Especialistas da Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP) apontam os trabalhos que marcaram o ano na especialidade.
Daniel Forte, André Filipe Junqueira dos Santos e Carlos Eduardo Paiva
A American Society of Clinical Oncology (ASCO) convocou um painel de especialistas para sintetizaras melhores evidências publicadas entre 2012 e 2016 sobre cuidados paliativos. Foram selecionados quinze artigos e com base nestas evidências a ASCO recomendou1 que o padrão de atendimento para pacientes com câncer avançado seja integrado a um serviço dedicado de cuidados paliativos, de forma precoce e concomitante ao tratamento oncológico. O ideal é uma equipe multidisciplinar, em regime ambulatorial ou hospitalar.
Também em 2016 foi publicada metanálise2 de 43 ensaios clínicos randomizados (12.731 pacientes, 2.479 cuidadores) que avaliou o impacto do cuidado paliativo em alguns desfechos clínicos em pacientes com doenças ameaçadoras da vida e seus cuidadores. A qualidade de vida e os sintomas melhoraram significativamente, tanto do ponto de vista clínico, quanto estatístico. Quando apenas estudos com baixo risco de viés foram analisados, o benefício foi menor, embora ainda estatisticamente significativo. Não foi observada associação entre cuidados paliativos e sobrevida. Em relação aos cuidadores, os resultados foram inconsistentes.
Outro trabalho importante procurou investigar a melhor maneira de tratar a dor moderada do câncer: com um opioide fraco ou uma dose baixa de um opioide forte? Estudo3 prospectivo randomizado comparou opioides fracos com doses baixas de morfina em pacientes com câncer com dor moderada (ESAS 4 a 6). Entre 240 pacientes, 122 (50,8%) receberam opioide fraco e 118 (49,2%) morfina oral em baixa dose. Em 28 dias a dose baixa de morfina reduziu a dor melhor do que um opioide fraco. Não foram observadas diferenças nos efeitos colaterais entre os grupos. O trabalho concluiu que na dor oncológica moderada, morfina em baixa dose proporcionou um alívio da dor mais rápido em comparação com opioides fracos.
Para avaliar o impacto de monitorar sintomas em pacientes oncológicos, foi realizado estudo4 prospectivo randomizado não-cego, com pacientes com câncer metastático em quimioterapia ambulatorial. A intervenção consistia em oferecer ao paciente um tablet com um programa em que o próprio paciente respondia sobre a intensidade de 12 sintomas. Antes da consulta, os oncologistas recebiam um relatório impresso da avaliação dos sintomas, e enfermeiros recebiam alertas por e-mail quando os sintomas eram intensos. Em 766 pacientes estudados, foi observada uma melhora significativa de qualidade de vida, redução de visitas ao pronto-socorro e necessidade de internaçãoe aumento de sobrevida. O impacto foi maior nos pacientes que não estavam habituados a usar computador.
Referências
1 - Ferrell BR,ET AL. Integration of Palliative Care Into Standard Oncology Care: American Society of Clinical Oncology Clinical Practice Guideline Update.JClinOncol. Epub 2016 Oct 28.
2 - Kavalieratos D, Corbelli J, Zhang D, et al. Association Between Palliative Care and Patient and Caregiver Outcomes A Systematic Review and Meta-analysis. JAMA. 2016 Nov 22;316(20):2104-2114
3 - Bandieri E, Romero M, Ripamonti CI, et al. Randomized trial of low-dose morphine versus weak opioids in moderate cancer pain. J ClinOncol. 2016;34(5):436-442.
4 - Basch E, Deal AM, Kris MG, et al. Symptom Monitoring With Patient-Reported Outcomes During Routine Cancer Treatment: A Randomized Controlled Trial. J ClinOncol 2016 feb; 34(6): 557-65.