A oncologista Natália Nunes (foto) é primeira autora de estudo multicêntrico selecionado no programa do SABCS 2024, que avaliou os resultados relatados pelas pacientes (PRO), considerando mulheres com câncer de mama na pré-menopausa que receberam ou não supressão da função ovariana. “Nosso estudo enfatiza a necessidade de uma abordagem personalizada e empática no atendimento a essas pacientes, assim como destaca a necessidade de avaliações regulares de saúde sexual por profissionais de saúde oncológicos”, analisam os autores.
Nunes e colegas descrevem que mulheres jovens com câncer de mama (CM) tratadas com quimioterapia ou terapia endócrina (TE) frequentemente apresentam mudanças físicas e psicossociais durante o tratamento, em parte por sintomas não fisiológicos da menopausa. Esses sintomas tendem a piorar com a supressão da função ovariana (SFO) e podem afetar significativamente a qualidade de vida (QV), levando à não adesão ao tratamento.
Neste estudo, o objetivo foi avaliar os resultados relatados pelas pacientes (PRO, do inglês Patient- Reported Outcomes), compreendendo mulheres com câncer de mama na pré-menopausa que receberam ou não SFO. Foram consideradas pacientes com 50 anos ou menos com câncer de mama invasivo em estágio I a III submetidas a TE adjuvante entre 01/01/2013 e 31/01/2023. As pacientes foram divididas com o critério se receberam ou não SFO. O PRO foi avaliado por meio das escalas funcionais EORTC-QLQ-BR23 na linha de base e após 3, 6, 9, 12 e 24 meses. As pacientes foram inscritas antes de qualquer tratamento sistêmico, incluindo quimioterapia. Modelos lineares mistos com ajustes para o estágio do câncer foram usados para comparar as escalas entre os dois grupos. Os resultados foram relatados em relação à categoria da linha de base, usando intervalos de confiança de 95% e valores de p.
Os resultados revelam que 363 pacientes atenderam aos critérios de inclusão. Destas, 290 receberam apenas TE e 73 receberam TE +OFS. As pacientes que receberam OFS eram mais jovens (64,4% vs. 25% <40 anos), tinham um estágio de câncer mais avançado (31% vs. 13% estágio III) e eram mais propensas a receber quimioterapia (90,4% vs. 73,4%). O número de pacientes que completaram os questionários foi de 363, 152, 272, 250, 252 e 171 na linha de base e aos 3, 6, 9, 12 e 24 meses, respectivamente.
Em relação às escalas que avaliaram o funcionamento sexual e prazer sexual, apesar da ausência de significância estatística entre os grupos, o grupo OFS apresentou uma diminuição clinicamente significativa mais pronunciada (>10 pontos) nos primeiros 6 meses de tratamento e uma incapacidade de retornar à linha de base após 24 meses. Nos meses 6 e 12, um número maior de pacientes sexualmente ativas relatou não ter desejo sexual ou sexo satisfatório. Além disso, após 24 meses de tratamento, as pacientes no grupo OFS foram mais propensas a relatar ondas de calor, dores de cabeça, serem fisicamente menos atraentes, menos femininas, além de externar menos interesse sexual e menos atividade sexual.
Em conclusão, apesar da supressão da função ovariana contribuir para melhorar a sobrevida livre de doença e a sobrevida global no tratamento adjuvante, seus efeitos colaterais afetam significativamente a qualidade de vida da paciente a longo prazo. “Discutir esses efeitos colaterais com as pacientes antes de iniciar a terapia sistêmica e desenvolver planos de tratamento é fundamental para melhorar a qualidade de vida das pacientes que lidam com preocupações relacionadas à OFS”, destacam os autores, para quem esses resultados enfatizam a necessidade de uma abordagem personalizada e empática no atendimento a essas pacientes, assim como sublinham a importância de avaliações regulares de saúde sexual por profissionais de saúde oncológicos.
O trabalho é uma subanálise do estudo institucional multicêntrico, prospectivo e observacional envolvendo mulheres com câncer de mama que receberam tratamento em unidades de saúde privadas nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo. Além de Natalia Cristina Cardoso Nunes, a pesquisa conta com a participação de Giselle de Souza Carvalho, Lilian Lerner, Gustavo Queiroz Di Giusto , Paola Kelly Martins dos Santos, Amanda Soares Gonçalves, Perla de Mello Andrade, Juliana Pompeu Pecoraro, Carolina Galvão Teixeira e Mariana Ribeiro Monteiro
Referência:
P2-01-09: Patient-reported outcomes in premenopausal breast cancer patients with or without ovarian suppression therapy a subgroup analysis from a Brazilian prospective cohort
Presenting Author(s) and Co-Author(s): Natalia Cristina Cardoso Nunes, Giselle de Souza Carvalho, Lilian Lerner, Gustavo Queiroz Di Giusto , Paola Kelly Martins dos Santos, Amanda Soares Gonçalves, Perla de Mello Andrade, Juliana Pompeu Pecoraro, Carolina Galvão Teixeira, Mariana Ribeiro Monteiro
Número do Resumo: SESS-2167