Onconews - Estudo valida pontuação PORTOS como preditor de resposta à dose da radioterapia no câncer de próstata

A pontuação de 24 genes dos resultados da radioterapia pós-operatória (PORTOS, da sigla em inglês) pode ser utilizada para personalizar a dose de radiação para pacientes com câncer de próstata, permitindo a seleção daqueles com maior probabilidade de benefício do escalonamento de dose. O estudo foi selecionado para apresentação em sessão oral no ASCO GU 2025. Robson Ferrigno (foto), médico especialista em Radioterapia, comenta os resultados.

Os estudos NRG/RTOG 0126 e SAKK 09/10 foram ensaios randomizados de fase III que examinaram se doses mais altas de radioterapia trariam melhores respostas/resultados em pacientes com câncer de próstata após radioterapia definitiva e pós-operatória, respectivamente.

O RTOG 0126 mostrou um benefício para o escalonamento de dose (DE) de radioterapia de 70,2 Gy para 79,2 Gy, embora o SAKK 09/10 não tenha mostrado um benefício de 64 Gy para 70 Gy. Nesse estudo, os pesquisadores buscaram determinar se a pontuação PORTOS poderia distinguir pacientes que se beneficiaram da escalada de dose da radioterapia em ambos os ensaios.

As pontuações PORTOS (24-gene Post-Operative Radiation Therapy Outcome Score) foram calculadas em amostras de biópsia no estudo RTOG 0126 e amostras de prostatectomia no ensaio SAKK 09/10. Como os pontos de corte originais do PORTOS compreendem o cenário pós-operatório, os pesquisadores utilizaram grupos de pontuação tercil no RTOG 0126, enquanto os pontos de corte publicados do PORTOS foram usados ​​para o SAKK 09/10.

O objetivo principal foi avaliar PORTOS como um biomarcador preditivo para o benefício do escalonamento de dose da radioterapia na falha bioquímica (FB) por meio dos critérios Phoenix no RTOG 0126 (N=215) e sobrevida livre de progressão clínica (SLPC) no SAKK 09/10 (n=226). Os autores também investigaram correlatos clínicos e moleculares de PORTOS em grandes conjuntos de dados do mundo real de 31.107 amostras de biópsia de próstata e 42.407 amostras de prostatectomia radical.

Resultados

No RTOG 0126, em pacientes com escores PORTOS de tercil inferior, não houve diferença na falha bioquímica Phoenix (sHR 1,14 [0,54-2,40], P=0,73). No entanto, para pacientes no intervalo de pontuação PORTOS de tercil médio e superior, houve um benefício significativo para o escalonamento de dose de radioterapia para falha bioquímica Phoenix (PORTOS médio: sHR 0,45 [0,22-0,90], P=0,02; PORTOS superior: sHR 0,30 [0,12-0,75], P=0,009). Um teste de interação indicou uma diferença significativa no benefício para escalada de dose entre os grupos PORTOS superior e inferior (P=0,048).

Da mesma forma, no estudo SAKK 09/10 pós-operatório, apenas pacientes no grupo de pontuação PORTOS superior se beneficiaram do escalonamento de dose da radioterapia (CPFS HR 0,19 [0,05-0,70]; P=0,01), com uma interação significativa de biomarcador-tratamento entre PORTOS inferior versus superior e braço de tratamento (P=0,003).

PORTOS não foi consistentemente associado a variáveis ​​clinicopatológicas em nenhum dos estudos ou nos grandes conjuntos de dados de biópsia ou prostatectomia do mundo real. Biologicamente, nos conjuntos de dados do mundo real, PORTOS foi modestamente associado a assinaturas de hipóxia consistentes com seu papel na radiorresistência e fortemente associado a assinaturas imunológicas e subtipos moleculares. 

Em síntese, os resultados validaram que em dois ensaios randomizados de fase III, a pontuação PORTOS foi capaz de identificar pacientes que se beneficiam, bem como aqueles que não se beneficiam, do escalonamento de dose de radioterapia para câncer de próstata localizado.

“PORTOS pode ser usado para personalizar a dose de radiação para pacientes com câncer de próstata e permitir a seleção de pacientes com maior probabilidade de se beneficiar da escalada de dose de radioterapia, poupando pacientes do potencial aumento do risco de toxicidade”, concluíram os autores.

Estudo em contexto

Por Robson Ferrigno, Médico especialista em Radioterapia

O estudo NRG/RTOG 0126 mostrou que o escalonamento de dose de radioterapia como tratamento primário do câncer de próstata aumentou o controle bioquímico pelo critério de Phoenix (recaída bioquímica definida como PSA de 2 ng/mL + Nadir) e sem impacto na sobrevida global. Outros estudos randomizados de escalonamento de dose, tais como o do MD Anderson (americano), o Dutch trial (holandês), o MRC trial (inglês) e o GETUG trial (francês), também mostraram aumento do controle bioquímico e sem aumento de sobrevida global. A ausência de benefício na sobrevida global se deve ao fato que os pacientes que evoluem para recaída bioquímica podem ser resgatados com outros tratamentos. Esses estudos também demonstraram que não houve aumento de toxicidade com o escalonamento de dose, provavelmente pelo avanço tecnológico da radioterapia.

O estudo SAKK 09/10, que avaliou o escalonamento de dose para radioterapia pós prostatectomia para tratamento de recaída bioquímica, não mostrou benefício da dose de radioterapia na loja prostática entre 64 Gy e 70 Gy. Esse achado já era esperado uma vez que a diferença de dose foi de apenas 6 Gy.

O estudo apresentado na ASCO GU 2025 mostra que é possível identificar biomarcadores preditivos de resposta à radioterapia. De fato, isso pode direcionar alguns pacientes para diminuição de dose de radioterapia tanto para tratamento primário do câncer da próstata como da radioterapia de resgate da loja prostática após prostatectomia. Essa diminuição de dose possui potencial de diminuição de toxicidade, embora o escalonamento de dose não aumenta a toxicidade, e melhor conforto para o paciente, uma vez que diminui o número de sessões de radioterapia.

No entanto, vale ressaltar que, nos últimos anos, o avanço mais interessante na área de radioterapia do câncer de próstata, foi a possibilidade, mostrada por estudos fase III, de realizarmos a radioterapia hipofracionada (28, 20 ou até mesmo 5 aplicações). Esse direcionamento é mais interessante para a realidade brasileira devido ao problema de vagas para realização de radioterapia, principalmente no âmbito do SUS.

Outro ponto importante é que esses testes genéticos são de alto custo para a realidade brasileira, tornando o acesso bastante limitado.

Portanto, o estudo é bastante interessante para países ricos e para pacientes com alto poder aquisitivo, porém, longe da realidade brasileira.

Referência:

Gene signature predictor of dose-response to prostate radiation: Validation of PORTOS in phase III trials.

First Author: Shuang Zhao, MD

Meeting: 2025 ASCO Genitourinary Cancers Symposium

Session Type: Oral Abstract Session

Session Title: Oral Abstract Session A: Prostate Cancer

Track: Prostate Cancer - Localized

Subtrack: Translational Research, Tumor Biology, Biomarkers, and Pathology

Abstract #: 308

DOI: 10.1200/JCO.2025.43.5_suppl.308