Apesar das evidências de eficácia, não existe no país um programa de rastreamento populacional estruturado do câncer colorretal.
Um projeto piloto coordenado pela Fundação Oncocentro, em São Paulo, busca avaliar a viabilidade do rastreamento de câncer colorretal através da pesquisa de sangue oculto nas fezes no sistema público de saúde.
Apesar de ser reconhecidamente um dos tumores onde estratégias de rastreamento contribuem para reduzir a mortalidade e incidência da doença, a aplicação do rastreio populacional nem sempre é viável.
Em tese, a colonoscopia é melhor, mas sua implantação como estratégia de rastreamento é mais complicada. O método de maior adesão é a pesquisa de sangue oculto nas fezes.
A recomendação da US Preventive Services Task Force (USPTF)1, atualizada em junho de 2016, não estabelece qual o método mais indicado.
“Não existem evidências claras sobre a superioridade de um método em relação a outro”, explica o epidemiologista José Eluf, diretor-presidente da Fundação Oncocentro e responsável pelo projeto piloto, que utiliza o teste fecal imunoquímico (FIT). Entre as vantagens do FIT estão ausência de restrição de dieta, maior aderência, possibilidade de apenas uma amostra, e maior sensibilidade e especificidade.
O estudo
O universo pesquisado é a zona leste da capital paulista, onde agentes do Programa Saúde da Família (PSF) estão recrutando moradores entre 50 e 75 anos para o estudo. “Por enquanto, os resultados são muito semelhantes aos achados de outros estudos. Nós já examinamos 4496 pessoas com o FIT, e tivemos 7,4% (331 pessoas) com exame positivo, que precisaram ser encaminhadas para colonoscopia”, diz Eluf.
Aí entra outro desafio: como garantir a colonoscopia para essa população? Até o momento, das 331 pessoas com indicação, 101 indivíduos fizeram o exame, e em 70 (69,3%) foi detectado adenoma ou carcinoma. “O principal gargalo está na colonoscopia. O número de colonoscópios e de médicos capacitados na rede pública é muito insuficiente. Antes de implantar o rastreamento sistemático é necessário capacitar, contratar e estimular a formação de colonoscopistas, além de comprar equipamentos” diz Eluf.
Recomendações
Tanto a USPTF quanto o projeto liderado por Eluf estabelecem o rastreamento para pessoas assintomáticas entre 50 e 75 anos de idade. Pessoas com casos de câncer colorretal em parentes de primeiro grau devem iniciar o rastreamento por colonoscopia dez anos antes da idade que tinha o familiar quando diagnosticado.
Portadores de doenças inflamatórias do intestino ou doenças hereditárias como Síndrome de Lynch também devem iniciar o rastreamento prematuramente, com colonoscopia realizada anualmente ou a cada dois anos.
Referências:
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