Estudo analisa fatores associados à detecção precoce do câncer de pulmão no Brasil

Estudo selecionado no programa do WCLC 2024 buscou identificar os fatores associados ao diagnóstico do câncer de pulmão em estágio inicial no Brasil e mostrou que, além das diferenças regionais que desafiam o acesso, o nível de escolaridade foi o fator mais decisivo associado à detecção precoce. O trabalho tem como primeira autora a pesquisadora Isabel Emmerick (foto), da UMass Chan Medical School, e como autor sênior Mário Jorge Sobreira da Silva (foto), do Instituto Nacional de Câncer (INCA).

O câncer de pulmão tem a maior taxa global de mortalidade entre os principais tipos de câncer. Apesar das melhorias na cessação do tabagismo e no tratamento ao longo dos anos, as disparidades no acesso ao atendimento, diagnóstico oportuno e tratamento adequado continuam prevalentes.

Neste estudo de coorte retrospectivo, foram considerados pacientes com câncer de pulmão incluídos no Registro Hospitalar Brasileiro de Câncer (HBCR), de janeiro de 2013 a dezembro de 2019. Análise descritiva e bivariada foram realizadas, assim como testes T e qui-quadrado foram usados ​​para comparar grupos em estágio inicial e tardio. A regressão logística multivariável identificou fatores associados à detecção precoce do câncer de pulmão, discriminando pacientes em estágios iniciais da doença, com um intervalo de confiança (IC) de 95%.

Os resultados de Emmerick e colegas selecionados para apresentação em pôster mostram que dados de 86.558 indivíduos registrados no HBCR foram considerados na base de análise, majoritariamente homens (56,6%), com média de idade de 64 anos, 54,8% brancos. Quase um quarto dos pacientes registrados tinham dados incompletos, sem informação sobre escolaridade (23,9%). Entre aqueles com dados disponíveis, 70% tinham ensino médio completo.

Quanto às características comportamentais, 20% dos pacientes nunca fumaram; os demais eram fumantes atuais (40%) ou ex-fumantes (40%). Quase metade dos pacientes eram da região Sudeste do Brasil (44,6%), 27% do Sul, 19,9% do Nordeste, 3,9% do Norte e 3,9% do Centro-Oeste. A grande maioria dos indivíduos foi diagnosticada em estágio tardio (85,6%), enquanto 14,4% apresentavam doença em estágio inicial (ESLCD, na sigla em inglês). Na análise bivariada, ter menos de 65 anos, ser do sexo feminino, ser branco, nunca fumar, ter diploma de ensino superior e morar nas regiões Sul ou Sudeste foram associados à ESLCD. No modelo multivariável final, os autores descrevem que os fatores associados à ESLCD foram ter menos de 65 anos (OR=1,28 [IC 95%: 1,22-1,34]), ser do sexo feminino (OR=1,26 [IC 95%: 1,22-1,32]), ter escolaridade maior que o ensino superior (OR=1,49 [IC 95%: 1,38-1,61]) e morar no sudeste (OR=1,22 [IC 95%: 1,15-1,30]); e na região sul (OR=1,21 [IC 95%: 1,18-1,32]); que são as regiões mais ricas do país.

“O nível de escolaridade foi o fator mais decisivo associado à ESLCD. A localização geográfica desempenhou um papel importante na ESLCD, indicando questões relacionadas à riqueza e ao acesso aos serviços de saúde. Melhorar o acesso ao diagnóstico do câncer de pulmão, especialmente para populações vulneráveis, pode reduzir as disparidades nas taxas de diagnóstico em estágio inicial e melhorar a sobrevida global”, analisam.

Ao lado de Isabel Emmerick, a pesquisa tem participação de Mônica Campos, Débora Castanheiras, Lara Vinhal Faria (FIOCRUZ), Tayná Sequeira Valerio (FIOCRUZ), Aline Marques, Jéssica Muzy (FIOCRUZ) e Luísa Arueira Chaves (UFRJ).

Referência:

P2.04B.11 - Factors Associated with Early-Stage Lung Cancer Diagnosis (ESLCD) In Brazil - 2013 - 2019: A Multivariable Analysis. - I. Emmerick, M. Campos, D. Castanheiras, L. Vinhal Faria, T. Sequeira Valerio, A. Marques, J. Muzy, L. Arueira Chaves, M.J. Sobreira da Silva