Gabriel Polho (foto), médico residente do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP), apresenta no SABCS 2024 estudo que avaliou o papel da razão neutrófilo-linfócito (RNL) na predição da sobrevida após quimioterapia neoadjuvante no câncer de mama triplo negativo. Os resultados mostram que a RNL >2 foi um fator de risco independente para pior sobrevida e deve ser considerada em protocolos neoadjuvantes.
A partir do banco de dados institucional, os pesquisadores revisaram retrospectivamente dados de pacientes com câncer de mama triplo negativo (TNBC, na sigla em inglês) que foram submetidos à quimioterapia neoadjuvante (NACT, de neoadjuvant chemotherapy). Foram considerados pacientes com TNBC em estágio inicial (II-III), no período de 2012 a 2024. O principal desfecho foi a sobrevida livre de eventos (SLE), calculada a partir do primeiro ciclo de NACT até a ocorrência do primeiro evento, definido como morte, recorrência da doença ou progressão da doença que impediu a cirurgia. A regressão logística foi usada para verificar a associação entre a razão neutrófilo-linfócito (RNL) e a resposta patológica completa (pCR). A RNL foi calculada a partir do hemograma completo antes do início da NACT.
Entre 692 pacientes com informações disponíveis, 62,9% tinham doença em estágio III, 61,1% doença grau 3 e 77% ki67 >50%. A idade mediana foi de 48 anos e o regime NACT mais usado foi AC-T (86,2%). A taxa geral de resposta patológica completa (pCR) foi de 28,3% e pacientes com RNL ≤ 2 tiveram maior probabilidade de atingir pCR (32,6% vs 22,7%, p = 0,005). Após um acompanhamento mediano de 59,6 meses, a análise revela que RNL ≤ 2 foi associada a melhora na SLE de 5 anos na população geral (51% vs 66%, HR 0,59, intervalo de confiança de 95% [IC95] 0,46 - 0,75, p < 0,001) em pacientes com doença em estágio II (69% vs 81%, HR 0,49, IC95 0,29 - 0,85, p = 0,01), estágio III (43% vs 55%, HR 0,70, IC95 0,53 - 0,93, p = 0,01), doença residual (42% vs 54%, HR 0,65, IC95 0,50 - 0,84, p = 0,001) e uma tendência de melhora na sobrevida para pacientes com pCR (82% vs (92%, HR 0,45, IC95 0,18 - 1,1, p=0,08).
Os resultados mostram que a sobrevida global (SG) em 5 anos também foi superior na população geral com RNL ≤ 2 (58% vs 73%, HR 0,56, 95%, 0,42 - 0,74, p < 0,01]), doença em estágio II (75% vs 86%, HR 0,42, IC95 0,22 - 0,81, p = 0,009), doença em estágio III (50% vs 62%, HR 0,68, IC95 0,50 - 0,93, p = 0,015) e em pacientes com doença residual (50% vs 64%, HR 0,62, IC95 0,46 - 0,82, p = 0,001), mas não em pacientes que atingiram pCR (82% vs 91%, HR 0,50, IC95 0,20 - 1,24. p=0,1). Na análise multivariada, incluindo o status do pCR e o estágio clínico, RNL ≤ 2 permaneceu estatisticamente significativa para melhor SG (p= 0,002) e EFS (p=0,002).
Em conclusão, RNL >2 é um fator de risco independente para pior sobrevida em pacientes com TNBC que receberam NACT. Como um biomarcador prontamente disponível, a razão neutrófilo-linfócito deve ser mais explorada em protocolos neoadjuvantes atuais para pacientes com câncer de mama triplo negativo com doença inicial.
Referência:
PS17-06: Neutrophil-to-lymphocyte ratio (NLR) predicts long-term survival in early triple negative breast cancer (TNBC) treated with neoadjuvant chemotherapy (NACT)
Presenting Author(s): Gabriel Polho
Abstract Number: SESS-1057
Poster Spotlight Sessions 16-19