Onconews - Diretrizes para radioterapia no câncer de orofaringe

Robson_Ferrigno_NET_OK_2.jpgO rádio-oncologista Robson Ferrigno (foto), Coordenador dos Serviços de Radioterapia da Beneficência Portuguesa de São Paulo, comenta o guia prático da Sociedade Americana de Radioterapia (ASTRO) para o manejo da neoplasia de orofaringe, tipo histológico carcinoma de células escamosas.

Por Robson Ferrigno
 
Recentemente publicado no periódico PRO (Pratical Radiation Oncology), constando ainda como “Article in Press”, o trabalho intitulado Radiation therapy for oropharyngeal squamous cell carcinoma: Executive summary of an ASTRO Evidence-Based Clinical Practice Guideline”é um resumo baseado em evidências e traz informações de muita importância para nortear a estratégia terapêutica dessa enfermidade.
 
O guia foi elaborado através de quatro questões chaves (“Key questions”) e, a partir delas, resume as principais recomendações de forma clara o objetiva.
 
1ª Questão: Quando é apropriado adicionar terapia sistêmica à radioterapia no tratamento do carcinoma de células escamosas da orofaringe (CCEO)?
 
2ª Questão: Quando é apropriado utilizar a radioterapia combinada ou não à terapia sistêmica após tratamento com cirurgia do CCEO?
 
3ª Questão: Quando é apropriado utilizar a quimioterapia de indução no tratamento do CCEO?
 
4ª Questão: Qual o regime de dose, fracionamento e volume de radioterapia apropriado com ou sem terapia sistêmica no tratamento do CCEO?
 
As principais respostas vão de encontro às práticas habituais em nosso meio. Entre as considerações que valem a pena ressaltar estão aausência de evidência do uso de quimioterapia semanal ao invés de quimioterapia intermitente com 100 mg/m2 a cada 21 dias. O guia considera a quimioterapia semanal para pacientes que não tolerariam essa dose. Além disso, os autores não recomendam associar cetuximabe a algum quimioterápico, assim como também não recomendam quimioterapia intra-arterial.
 
De acordo com as recomendações, após a cirurgia a radioterapia deve ser realizada em pacientes de riscos intermediário e alto. A associação com quimioterapia no risco intermediário não deve ser realizada, devendo apenas ser utilizada para os pacientes de alto risco, ou seja, com margens positivas e linfonodos com extensão extracapsular. O guia também não indica o uso de cetuximabe após cirurgia por falta de evidência clínica.
 
Por não aumentar a sobrevida e piorar a toxicidade, as diretrizes não recomendam a quimioterapia de indução.
 
A parte técnica da radioterapia está clara e, como esperado, os autores citam a técnica de IMRT como a mais usual nos EUA pelo fato de diminuir a xerostomia. Em nosso meio, a IMRT para câncer de orofaringe está no rol da ANS, portanto, de cobertura obrigatória por parte dos planos de saúde. Com relação aos pacientes do SUS, que compõem a grande maioria dos pacientes com essa neoplasia, a CONITEC infelizmente rejeitou a incorporação da IMRT para câncer de cabeça e pescoço. Embora não exista evidência de melhora de sobrevida com IMRT, a diminuição de toxicidade é bem clara e isso deveria ser levado em consideração pelos técnicos dessa Comissão.
 
Enfim, esse guia prático da ASTRO vem em boa hora e deve ser uma leitura obrigatória para cirurgiões de cabeça e pescoço, radioterapeutas, oncologistas clínicos e outros profissionais de saúde que lidam com essa doença, muito prevalente em nosso meio.
 
Referência: Radiation therapy for oropharyngeal squamous cell carcinoma: Executive summary of an ASTRO Evidence-Based Clinical Practice Guideline - DOI: http://dx.doi.org/10.1016/j.prro.2017.02.002

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