A oncologista Alessandra Morelle (foto), médica do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, e membro do Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos (EVA/GBTG), comenta estudo que avaliou a hormonioterapia de manutenção em pacientes com carcinoma seroso de ovário ou peritôneo de baixo grau (estágios clínicos II a IV).
Por Alessandra Morelle
A experiência de uma única instituição com hormonioterapia de manutenção em pacientes de carcinoma seroso de baixo grau de ovário ou peritôneo, estágios clínicos II a IV, foi publicada recentemente no Journal of Clinical Oncology por Gershenson e colegas do MD Anderson Cancer Center. Os resultados mostraram benefício de sobrevida livre de progressão em pacientes após cirurgia citorredutora primária e quimioterapia adjuvante baseada em platinas.
Detalhes do Estudo
Pacientes provenientes do banco de dados da instituição foram selecionadas com os seguintes critérios: carcinoma seroso de ovário ou peritôneo de baixo grau, estágios clínicos de II a IV, cirurgia citorredutora primária, quimioterapia adjuvante baseada em platina e pelo menos 2 anos de seguimento sem recidiva. Foram incluídas 203 pacientes entre 1981 e 2013; 70 pacientes receberam hormonioterapia de manutenção e 133 foram observadas.
Resultados
A sobrevida livre de progressão foi de 64,9 meses para o grupo que recebeu hormonioterapia versus 26,4 meses para o grupo da observação (P < .001). Na análise multivariada (incluindo ano do diagnóstico, idade, sítio primário, grupo e estágio), o hazard ratio (HR) foi de 0.44 (P< .001). A sobrevida global foi de 115.7 meses versus 102 meses, sem significância estatística (HR = 0.84, P = .42).
A sobrevida livre de progressão foi de 81.1 verus 30.0 meses naquelas pacientes livres de doença no término da quimioterapia e 38.1 verus 15.2 naquelas com doença em atividade ao término da quimioterapia adjuvante (P< .001). A sobrevida global foi de 191.3 versus 106.8 meses nas pacientes sem doença no término da quimioterapia adjuvante e 88.3 versus 44.4 meses naquelas com doença persistente ao término da quimioterapia adjuvante (P = .014).
Os autores concluíram que mulheres com carcinoma seroso de baixo grau de ovário ou peritôneo estágios clínicos II a IV, após tratamento inicial com cirurgia e quimioterapia adjuvante, têm sobrevida livre de progressão significativamente melhor utilizando hormonioterapia de manutenção quando comparadas à observação. Estes achados justificam o seguimento da investigação em um estudo prospectivo.
Comentários
Trata-se de uma apresentação rara de câncer de ovário e estudos publicados até então sugerem que possa ser originado após um tumor seroso de baixo potencial de malignidade ou uma apresentação de novo.
Muitas publicações também sugerem relativa resistência à quimioterapia convencional. Similares aos carcinomas de mama de subtipo luminal, estes tumores costumam ter expressão de receptores de estrógeno e progesterona e a terapia hormonal tem benefício clínico em mais de 70% das recidivas.
Os resultados deste estudo são realmente estimulantes para o uso da hormonioterapia de manutenção nesta população. Cabe ressaltar que todas as pacientes realizaram quimioterapia adjuvante baseada em platina. Um novo estudo do mesmo grupo já foi desenhado de forma prospectiva. Será um estudo fase III comparando, nesta população, quimioterapia e observação, quimioterapia e hormonioterapia e um terceiro braço, com hormonioterapia exclusiva.
Referência:David M. Gershenson, Diane C. Bodurka, Robert L. Coleman, Karen H. Lu, Anais Malpica, Charlotte C. Sun. Hormonal Maintenance Therapy for Women With Low-Grade Serous Cancer of the Ovary or Peritoneum. Journal of Clinical Oncology, 2017; JCO.2016.71.063 DOI: 10.1200/JCO.2016.71.0632