Jessé Lopes da Silva (foto), pesquisador do INCA, é primeiro autor de estudo selecionado em poster no SABCS 2024, com achados que mostram correlação inversa entre a proporção de óbitos domiciliares por câncer de mama (CM) no Brasil e o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) regional, revelando que pacientes das regiões de menor IDH do Norte, Nordeste e Centro-Oeste apresentaram maiores taxas de óbitos domiciliares na comparação com as regiões Sudeste e Sul, de maior IDH. “Esses achados ressaltam a necessidade de políticas que abordem o impacto de fatores sociais como raça, educação e IDH na localização dos cuidados de fim de vida para pacientes com CM no Brasil”, analisam os autores.
Silva e colegas explicam que a qualidade da morte serve como um indicador da qualidade do atendimento, moldada por fatores como o local da morte, acesso a cuidados paliativos e gerenciamento de sintomas. No contexto do Brasil, um cenário com disparidades sociais regionais pode levar ao acesso desigual à assistência médica, particularmente no câncer de mama (CM), que é a principal causa de mortes relacionadas ao câncer entre mulheres brasileiras. Ao contrário dos países desenvolvidos, morrer em casa no Brasil pode sugerir cuidados inadequados no fim da vida.
Neste estudo transversal, os pesquisadores usaram dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (2001-2021) para analisar mortes por câncer de mama (CID-10 C50) com base no local e ano da morte. As mortes foram categorizadas como mortes hospitalares ou domiciliares e as variáveis avaliadas incluíram idade, raça/etnia, escolaridade, estado civil e Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) regional.
Os resultados mostram que entre 2001 e 2022 houve 303.279 mortes por CM no Brasil, com 299.775 casos incluídos no estudo após a exclusão de homens (3.329) e pacientes sem dados sobre sexo (17) ou local do óbito (158). Destes, 253.581 (84,6%) ocorreram em hospitais, enquanto 46.194 (15,4%) ocorreram em casa. Os óbitos domiciliares foram mais frequentes nas regiões Nordeste (15.438, 25,1%) e Norte (2.255, 20,4%) em comparação às regiões Sul (8.367, 15,6%), Centro-Oeste (2.647, 14,4%) e Sudeste (17.487, 11,3%).
A análise mostra que pacientes das regiões de menor IDH do Norte, Nordeste e Centro-Oeste apresentaram maiores taxas de óbitos domiciliares (OR = 2,04, IC 95% = 2,00-2,08) em comparação com aqueles nas regiões de maior IDH do Sudeste e Sul, mostrando uma forte correlação inversa entre a proporção de óbitos domiciliares e o IDH regional (Coeficiente de Correlação de Pearson = −0.932, p = 0.021).
A análise de tendência temporal indicou redução contínua significativa nos óbitos domiciliares de 2001 a 2017, diminuindo anualmente em 2,6% de 19,1% para 12,5% APC = −2.6%, 95% CI = −3.0 para −2.3, p < 0.001). Isto foi seguido por um aumento para 17,7% em 2020 (APC = 12,4%, IC de 95% = 4,3 a 21,2, p = 0,005) e um retorno a uma redução não significativa para 16,2% em 2022 (APC = −4.3%, 95% CI = -10.4 to 2.2, p = 0.172)..
Maiores taxas de mortes domiciliares na Colúmbia Britânica foram associadas à idade avançada (≥ 60) (OR = 1,79, IC de 95% = 1,75-1,83), falta de educação formal (OR = 3,02, IC de 95% = 2,92-3,13), ausência de um parceiro (OR = 1,28, IC de 95% = 1,25-1,30) e etnia autorrelatada, com mulheres negras e mestiças (OR = 1,14, IC de 95% = 1,11-1,16) e indígenas (OR = 1,92, IC de 95% = 1,45-2,56) apresentando maiores taxas de mortes domiciliares em comparação com mulheres brancas.
“O estudo ressalta alta taxa de mortes domiciliares entre pacientes da Colúmbia Britânica no Brasil, destacando a ausência de programas nacionais de cuidados de fim de vida e estruturas de cuidados paliativos, especialmente em regiões subdesenvolvidas. As taxas de mortalidade domiciliar foram inversamente correlacionadas com o IDH regional”, concluem os autores. “As tendências temporais mostraram redução contínua nas mortes domiciliares, com um aumento temporário provavelmente ligado à pandemia de COVID-19. Fatores como etnia, nível educacional e estado civil também influenciaram o local da morte”, analisam.
Entender os padrões de local de morte e sua associação com desigualdades sociais é fundamental para desenvolver políticas eficazes de cuidados de fim de vida para mulheres com câncer de mama no Brasil.
Além de Jessé Alves da Silva, o estudo tem participação de Natalia Cristina Cardoso Nunes, Livia Costa de Oliveira, Lucas Zanetti de Albuquerque, Pedro Henrique Souza, Andreia Cristina de Melo e Luiz Claudio Santos Thuler.
Referência:
P5-02-10: Factors and Trends in Place of Death Among Breast Cancer Patients: A Population-Based Study in Brazil
Presenting Author(s) and Co-Author(s): Jesse Lopes da Silva, Natalia Cristina Cardoso Nunes, Livia Costa de Oliveira, Lucas Zanetti de Albuquerque, Pedro Henrique Souza, Andreia Cristina de Melo, Luiz Claudio Santos Thuler
Abstract Number: SESS-1539