e a qualidade dos serviços de saúde, incluindo o rastreamento e o diagnóstico do câncer de mama (CM). A mastologista Juliana Francisco (foto) apresentou no SABCS 2024 estudo que mostra profundas disparidades no rastreamento, diagnóstico e tratamento do CM no Brasil, indicando que 46,5% das mulheres pretas receberam diagnóstico de CM em estágio 3 ou 4 no período avaliado, comparado a 35,5% em mulheres brancas, e 65,5% das mulheres pretas iniciaram o tratamento após 60 dias. “Somente através de abordagens integradas e inclusivas será possível garantir que todas as mulheres, independentemente de sua raça ou etnia, tenham acesso igualitário a cuidados de saúde de qualidade e, assim, melhorar o impacto nas taxas de sobrevida ao câncer de mama e na qualidade de vida”, destacam os autores.
A disparidade racial pode ser um fator crítico que influencia o acesso e a qualidade dos serviços de saúde, incluindo o rastreamento e o diagnóstico do câncer de mama (CM). A mastologista Juliana Francisco (foto) apresentou no SABCS 2024 estudo que mostra profundas disparidades no rastreamento, diagnóstico e tratamento do CM no Brasil, indicando que 52,4% das mamografias de rastreamento no período analisado foram realizadas em mulheres brancas, contra 5,8% em mulheres pretas, grupo com maior proporção de diagnóstico em estágio 3 ou 4 (46,5%) e atrasos no início do tratamento. “Somente através de abordagens integradas e inclusivas será possível garantir que todas as mulheres, independentemente de sua raça ou etnia, tenham acesso igualitário a cuidados de saúde de qualidade e, assim, melhorar o impacto nas taxas de sobrevida ao câncer de mama e na qualidade de vida”, destacam os autores.
Neste estudo, o objetivo foi avaliar a disparidade racial no rastreamento e diagnóstico do câncer de mama no Sistema Único de Saúde (SUS) entre os anos de 2015 e 2022.
Os pesquisadores utilizaram dados públicos do Sistema de Informações Ambulatoriais, Sistema de Informações Hospitalares e Sistema de Informações sobre Mortalidade do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde, bem como dados do Registro Hospitalar de Câncer (RHC) do Instituto Nacional de Câncer. Para os dados do RHC, foi analisado o período de 2015 a 2021, considerando a falta de dados atualizados e consolidados para 2022. A taxa de cobertura mamográfica foi avaliada nos períodos bienais: 2015/2016; 2017/2018; 2019/2020 e 2021/2022. Foram calculadas as proporções de diagnóstico precoce (estádios 0, 1 e 2) e diagnóstico tardio (estádios 3 e 4). A análise também considerou o tempo entre a consulta com o especialista e o diagnóstico, assim como o tempo entre o diagnóstico e o início do tratamento. Registros com dados incompletos, inválidos ou ausentes foram excluídos da análise.
Os resultados contabilizam mais de 18 milhões de mamografias de rastreamento realizadas em mulheres de 50 a 69 anos no SUS em todo o período analisado e, em razão da pandemia da Covid-19, mostram redução significativa no número de mamografias em 2020, com queda de 41,5%, e 2021, com redução de 18,9% em relação a 2019. Em 2022, houve discreto aumento de pouco mais de 1% no número de mamografias em relação a 2019.
Em relação à raça/etnia, o estudo mostra que 52,4% das mamografias de rastreamento foram realizadas em mulheres brancas, 28,5% em mulheres pardas, 5,8% em mulheres pretas, 13,4% em mulheres amarelas e apenas 0,1% em mulheres indígenas. Os autores descrevem que o impacto da pandemia da Covid-19 na cobertura de mamografia é evidente: a cobertura do país variou de 26,3% no biênio 2015-2016, 25,1% em 2017-2018, para 18,4% entre 2019-2020, e 20,5% em 2021-2022.
Quanto ao estadiamento, a análise indica que aproximadamente 38% dos casos de câncer de mama foram diagnosticados em estágios avançados da doença e a proporção de diagnósticos em estágio 3 ou 4 para mulheres brancas foi de 35,5%, enquanto mulheres pardas e pretas tiveram proporções de 44,2% e 46,5%, respectivamente. De 2015 a 2021, o diagnóstico precoce em mulheres brancas diminuiu de 65,2% (2015) para 59,7% (2021). Em mulheres pardas, a porcentagem de diagnóstico precoce foi de 54,8% em 2015, aumentando para 58% em 2021. Para mulheres pretas, essas porcentagens foram de 54,9% e 52,6% para 2015 e 2021, respectivamente.
O número médio de dias entre a consulta com o especialista e o diagnóstico foi de 36 dias e as mulheres brancas tiveram um tempo médio menor (37 dias) em comparação com as mulheres pretas e pardas (51 dias). Além disso, 65,5% das mulheres brancas foram diagnosticadas em até 30 dias, enquanto essa proporção foi menor para mulheres pretas (58,9%) e pardas (61,1%).
A proporção de mulheres pretas que iniciaram o tratamento após 60 dias (65,5%) foi maior do que a de mulheres brancas (60,8%) e pardas (59,7%).
“ A incidência de câncer de mama entre a população preta no Brasil reflete as complexas interações entre fatores biológicos, sociais e econômicos. Abordar essas disparidades de forma eficaz requer um esforço coletivo de políticas públicas, instituições de saúde e sociedade civil. Somente por meio de abordagens integradas e inclusivas será possível garantir que todas as mulheres, independentemente de sua raça ou etnia, tenham acesso igualitário a cuidados de saúde de qualidade e, assim, melhorar o impacto nas taxas de sobrevivência ao câncer de mama e na qualidade de vida.
Este estudo tem apoio do Instituto Natura e do Observatório de Oncologia.
Referência:
P3-01-11: Racial Disparity in the Screening and Diagnosis of Breast Cancer in the Public Health System (SUS) in Brazil
Presenting Author(s) and Co-Author(s): Juliana Francisco, André Mattar, Marcelo Antonini, Renata de Toledo Rodovalho, Mariana Reginato Dias Lorencinho, Janaína Rosenburg Gioseffi, Fernanda Cristina dos Santos Simão, Nina Victoria Menezes de Melo, Antonio Luiz Frasson, Eduardo de Camargo Millen, Fabricio Palermo Brenelli, Felipe Zerwes , Francisco Pimentel Cavalcante
Abstract Number: SESS-1961