Um estudo sueco já sugeria que o nível de PSA na meia-idade poderia prever o risco de morte por câncer de próstata. Agora, um trabalho realizado pela Harvard Medical School confirma o achado e amplia as evidências. O urologista Lucas Nogueira (foto), da Sociedade Brasileira de Urologia, comenta o estudo e fala da importância de individualizar a indicação e frequência do rastreamento.
Muita controvérsia ainda existe com relação aos méritos do rastreamento do câncer de próstata (CaP). Estudos randomizados a respeito de sua associação com mortalidade por CaP foram realizados, mas todos apresentando problemas relacionados à metodologia e condução, como seguimento curto, resultados conflitantes e o pequeno benefício em termos de taxas absolutas de redução de mortalidade. Esta incerteza quanto aos reais benefícios da prática culminou em uma diminuição de sua utilização na prática médica, principalmente após a equivocada resolução da USPSTF de 2012.
Como esperado, as consequências desta nova diretriz americana começaram a aparecer. Trabalho apresentado no 2015 Genitourinary Cancers Symposium mostrou que após a recomendação houve um aumento de 3% ao ano no diagnóstico de tumores de risco intermediário e alto risco.(7) Outra publicação recente mostrou redução no número de diagnóstico de tumores agressivos, o que cria preocupação de que o diagnóstico atrasado em casos importantes de câncer de próstata pode representar pior resultado oncológico no futuro.(8)
Toda esta discussão nos mostra que o rastreamento universal de toda população masculina (sem considerar idade, raça e história familiar) não parece ser a melhor abordagem. Individualizar a abordagem é fundamental neste sentido.
A identificação de pacientes com alto risco de desenvolverem a doença de uma forma mais agressiva através de parâmetros clínicos ou laboratoriais pode nos ajudar a individualizar a indicação e frequência do rastreamento. Além de idade, raça e história familiar, uma abordagem ótima de rastreamento envolve a dosagem precoce de PSA, intervalos de triagem individualizadas, a utilização de marcadores de maior especificidade, utilizando uma abordagem multivariada, adaptada ao risco individual.
Utilizando dados do “Physicians Health Study”, pesquisadores da Universidade de Harvard demonstraram que o risco do desenvolvimento da doença letal é 8.7 (40-49 anos) , 12.6 (50-55 anos) e 6.9 (55-59 anos) maior em homens com níveis de PSA acima do percentil 90 do grupo em comparação com aqueles com níveis abaixo da mediana (0.68, 0.88 e 0.96, respectivamente).
Desta forma, este estudo recentemente publicado reforça o papel do PSA em idades mais precoces na predição do risco do desenvolvimento de doença agressiva, auxiliando ainda mais na identificação dos indivíduos onde seria aconselhável a realização de rastreamento periódico.
Leia mais: PSA e risco de câncer de próstata