Onconews - Estudo brasileiro avalia impacto do atraso da cirurgia no câncer de reto localizado

Estudo de coorte retrospectivo avaliou o impacto do atraso da cirurgia para câncer de reto localizado além do intervalo mais longo usado em estudos anteriores, com foco na resposta patológica completa, sobrevida livre de doença e sobrevida global. Os resultados foram selecionados para a sessão de pôster do ASCO GI 2025, em apresentação do médico Thiago do Amaral Miranda (foto).

“O cenário de tratamento para câncer de reto localizado evoluiu significativamente nos últimos anos, com a quimiorradiação neoadjuvante (QRT) de longo curso e a terapia neoadjuvante total (TNT) como as principais opções. No entanto, o momento ideal da cirurgia continua sendo uma questão clínica importante, particularmente em cenários com recursos limitados, onde atrasos cirúrgicos podem ocorrer”, esclarecem os autores.

Nesse estudo, os pesquisadores utilizaram prontuários médicos eletrônicos de três centros brasileiros entre 2013-2024. A análise incluiu 236 pacientes com câncer retal localizado tratados com quimiorradioterapia neoadjuvante e/ou quimioterapia. Os pacientes foram divididos em dois grupos pré-especificados com base no intervalo entre o fim da terapia neoadjuvante e a cirurgia: ≤ 11 semanas e >11 semanas. O endpoint primário foi a sobrevida livre de doença, e os desfechos secundários foram taxas de resposta patológica completa e sobrevida global.

Para análise populacional foram utilizadas estatísticas descritivas, e o método de Kaplan-Meier estimou a sobrevida livre de doença e sobrevida global, com comparações feitas usando o teste log-rank. Um modelo de riscos proporcionais de Cox foi usado para estimar taxas de risco e intervalos de confiança de 95%.

Resultados

A idade média da população do estudo foi de 62 anos, com homens representando 56,4% dos pacientes. A maioria da amostra consistiu em pacientes em estágio III (72,2%), seguidos por pacientes em estágio II com 25,8% e pacientes em estágio I com 1,9%.

Grande parte dos pacientes (77,8%) foi submetida à cirurgia mais de 11 semanas após a conclusão da terapia neoadjuvante, com um tempo médio para cirurgia de 16 semanas. As taxas de resposta patológica completa não foram significativamente diferentes entre os dois grupos (29% para ≤11 semanas vs. 21,5% para >11 semanas; p = 0,271).

Após um acompanhamento médio de 30 meses, a sobrevida livre de doença mediana não foi atingida, e não houve diferença significativa entre os grupos (HR: 0,86; IC de 95%: 0,48-1,5; p = 0,63). Da mesma forma, a mediana de sobrevida global não foi atingida, e nenhuma diferença foi observada entre os grupos (HR: 0,85; IC de 95%: 0,47-1,54; p = 0,88).

Em síntese, os resultados sugerem que adiar a cirurgia além de 11 semanas não resultou em maior redução do estadiamento do tumor em pacientes com câncer retal localizado. “Além disso, a sobrevida livre de doença e sobrevida global não foram significativamente afetadas por intervalos prolongados entre a terapia neoadjuvante e a cirurgia”, concluíram os pesquisadores.

Além de Thiago Miranda, o estudo teve participação dos pesquisadores Clara Braga dos Santos Azevedo, Eronides S. Batalha Filho, Rafael Gadia, Alexandre Gheller, Fabiola Alves, Daniel d. Girardi, Allan A. Pereira.

Referência:

Effects of the delay of surgery in localized rectal cancer.

First Author: Thiago do Amaral Miranda, MD

Meeting: 2025 ASCO Gastrointestinal Cancers Symposium

Session Type: Poster Session

Session Title: Poster Session C: Cancers of the Colon, Rectum, and Anus

Track: Colorectal Cancer

Subtrack: Patient-Reported Outcomes and Real-World Evidence

Abstract #: 63

Clinical Trial Registry Number:

Citation:

DOI: 10.1200/JCO.2025.43.4_suppl.63