Onconews - PACIFIC BRAZIL:  estudo atinge principal desfecho primário

O oncologista William William (foto), líder nacional de Oncologia Torácica do  Grupo Oncoclínicas, apresentou no WCLC 2024 resultados do estudo PACIFIC BRAZIL, que avaliou a eficácia e segurança do anti PD-L1 durvalumabe como parte de um regime intensificado de quimio-imunoterapia de indução, quimio-imuno-radioterapia concomitante e imunoterapia de consolidação no câncer de pulmão de células não pequenas (CPCNP) estágio III.  O estudo atingiu seu desfecho primário, demonstrando sobrevida livre de progressão superior aos 12 meses na comparação com os controles históricos. No entanto, em razão das toxicidades observadas e dos resultados negativos do estudo PACIFIC-2, a adição da imunoterapia à quimiorradiação não é justificada. Já o uso de quimioimunoterapia antes da quimiorradioterapia merece exploração em estudos futuros.

O tratamento padrão do CPCNP estágio III irressecável consiste em quimiorradioterapia concomitante, seguida de imunoterapia de consolidação, com base nos resultados do PACIFIC. O estudo PACIFIC-BRAZIL (LACOG 2218) avaliou a eficácia e a segurança de um regime ainda mais intensificado de indução com durvalumabe mais quimioterapia, seguido de quimiorradioterapia concomitante mais durvalumabe, e consolidação adicional com durvalumabe.

O PACIFIC BRAZIL (NCT04230408) é um estudo multicêntrico de fase 2, de braço único, que avalia pacientes com CPCNP estágio III sem tratamento prévio (TNM 8ed), ECOG PS 0-1, que são candidatos à terapia de quimiorradiação definitiva.

Os pacientes elegíveis receberam quimio-imunoterapia de indução (dois ciclos de 21 dias de carboplatina intravenosa [IV] AUC 6, paclitaxel 200 mg/m² e durvalumabe 1500 mg) seguidos por quimio-imuno-radioterapia concomitante (carboplatina intravenosa AUC 2 e paclitaxel 50 mg/m² semanalmente por 6 semanas, mais durvalumabe 1500 mg a cada 21 dias por 2 ciclos concomitantes mais radioterapia de intensidade modulada e guiada por imagem com 60 Gy em 30 frações ao longo de 6 semanas). Pacientes sem progressão da doença receberam imunoterapia de consolidação (doze ciclos de 28 dias de durvalumabe 1500 mg). O desfecho primário foi a sobrevida livre de progressão (SLP) em 12 meses. Uma análise de sensibilidade exploratória foi planejada prospectivamente para contrastar os resultados de SLP do PACIFIC-BRAZIL com os do ensaio PACIFIC, a partir do início da consolidação com durvalumabe.

De março/2021 a julho/2023, foram inscritos 49 pacientes em 8 instituições (57% mulheres, idade média de 67 anos, 51% brancos, 43% negros/mestiços, 84% fumantes atuais/ex-fumantes, 41% histologia não escamosa, 2%/37%/53%/8% estágios IIA/IINA/IIIB/IIIC, respectivamente).

Dos 49 participantes, 94% e 82% iniciaram quimio-imuno-radioterapia e imunoterapia de consolidação concomitantes, respectivamente. A radioterapia foi administrada a >59 Gy em 93,4% dos pacientes que iniciaram quimio-imuno-radioterapia concomitante. A progressão da doença ocorreu em 4% dos pacientes durante a quimio-imunoterapia de indução e em nenhum durante a quimio-imuno-radioterapia concomitante. Para 94% dos pacientes,  o tempo mínimo de acompanhamento foi de 12 meses.

Os resultados apresentados no WCLC 2024 mostram que a SLP em 12 meses foi de 68,1% (95%IC 56%-82,8%, P=0,0022 contra a hipótese nula de SLP-12 m de 49%, teste binomial). Na análise de sensibilidade pré-planejada de marco, que considerou exclusivamente pacientes que iniciaram imunoterapia de consolidação (N=40), a SLP em 12 meses foi de 66,4% (95%IC 51,7%-85,4%). Não houve diferenças na SLP em 12 meses de acordo com a expressão de PD-L1. A sobrevida global em doze meses foi de 81,2% (IC 95% 70,8%-93,1%).

Em relação à segurança, a incidência global de eventos adversos relacionados ao tratamento (TRAEs) de grau>3 foi de 82% (25%, 65% e 20% durante a quimio-imunoterapia de indução, quimio-imuno-radioterapia concomitante e imunoterapia de consolidação, respectivamente). Os TRAEs não hematológicos de grau>3 mais comuns foram pneumonite (14%), infecções respiratórias (6%), pneumonia, dispneia, diarreia, fadiga e reações relacionadas à infusão (4% cada). A incidência de pneumonite e esofagite de qualquer grau foi de 27% e 18%. Houve sete eventos de grau 5 (2 relacionados, 5 não relacionados ao tratamento): pneumonia (3), COVID-19 (2), sepse (1), pneumonite (1); 3 ocorreram durante quimio-imuno-radioterapia concomitante e 3 ocorreram durante imunoterapia de consolidação.

“PACIFIC-BRAZIL atingiu seu desfecho primário, demonstrando melhor SLP em 12 meses que os controles históricos, tanto na análise de intenção de tratar, quanto na análise de marco de sensibilidade desde o início da imunoterapia de consolidação”, concluem os autores. “Embora a quimiorradioterapia concomitante seguida por durvalumabe continue sendo o regime de tratamento padrão para CPCNP irressecável estágio III, nossos resultados podem dar suporte a uma avaliação mais aprofundada da quimioimunoterapia de indução”, analisam.

Os autores destacam que em razão das toxicidades observadas aqui e dos resultados negativos do estudo PACIFIC-2, a imunoterapia adicionada concomitantemente durante a quimiorradiação não é justificada.

Referência:

OA12.06 - Intensified Chemo-Immuno-Radiotherapy with Durvalumab for Stage III NSCLCs: A Single Arm Phase II Study - PACIFIC-BRAZIL (LACOG 2218) - W.N. William Jr., G.C. Junior, D.d.A. Matias, L.H.d.L. Araújo, T.V. Reis, V.B.G. Teixeira, G.D.J. Pinto, L.A.F. Ferrigno, S.N. Castro, C.M.T. Hidalgo Filho, D. Kischinhevsky, A.C.Z. Gelatti, R.G. de Jesus, T.F. Rebelatto, G. Werutsky