Onconews - 9ª classificação TNM para câncer de nasofaringe melhora precisão prognóstica e aplicação clínica

Aline Chaves (foto), oncologista do grupo DOM Oncologia, comenta o sistema tumor-nódulo-metástase (TNM) do American Joint Committee on Cancer (AJCC)/Union for International Cancer Control (UICC). O TNM é a linguagem global para clínicos, pesquisadores e registros de câncer. Resultados de estudo de Jian-Ji Pan e colegas publicado no Jama Oncology sugerem que a nona versão da classificação TNM para câncer de nasofaringe fornece um sistema de estadiamento aprimorado para aplicação global e uma estrutura para futura incorporação de fatores não anatômicos. A nona versão do AJCC/UICC (TNM-9) será lançada para aplicação global em janeiro de 2025.

tmn naso grafico

O estadiamento preciso é uma etapa fundamental no tratamento de pacientes com carcinoma de nasofaringe (NPC) em todo o mundo. Neste estudo multicêntrico, o objetivo dos pesquisadores foi melhorar a precisão prognóstica e a aplicabilidade clínica da atual classificação TNM para NPC.

Foram inscritos pacientes com NPC com características tumorais detalhadas em janeiro de 2014 e dezembro de 2015, revisadas por radiologistas experientes. A análise de dados foi concluída em dezembro de 2023 e os achados foram confirmados com validação interna e externa. Painéis multidisciplinares de cabeça e pescoço do AJCC/UICC revisaram dados estatísticos, assim como as considerações clínicas, e obtiveram consenso. As recomendações foram avaliadas pelo Comitê de Medicina Baseada em Evidências do AJCC antes do endosso final da nona versão (TNM-9). O endpoint primário foi a sobrevida global. As taxas de risco ajustadas de diferentes subgrupos foram avaliadas para confirmação do agrupamento ideal de estágios.

Os autores descrevem que dos 4914 pacientes analisados, 1264 (25,7%) eram mulheres e 3650 (74,3%) eram homens; a idade mediana (DP) foi de 48,1 (12,0) anos.

Os resultados mostram que a extensão extranodal radiológica avançada (com envolvimento de músculos adjacentes, pele e/ou feixes neurovasculares) foi identificada como um fator adverso independente para todos os endpoints e adicionada como um critério para N3. Pacientes com doença não metastática foram reagrupados em estágios I a III em vez de estágios I a IVA do TNM-8.  A análise mostrou que a discriminação significativa de risco foi alcançada agrupando T1-2N0-1 como estágio I, T3/N2 como estágio II e T4/N3 como estágio III. Os autores descrevem que, embora os subgrupos T1-2N0-1 tivessem sobrevida global comparável de 5 anos, subdivisões em IA (T1-T2N0) e IB (T1-T2N1) foram recomendadas diante da distinção nas taxas de risco após o ajuste para uso de quimioterapia. A doença metastática foi classificada exclusivamente como estágio IV e o prognóstico foi ainda mais refinado pela subdivisão em IVA (M1a, ≤3 lesões) e IVB (M1b, >3 lesões).

“O TNM-9 é superior ao TNM-8 nos principais aspectos estatísticos, incluindo discriminação de risco, consistência, precisão de previsão de resultados e distribuição balanceada”, destacam os autores.

A nona versão do estadiamento TNM AJCC/UICC será lançada para aplicação global em janeiro de 2025 e deve fornecer uma estrutura fundamental para clínicos na tomada de decisões de tratamento, pesquisadores no design de ensaios futuros e registros de câncer para estudos epidemiológicos. Com base nessa versão, o grupo de trabalho prossegue explorando a viabilidade de incorporar fatores prognósticos não anatômicos (particularmente EBV-DNA) em direção à meta ideal de prognóstico de precisão com estratificação de risco personalizada.

“O estadiamento também é uma questão de saúde pública porque há uma demanda crescente por dados não apenas sobre incidência e mortalidade geral, mas também sobre a distribuição de estágios e sobrevida relativa, para formular um plano estratégico de controle do câncer”, sublinha a publicação.

A íntegra do artigo original está disponível no JAMA Oncology em acesso aberto.

O estudo em contexto
Por Aline Lauda Chaves, oncologista do Grupo DOM Oncologia

Apesar de retrospectivo, esse estudo mostrou-se robusto em demonstrar uma melhora da classificação de risco e prognóstico dos pacientes com câncer de nasofaringe. A partir de 2025, teremos então a nova AJCC 9ª edição para estes tumores - apresentando uma reclassificação do estágio I a III para doença localizada, doença metastática estádio  IV (exclusivo), ao mesmo tempo em que adiciona extensão extranodal radiológica como critério para N3. Apesar já ter demonstrado sua importância no prognóstico, a carga viral do EBV ainda não foi incluída no estadiamento, o que possivelmente  mudará isso no futuro, principalmente quando os testes diagnósticos forem padronizados no nosso meio.

Referência:

Pan J, Mai H, Ng WT, et al. Ninth Version of the AJCC and UICC Nasopharyngeal Cancer TNM Staging Classification. JAMA Oncol. Published online October 10, 2024. doi:10.1001/jamaoncol.2024.4354