Onconews - Educação médica em oncologia geriátrica e o desafio global do controle do câncer

O envelhecimento populacional representa um desafio importante para o controle global do câncer, já que mais da metade dos novos casos de câncer ocorre em adultos mais velhos. Um programa de desenvolvimento profissional para oncologistas e geriatras, com foco na avaliação geriátrica, se demonstrou viável, levando a um aumento do conhecimento, das competências e do desempenho profissional em oncologia geriátrica. “Isso pode representar um novo método para aumentar a competência geriátrica da força de trabalho no tratamento do câncer na América Latina e globalmente”, analisam os autores, em artigo no JCO Global Oncology.

O número de idosos dobrou nas últimas quatro décadas e a expectativa é de que esse aumento continue a ocorrer, principalmente em países de baixa e média renda. Uma intervenção realizada no México, que incluiu oncologistas e geriatras, aplicou o modelo curricular do ProjectExtension for Community Healthcare Outcome (ECHO) para criar um curso on-line de 12 semanas. Neste artigo, os autores detalham a iniciativa e os resultados alcançados.

Para avaliar a eficácia da intervenção, os participantes responderam a uma avaliação de conhecimento de múltipla escolha, uma pesquisa sobre competência autopercebida em avaliação geriátrica e uma adaptação da Ferramenta de Avaliação de Lacunas de Oncologia Geriátrica da Association for Community Cancer Centers, para capturar o desempenho autopercebido na condução de intervenções geriátricas. Essas avaliações e um questionário de satisfação também foram concluídos após a intervenção. Os escores de linha de base e pós-intervenção foram comparados usando testes t pareados.

Os resultados relatados no JCO Global Oncology revelam que a intervenção incluiu 40 participantes (20 oncologistas e 20 geriatras). A frequência média foi de 10 sessões (intervalo de 2 a 12). Os autores descrevem que 38 participantes completaram o questionário de satisfação, com uma pontuação média de 10/10 (intervalo de 8 a 10). Os escores médios de conhecimento de linha de base e pós-intervenção foram 59,5 ± 12,8 e 74,4 ± 9,7, respectivamente (P < 0,001, tamanho do efeito 1,14). Os escores médios de competência de linha de base e pós-intervenção foram 6,42 ± 2,5 e 9,02 ± 0,8, respectivamente (P < 0,001, tamanho do efeito 1,03). As pontuações médias de desempenho inicial e pós-intervenção foram 2,58 ± 0,65 e 3,29 ± 0,5, respectivamente (P < 0,001, tamanho do efeito 1,64).

Em síntese, essa atividade de desenvolvimento profissional contínuo para oncologistas e geriatras com base no modelo do Projeto ECHO foi viável e promoveu um aumento do conhecimento, das competências e do desempenho em oncologia geriátrica.

A análise destaca que a avaliação geriátrica (AG) é um componente essencial do atendimento de alta qualidade para pacientes idosos e consiste em ferramentas validadas que avaliam domínios associados à mortalidade e resultados adversos. “Além disso, o gerenciamento guiado por AG leva à diminuição da toxicidade relacionada à quimioterapia sem um efeito prejudicial na sobrevida, melhora da qualidade de vida, maior conclusão de diretivas antecipadas e melhorias na satisfação do cuidador em relação à comunicação sobre preocupações relacionadas ao envelhecimento”, ilustra a publicação. No entanto, a implementação da AG ainda não é uma realidade no atendimento oncológico de rotina. Pesquisa internacional revelou que 53% dos provedores de cuidados em câncer entrevistados desconheciam as diretrizes da ASCO para oncologia geriátrica e, portanto, eram menos propensos a realizar uma AG multidimensional usando ferramentas validadas.

Referência:

Haydee C. Verduzco-Aguirre et al., Development and Implementation of a Geriatric Oncology Interdisciplinary Case–Based Educational Intervention for Cancer Care Providers. JCO Glob Oncol 10, e2400258(2024). DOI:10.1200/GO-24-00258