Fernanda Malucelli Favorito (foto) apresenta em poster na ELCC 2025 estudo que analisa os efeitos do status socioeconômico (SES) no diagnóstico e na sobrevida do câncer de pulmão de células não pequenas, considerando duas décadas (2000-2020) de registros da Fundação Oncocentro de São Paulo. Os resultados revelam que menor SES está associado a piores desfechos, enquanto ensino superior e maior renda estão ligados a diagnósticos mais precoces e melhor sobrevida. A análise também mostra que 27% dos pacientes esperaram mais que 60 dias pelo início do tratamento.
Nesta análise foram considerados 19.835 casos de câncer de pulmão de células não pequenas (CPCNP) confirmados por patologia em pacientes com idade ≥18 anos (2000–2020), a partir de dados da Fundação Oncocentro de São Paulo. As características do paciente, do tratamento e da doença foram resumidas como medianas com intervalos interquartis (IQR). Tendências em dados demográficos, tratamento e intervalos de diagnóstico para tratamento foram avaliadas. A sobrevida foi estimada por meio da análise de Kaplan Meier.
Os resultados mostram que a idade média ao diagnóstico foi de 65 anos (IQR 58–72), com mulheres compreendendo 31,6% dos casos. Os diagnósticos de estágio avançado (III/IV) foram mais comuns: estágio IV (48%), estágio III (34%), estágio I (9,9%) e estágio II (7,6%). O tempo médio do diagnóstico ao tratamento foi de 34 dias (IQR 13–64), com 27,0% dos pacientes esperando >60 dias para o início do tratamento.
Em relação à sobrevida, a autora descreve que foi fortemente correlacionada com o estágio no diagnóstico (p < 0,0001): estágio I, 1,86 anos (IQR 0,55–4,6); estágio II, 1,17 anos (IQR 0,4–2,9); e estágios III/IV, 0,44 anos (IQR 0,18–0,99).
Maior renda e educação foram associados a diagnósticos mais precoces e melhor sobrevida em 5 anos (p = 0,0013). Os diagnósticos de estágio I foram mais frequentes entre pacientes com ensino superior do que entre aqueles sem escolaridade (18,5% vs. 7,1%, p < 0,001), assim como o início mais rápido do tratamento e melhor sobrevida (p < 0,01). A representação feminina e o uso de imunoterapia aumentaram ao longo do tempo (p < 0,001), enquanto os atrasos no tratamento aumentaram de 22 dias (IQR 7–44) em 2000 para 51 dias (IQR 25–89) em 2015 (p = 0,02). Os casos incidentes aumentaram em ~12% a cada 4 anos. Melhorias modestas na sobrevida mediana foram observadas.
“O status socioeconômico tem grande influência nos resultados do CPCNP no Brasil. Ensino superior e maior renda estão ligados a diagnósticos mais precoces e melhor sobrevida. No entanto, o aumento dos atrasos no tratamento e a demanda crescente ressaltam a necessidade de melhorar a infraestrutura de saúde”, conclui a análise.
Além de Fernanda Malucelli Favorito, o estudo tem participação de Brooke E. Wilson e Fabio Ynoe de Moraes, ambos do departamento de Oncologia da Queen`s University.
Gender, treatment and survival temporal trends for NSCLC
2004–04 (N = 4,163) | 2005–09 (N = 4,732) | 2010–14 (N = 5,132) | 2015–20 (N = 5,802) | p | |
Male (%) | 75.0 | 70.7 | 67.1 | 62.9 | <0.001 |
Female (%) | 25.0 | 29.3 | 22.9 | 37.1 | |
Chemo (%) | 61.7 | 68.4 | 62.0 | 58.0 | |
Radiation (%) | 41.3 | 41.5 | 38.3 | 37.8 | |
Surgery (%) | 17.0 | 17.4 | 19.3 | 16.1 | |
Immuno (%) | 0.05 | 0.13 | 0.37 | 1.29 | |
No treatment (%) | 18.4 | 15.6 | 19.5 | 22.8 | |
Median Survival - years (IQR) | 0.62 (IQR 0.22–1.34) | 0.67 (IQR 0.24–1.49) | 0.67 (IQR 0.23–1.54) | 0.70 (IQR 0.25–1.72) | 0.0026 |
Referências:
112P - The role of socioeconomic status (SES) in non-small cell lung carcinoma (non-adenocarcinoma) outcomes: A two-decade perspective from Brazil
Session Name: Poster Display session (ID 50)
Speaker: Fernanda Malucelli Favorito (Sao Paulo, Brazil)
Date: Fri, 28.03.2025
Time: 13:00 - 13:45
Room: Poster area