Onconews - Pesquisa brasileira descreve resultados de pacientes com câncer de mama triplo negativo de acordo com a raça

Letícia Kimie Murazawa (foto) é primeira autora de estudo selecionado em poster no SABCS 2024, com resultados de uma coorte brasileira de pacientes com câncer de mama triplo negativo com doença inicial. A análise considerou desfechos clínicos de acordo com a raça/etnia em pacientes tratadas com quimioterapia neoadjuvante e mostra que mulheres negras tiveram melhor sobrevida global e sobrevida livre de eventos do que mulheres brancas na coorte avaliada. O trabalho tem como pesquisadora sênior a oncologista Renata Colombo Bonadio (na foto, à direita).

A literatura, baseada principalmente em estudos dos Estados Unidos, descreve diferenças nos resultados entre raças em pacientes com câncer de mama triplo negativo (TNBC, das iniciais em inglês), com piores resultados de sobrevida em mulheres afro-americanas em comparação à população branca. Tanto as desigualdades no acesso à assistência médica quanto o comportamento biológico diferente do tumor são possíveis explicações, analisam Murazawa e colegas. Neste estudo, os pesquisadores avaliaram uma coorte brasileira, buscando identificar diferenças nas características e resultados de pacientes com TNBC tratados com quimioterapia neoadjuvante (NACT, nas iniciais em inglês), de acordo com a raça.

Os pesquisadores revisaram retrospectivamente o banco de dados institucional para identificar pacientes que foram submetidoa a NACT para TNBC de 2012 a 2024. Dados sobre etnia, idade, estado civil, estágio clínico, características do tumor e tipo de tratamento foram coletados de prontuários médicos. A classificação de raça/etnia foi baseada nos registros de heteroidentificação na admissão hospitalar: Branco (W), Preto (B), (Pardos e Mestiços foram categorizados como Pretos) ou Outros ou desconhecidos. O último grupo representou menos de 5% e foi excluído da análise.

Sobrevida livre de eventos (SLE) foi definida como morte, recorrência da doença ou progressão da doença que impediu a cirurgia. A SLE e a sobrevida global (SG) foram analisadas a partir do primeiro ciclo de NACT até a ocorrência de um evento. A sobrevida foi estimada pelo método de Kaplan-Meier e o modelo de regressão de Cox foi usado para calcular a razão de risco (HR). O teste qui-quadrado foi usado para comparar variáveis ​​categóricas.

Os resultados consideram uma base analítica de 737 pacientes, sendo 41,4% negras. Não houve diferença significativa entre os grupos em relação à idade mediana (B: 48 anos vs W: 49 anos), estado civil (casado - B: 43,0% vs W: 42,6%, p = 0,19), assim como não foram observadas diferenças em relação ao estágio clínico III (B: 61,3% vs W: 63,7%, p = 0,57) e tipo histológico (carcinoma ductal invasivo - B: 88,2% vs W: 88,7%, p = 0,48). No entanto, os autores apontam diferença no grau histológico, com maior proporção de pacientes negras com doença grau 2 (39,0% vs 30,8%, p = 0,03). Também foi encontrada diferença estatisticamente significativa em relação ao tempo de início do tratamento, sendo maior na população negra (B: 2,3 meses vs W: 2,0 meses, p = 0,03).

A análise mostra que não houve diferenças significativas no regime de quimioterapia, principalmente AC-T (B: 87,5% vs W: 87,7%, p = 0,35) e no tipo de cirurgia realizada (mastectomia - B: 47,9% vs W: 56,0%, p = 0,12), bem como na taxa de resposta patológica completa (B: 28,5% vs W: 29,4%, p = 0,86).

Com um acompanhamento mediano de 61 meses, os autores descrevem que a população branca teve pior SG em 5 anos (72,9% vs 63,2%, HR 1,3, Intervalo de Confiança de 95% [IC95] 0,99 - 1,76, p = 0,05) e pior SLE em 5 anos (65,5% vs 56,6%, HR 1,34, IC95 1,04 - 1,72, p = 0,02) do que a população negra. Na estratificação de acordo com o grau histológico, nenhuma diferença foi encontrada entre as raças para SG (p = 0,20) e SLE (p = 0,16) no grau 2 e para SG (p = 0,28) e SLE (p = 0,12) na doença de grau 3.

“Mulheres negras tiveram melhor SLE e SG do que mulheres brancas com TNBC inicial em nossa coorte. Embora as razões não sejam claras, esse achado pode ter sido influenciado por uma proporção maior de doença de grau 2 em pacientes negras. Além disso, os resultados podem ser influenciados pelo viés de heteroidentificação, que pode não refletir a identificação racial”, concluem os autores, que enfatizam a importância de avaliar populações de diferentes etnias para entender melhor as disparidades raciais no TNBC.

Referência:

P1-12-14: Characteristics and outcomes of patients with triple negative breast cancer (TNBC) treated with neoadjuvant chemotherapy (NACT) according to race

Presenting Author(s) and Co-Author(s): Leticia Murazawa, Vinicius Vitor Oliveira, Victor Rocha Pinheiro, Diana del Cisne Pineda Labanda, Yumi Ricucci Shinkado, Romualdo Barroso-Sousa, Luciana Rodrigues Carvalho Barros, Abna Faustina Sousa Vieira, Laura Testa, Renata Colombo Bonadio

Abstract Number: SESS-1492