Onconews - Europa propõe currículo global para a oncologia cirúrgica

felipecoimbra_NET_OK.jpgA edição de junho do Annals of Surgical Oncology traz os resultados de dois estudos que identificaram profundas assimetrias na formação global dos oncologistas cirúrgicos e propõem um currículo global na formação do cirurgião oncológico. O onco-cirurgião Felipe Coimbra (foto), presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO), comenta com exclusividade para o Onconews.

O currículo tem apoio da Sociedade Europeia de Oncologia Cirúrgica e defende a construção de uma força de trabalho treinada nos princípios de cirurgia oncológica para ajudar a enfrentar a crescente carga global do câncer.  

A nova proposta tem argumentos importantes. O estudo europeu sustenta que as variações globais nos paradigmas de formação em oncologia cirúrgica podem ter um efeito negativo no combate à carga global do câncer. Enquanto algumas variações na formação são essenciais para explicar as diferenças epidemiológicas, os princípios fundamentais da prestação de cuidados a um paciente com câncer permanecem os mesmos.  Para os autores, o currículo global foi desenvolvido para incorporar os domínios mínimos necessários, considerados essenciais na formação de um Cirurgião Oncológico, construído de forma modular para permitir flexibilidade e atender às necessidades das diferentes regiões do mundo.

Embora existam várias barreiras ao tratamento do câncer no cenário global, algumas são claramente associadas à formação profissional. O grupo europeu apresentou um relatório sobre os paradigmas de formação em 174 países do mundo, de um total de 211 (82%) e correlacionou a formação à influência da situação econômica. Assim, realidades das seis regiões geográficas foram captadas e estratificadas de acordo com o Índice de Desenvolvimento Humano. Foi a partir dos resultados obtidos que o grupo apresentou a proposta de um currículo para a oncologia cirúrgica, entendido pela sociedade europeia como uma grande diretriz global.
 
Para Felipe Coimbra, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO), esta avaliação do currículo do cirurgião oncológico é fundamental para que as diferentes regiões do mundo possam unificar orientações e produzir diretrizes mínimas para o treinamento e formação do especialista, pois os princípios básicos para a cirurgia do câncer não mudam. "Isso garante ao paciente segurança e qualidade no tratamento recebido. No Brasil, este treinamento se dá através de residência médica especializada em Cirurgia Oncológica, reconhecida pelo MEC e AMB, com duração de 3 anos, onde os cirurgiões, já com formação de cirurgia geral, se dedicam exclusivamente ao tratamento do Câncer", diz o especialista.
 
Felipe acrescenta que, no total, são cerca de 36 residências médicas no país e mais de 110 especialistas formados todo ano. "Durante este período os mesmos têm o aprendizado diário nas diversas áreas da oncologia cirúrgica, mas também trabalham como parte de uma equipe multidisciplinar integrada. Após esta fase inicial, muitos acabam se dedicando a uma área específica da cirurgia oncológica. A proposta vai ao encontro do objetivo da SBCO de fortalecer a formação de cirurgiões oncológicos com uma visão ampla da doença, com capacidade de atender a mais de uma área da oncologia, assim como o aprofundamento em áreas específicas de interesse, com viés forte na educação, pesquisa, produção de guidelines e treinamento de novos cirurgiões", conclui.
 
Referência: Variations in Training of Surgical Oncologists: Proposal for a Global Curriculum - C. Are MD, MBA, FRCS, FACS, A. Caniglia BS, M. Malik BS, C. Cummings RN, PhD, CCMEP, C. Lecoq B.Ed, EMIAM, R. Berman MD, FRCS, R. Audisio MD, FRCS, L. Wyld BMedSci, MBChB (Hons), PhD, FRCS 
 
Global Curriculum in Surgical Oncology
Chandrakanth Are MD, MBA, FRCS, FACS, R. S. Berman MD, FACS, L. Wyld B. Med. Sci. MB. ChB (hons), PhD, FRCS, C. Cummings RN, PhD, CCMEP, C. Lecoq, R. A. Audisio MD, FRCS