O momento continua bastante desafiador para todo o setor de Saúde em 2024, mas o segmento de oncologia mais uma vez apresentou bons resultados e crescimento de dois dígitos no primeiro trimestre de 2024, apesar da tendência de desaceleração. Às vésperas de conhecer os próximos resultados trimestrais de grupos como rede D’Or, DASA e Oncoclínicas, Onconews apresenta um balanço dos principais players e mostra o que esperar da consolidação do setor.
Um cenário complexo pavimenta o caminho para fusões e aquisições na Saúde brasileira. O objetivo é enfrentar o aumento dos custos, grandes disparidades regionais na oferta de serviços e, principalmente, os desafios de um panorama epidemiológico que já pressiona os modelos de assistência. No jogo de consolidação do setor, grandes grupos marcam posição, enquanto áreas estratégicas, como a oncologia, aquecem a disputa. Players como DASA, Oncoclínicas e Rede D’Or protagonizam transações bilionárias em mais uma onda de expansão do setor.
Em junho, o acordo com a Amil reforçou a posição da DASA na vice-liderança da assistência médico-hospitalar, somando agora 4,4 mil leitos em 25 hospitais e centros de oncologia, atrás apenas da Rede D’Or, hoje com 11.737 leitos totais e a maior rede integrada de tratamento oncológico do país.
Com sua história vinculada à medicina diagnóstica, a DASA, antes conhecida como Laboratório Clínico Delboni Auriemo, anunciou a integração de todas as suas marcas em 2017. E ao lado de um rebranding que integrou ativos fixos de hospitais e laboratórios, a DASA protagonizou também a integração de suas plataformas digitais. Hoje, opera com a plataforma Nav, que reúne mais de 4 bilhões de registros de dados clínicos.
Mas a expansão custou caro. A DASA acumulou uma dívida bilionária e mesmo com o fôlego redobrado pela operação com a Amil, a desalavancagem não vai se dar do dia para a noite. Na expectativa de retomar a saúde financeira, a DASA transferiu R$ 3,85 bilhões em dívidas na constituição da joint venture, onde detém 50% de participação.
A Rede D’Or começou o ano com motivos de sobra para comemorar, alcançando R$7,4 bilhões - o recorde histórico de maior faturamento trimestral. A oncologia teve participação importante nesses resultados, com aumento de 13,7% na receita bruta (infusões) na comparação com o mesmo período de 2023. A expectativa dos analistas é positiva e tudo indica que a Rede D’Or deve fechar mais um trimestre de bons resultados.
A já anunciada perda dos ativos do Copa D'Or, Quinta D'Or e do hospital pediátrico Jutta, no Rio de Janeiro, descredenciados depois da aliança da DASA com a Amil, não deve impactar o balanço. “A visão sobre a Rede D’Or permanece intacta. Esperamos resultados sólidos no segundo trimestre”, destaca análise do BTG Pactual.
A Oncoclínicas se apresenta como a maior companhia exclusivamente dedicada ao tratamento do câncer no Brasil, o que em números se traduz em uma rede com 133 unidades de tratamento (incluindo 6 centros de câncer) em 35 cidades, além da atuação de mais de 2,7 mil especialistas em câncer, com cerca de 653 mil procedimentos realizados até o primeiro trimestre de 2024. Os resultados operacionais situam a Oncoclínicas com 8% de market share, em um modelo que tem planos bem definidos para expandir participação de mercado. No primeiro balanço trimestral, abriu 2024 com aumento de 16,1% na receita bruta, alcançando R$ 1,6 bilhão. A receita líquida também cresceu 12,8% de janeiro a março, chegando a R$ 1,45 bilhão, impulsionada principalmente pelo aumento do volume de tratamentos.
Em julho, a Oncoclínicas anunciou a conclusão do aumento de capital para fortalecer sua estratégia de crescimento. A empresa emitiu 115,3 milhões de ações, totalizando aumento de capital privado de R$ 1,5 bilhão realizado pelo Banco Master (R$ 1 bilhão) e por seu CEO e fundador, o oncologista Bruno Ferrari (R$ 500 milhões). Com a injeção de R$ 1,5 bilhão, a Oncoclínicas reduziu sua alavancagem em 2,4 vezes e viu mudar a posição dos acionistas. O Goldman Sachs não participou da transação e caiu de 45% para 37% de participação; o Banco Master passou a deter 12% (cerca de 20% considerando a posição em um fundo chamado WNT), tornando-se o segundo maior acionista, enquanto a participação de Bruno Ferrari aumentou para 8,5% (vs. 3,7% antes do acordo).
“Os aumentos de capital devem trazer mais alívio aos balanços da Oncoclínicas e da DASA, mas seu consumo de caixa e endividamento continuam preocupantes”, sinalizam os analistas do BTG Pactual.
A movimentação dos grandes players do setor tem como pano de fundo a tão esperada carga do câncer. Estimativas indicam que o número de pacientes afetados pelo câncer aumentará drasticamente em todas as regiões do mundo até 2050, particularmente em países de baixa renda. Imagine o contexto brasileiro, um país de dimensões continentais onde a curva do envelhecimento já transforma o panorama epidemiológico e projeta o câncer como primeira causa de morte em 606 municípios do País. Junte-se a isso o custo da inovação, um conhecido gargalo que limita o acesso e faz crescer a pressão sobre as fontes pagadoras. Fica fácil entender por que é tão estratégico ganhar escala e reduzir custos operacionais.
As gigantes do setor, em números
Fundada em 1977 no Rio de Janeiro como Cardiolab, pelo cardiologista Jorge Moll Filho, a Rede D’Or tem presença hoje em 12 estados brasileiros e no Distrito Federal, somando 70 hospitais próprios em operação, 3 hospitais administrados e 55 clínicas oncológicas em 9 estados (Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco, Sergipe, Maranhão, Ceará, Bahia, Paraná, Paraíba) e no Distrito Federal. Até 2027, a rede pretende incorporar mais 5,2 leitos.
A Oncoclínicas é a sociedade holding do grupo Oncoclínicas, controlado indiretamente pelo Broad Street Principal Investments, plataforma de investimentos do The Goldman Sachs Group. Ganhou capilaridade desde sua fundação na capital mineira, em 2010, hoje com 145 unidades, em 39 cidades brasileiras. Em 2014, a aliança com o Dana Farber Cancer Institute para educação e pesquisa foi outro marco importante, em um movimento de internacionalização que avançou com a aquisição da empresa de bioinformática Boston Lighthouse Innovation, em 2019, e com a compra da espanhola MedSir, em 2022, dedicada à pesquisa clínica em câncer.
A DASA, da família Godoy Bueno, reforça a segunda posição no ranking dos maiores grupos privados de assistência médico-hospitalar. Na área de medicina diagnóstica, a companhia possui mais 900 unidades em 50 marcas de medicina diagnóstica espalhadas pelo Brasil, além de operações na Argentina e Uruguai. Agora, soma os 14 hospitais da Dasa aos 11 da rede Americas graças à parceria com a Amil. A operação inclui Dasa Oncologia, Americas Oncologia (COI) e os Centros de Medicina Especializada.