Publicado no Lancet Oncology, o estudo TROG 09.02 CHISEL demonstrou a eficácia da radioterapia estereotática corpórea (SBRT) em relação à radioterapia de fracionamento convencional no tratamento do câncer de pulmão inicial clinicamente inoperável. Quem comenta os resultados do trabalho é o radio-oncologista Robson Ferrigno (foto), responsável pelos Serviços de Radioterapia da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo.
Por Robson Ferrigno
Apresentado em 2017 no Congresso Mundial de Pulmão, no Japão, o estudo TROG 09.02 CHISEL acaba de ser publicado no periódico Lancet Oncology (1). O estudo é muito importante porque comprova a maior eficácia da radioterapia estereotática corpórea (SBRT), também conhecida como radioterapia estereotática ablativa (SABR), que utilizada poucas frações de doses altas, em relação à radioterapia de fracionamento convencional no tratamento do câncer de pulmão inicial e inoperável.
O estudo prospectivo e randomizado incluiu 101 pacientes com câncer de pulmão de células não pequenas, estádio I, clinicamente inoperáveis ou que recusaram tratamento cirúrgico, de hospitais da Austrália e da Nova Zelândia. Com randomização 2:1, 66 pacientes foram tratados com técnica SABR (3 frações de 18 Gy ou 4 frações de 12 Gy) e 35 com radioterapia de fracionamento convencional (33 frações de 2 Gy ou 20 frações de 2,5 Gy).
O controle local em 2 anos foi maior no grupo de pacientes tratados com SABR (89% versus 65%; p=0,008), bem como a sobrevida global em 2 anos (77% versus 59%; p=0,027). Não houve diferença de toxidade grau 3 entre os dois grupos e o escore de qualidade de vida foi melhor nos pacientes tratados com técnica SABR. Os autores concluíram que a radioterapia com técnica SABR deve ser o tratamento de escolha para pacientes com câncer de pulmão, estádio I e clinicamente inoperáveis.
Os resultados desse estudo são preliminares, uma vez que o seguimento é curto e o número de pacientes é pequeno. No entanto, apontam para a confirmação de dados já publicados por estudos retrospectivos que a técnica SABR possui índices de controle local melhor do que as técnicas que usam fracionamentos convencionais.
Demonstrar a superioridade do emprego de poucas frações traz vantagens de logística e de qualidade de vida para os pacientes. Para as Instituições que utilizam alta tecnologia, entre elas SABR, esse estudo é um importante argumento para o emprego dessa técnica e para obtenção da cobertura pelas fontes pagadoras que, em algumas situações, condicionam a liberação da SABR aos estudos de fase III.
Referência: Ball D, Mai GT, Vinod S, et al. Stereotactic ablative radiotherapy versus standard radiotherapy in stage 1 non-small-cell lung cancer (TROG 09.02 CHISEL): a phase 3, open-label, randomized controlled trial. Lancet Oncol 2019.