Programa não vai repor nem a metade das nossas necessidades, critica a Sociedade Brasileira de Radioterapia. Para cumprir a recomendação da OMS, precisaríamos ter 680 aparelhos. Temos 357, diz SBRT.
Na radioterapia, nada mudou. Nem os marcos legais da oncologia, nem mesmo as críticas do TCU em 2010 tiveram na prática qualquer efeito até hoje. “O cenário atual da radioterapia realmente preocupa”, afirma Eduardo Weltman, presidente da Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT).
A Organização Mundial da Saúde preconiza um aparelho para cada 250 mil a 300 mil habitantes. Basta considerar que entre 204 milhões de habitantes no Brasil são estimados 540 mil casos de câncer, sendo que 60% desses pacientes vão precisar de radioterapia em alguma fase do tratamento.
“Para cumprir a recomendação da OMS, precisaríamos ter 680 aparelhos no Brasil. Hoje, nós temos 357 aparelhos distribuídos pelo Brasil, independentemente de serem dedicados ao SUS, convênios ou pacientes privados”, dimensiona Weltman, que alerta para os profundos contrastes da realidade brasileira. “Temos ainda uma grande desigualdade regional na distribuição. A região sudeste é a que chega mais próximo do número ideal, com 75% do desejável. A situação piora no nordeste do país (30%) e no norte (15%)”, diz.
Lentidão
O plano brasileiro de expansão da radioterapia é certamente um dos mais ousados do mundo e poderia ajudar a mudar esse cenário. Difícil é sair do papel. O programa prevê a compra centralizada de 80 equipamentos radioterápicos: 36 deles destinados à ampliação de serviços e 44 à criação de novos centros de radioterapia, em 23 unidades da federação, alcançando 65 municípios. Mas de concreto, apenas três obras foram iniciadas para a construção de bunkers, um no Hospital da Fundação Hospitalar Assistencial da Paraíba (FAP), outro no Hospital Dom Pedro de Alcântara, em Feira de Santana, na Bahia, e o terceiro no Hospital da Fundação Hospitalar Estadual do Acre, em Rio Branco.
Pelo acordo do governo firmado com a norte-americana Varian, o plano de expansão da radioterapia no SUS prevê também a construção, em Jundiaí (SP), da primeira fábrica para soluções de radioterapia da América Latina. A previsão é de que a unidade inicie suas atividades em dezembro de 2018. “O acordo dará ao Brasil maior autonomia nesta área estratégica para a saúde em relação ao mercado internacional”, diz o Ministério da Saúde.
Para Weltman, o programa é louvável, mas insuficiente, porque não vai repor nem a metade das nossas necessidades. “Além disso, é lento demais. Até o final do ano, se tudo der certo, teremos um aparelho instalado. No começo do ano que vem, mais três. Até o final de 2016 teremos 20 aparelhos instalados. Ou seja, em três anos e meio vamos ter um quarto do programa realizado”, lamenta. O especialista ressalta ainda que a parte mais complicada começa depois, com e estruturação de serviços em lugares onde não há nenhum tipo de assistência.
“Esses equipamentos iniciais são para serviços que já estão estruturados. Se já está difícil assim, imagina para montar serviços novos?”, questiona.
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